terça-feira, 30 de julho de 2013


Lobisomem? Também temos!




A história do Lobisomem de Jacareí

 Início do século.
Jacareí era uma pequena cidade perdida no Vale do Paraíba.
Em meio ao enfado da vida demasiadamente calma, do imaginário popular brotavam causos que, no boca a boca, percorriam o lugar e tornavam-se alvo de muitos comentários e discussões.
Com que então, o Lobisomem tornara a aparecer lá pros lados do São João?
“Mas, é verdade, cumadre? E como sabe que era mesmo o Cão?”
“Pois eu vou lhe contar. Eu já andava desconfiada... em todo dia de primeira lua cheia, as minha galinha dava de diminuí. Eu saía caçando pra lá, chamando pra cá...e nada delas aparecê!
Até que, na terça feira, contando de hoje pra trás, dá quinze dia, o Veludo farejou alguma coisa lá no mato e começou a latir. Latia, latia que não parava mais! Eu inté achei que ele tinha achado um furão e fui espiá. E não é que lá pros meio do bambuzal achei uns pedaço da minha carijó, só pena e osso?”
“Mas cumadre, pode ter sido uma raposa, ou inté um cachorro mal acostumado.”
“Pois sei que o meu Veludo havia de deixar cachorro de vizinho chegar perto! “
“Foi ele, o tar do lobisome, mas eu vou entocaiá ele e pego esse coisa ruim! Ah se pego!”
“Cruz em credo, cumadre, deixa disso...Afinal o que são umas galinha pra quem tá com o terreiro cheio delas?”
“Terreiro cheio... maizi são minha!"
 “Eu cuido, não cuido? Dô inté dado pra quem vier com precisão, mas deixa o Cão leva, ah...não deixo memo!”
Logo, logo, chegou outra lua cheia, e nossa comadre foi lá pros lado do galinheiro, armada com um bastão e seu fiel companheiro, o vira-lata Veludo. Esperaram e esperaram até o sol começar a surgir por trás do morro, em vão. Aquela noite as galinhas dormiram sossegadas.
Quando foi dez horas, chega em sua casa, esbaforida, a comadre Joana, que morava a meia légua de distância.
“Comadre, comadre, minhas galinhas se foram. À noite eu ouvi um barulhão no galinheiro, me alevantei e quando cheguei no quintal vi um bichão esquisito, meio lobo, uns pelo ralo, a boca cheia de pena... daí ele olhou pra mim, eu olhei pra ele, ele olhou pra mim com aquele zoião vermelho e arreganhou uns dente com um brilho amarelo na boca... Eu me assustei tanto que corri de volta pra casa, com medo dele me avança!”
“Ah! Então o danado foi andá, mais foi no seu terreiro essa noite!” Bem dizem os antigo que o lobisome corre sete bairro quando se transforma!...”
“Nói precisa de mais gente pra pegá ele! Vou combiná cos meu cumpadre pra todo mundo ficá esperto na próxima lua...
E assim foi. Armados de paus, pedras, cordas, os vizinhos se ajeitaram no mato para a captura do Cão, na nova lua cheia. Mas o bicho parece que farejava as notícias, e não apareceu.
Intrigada, dona Dita, foi se aconselhar com moradores mais antigos da cidade.
“Ôceis são tudo é bobo!”, falou a mais velha de todas. Pois eu vou dizê proceis que esse Tar é gente do bairro mesmo que vira o cão. Assim, ele fica conhecendo suas cumbinação e, desconfiado, num aparece!”
“Gente do bairro? Mais nóis conhece todo mundo adeisde que nasceu...Cumé qui pode sê arguém de nosso trato?”
“Pois eu lhe digo que é, e vai ser fácil de descobrir. A hora que ôceis depará com ele, olha bem nos olho do bicho e promete que, de manhã, se ele for na casa docêis, oceis vão dar sal pra ele . “Mai...Dar sal? Porque sal? “ “É porque o sal corta o feitiço...”
Dona Benedita voltou pra casa, contando os dias que faltavam pra lua cheia, e desta vez, não abriu o bico pra ninguém. Anoiteceu e uma lua imensa iluminou o céu e o terreiro. Parecia até que tinha um lampião gigante no meio do galinheiro, e ela lá, encolhidinha no meio das galinhas. E eis que o tar surge , vindo do mato. E ela ali, vendo tudo, sem se mexer. Aproveitou e olhou bem o dito cujo: mas era feio demais, e como fedia! E era muito maior que qualquer cachorro que ela conheceu. E suas patas eram reviradas pra dentro, em vez de ser pra fora. As galinhas logo se puseram em polvorosa e quando o bichão foi abocanhar logo duas de uma vez, viu a dona Benedita, que olhou firme nos seus olhos e não arredou o pé de onde estava. O olhar do bicho lhe deu pena... então ela se levantou e disse: “Olha aqui, ocê larga as minha galinha e vai lá em casa amanhã de manhã, que eu vou lhe dáum bocado de sal...e o bicho saiu correndo!
Aí, no dia seguinte, apareceu um compadre seu, bem cedinho, na sua casa.
“O compadre, você por aquí? Já na rua tão cedo?"
“ É que eu vim buscar o que ocê me prometeu ontem: o meu sal!”
Dona Ditinha quase caiu pra trás de tanto susto que levou. Não era possível uma coisa daquelas. Ele não! Ele era seu vizinho a vida toda, seu compadre muito estimado e um homem muito conhecido e respeitado por todos na cidade!
Mas...foi lá, entrou na cozinha, apanhou meio saco de sal e trouxe pro homem, que foi embora sem nem agradecer!
“É que ele ficou morrendo de ódio que eu desmascarei ele.”
“Assim, inté hoje nóis vive na santa páis, sem o cão comendo nossas galinhas.”
“O nome dele? Ah, eu sei, mas num posso contá! A Senhora não havia de acreditá mermo...então ficamos assim!”

 

3 comentários:

  1. Entocaia o bicho e num isquece das bala di prata.
    KkKkKkKkKkKkKkKk
    Gostei do texto... pra mais de metro.

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  2. Parabéns!!! Está lindo esse blog mulher. Muito agradecida em compartilhar. Um abração :)

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  3. Adorei, nada como uma história bem contada! Parabéns, mestra!

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