segunda-feira, 12 de agosto de 2013


As primeiras Vilas

 
Mapa de  1776, indicando a Villa de Jacarehy

 “O surgimento das vilas, no Brasil, percorreu o caminho das determinações legais, do acaso, da aventura e das necessidades. O caminho para o interior, para o sertão, sucedeu, numa linha natural, o da ocupação litorânea. O litoral foi a base prudente para ganhar o desconhecido. A aventura de escalar a Serrado Mar, vencido com o sacrifício da conquista de quem subiu se arrastando, de “gatinhas”, foi uma segunda fase.” (Lencioni, B.S.1994)


A ocupação desse território, que era um imenso matagal, cortado por rios e delimitado por serras; uma terra desconhecida e selvagem, aconteceu de forma bastante árdua e lenta. Em primeiro lugar, os primitivos caminhos levaram nossos desbravadores ao litoral, depois iniciou-se a complicada conquistado sertão. Antes que terminasse o século XVI, a capitania de São Vicente já estava mergulhada em profunda decadência.  O solo pobre, e o limite imposto pela serra do Mar, além da distância da metrópole, inviabilizaram a economia açucareira que ali se instalara. Assim, parte da população de São Vicente abandonou o litoral, buscando outras alternativas de sustento. Os colonizadores, então, foram impulsionados a buscar novas terras, partindo para o sertão, à procura, também, das pedras preciosas tão alardeadas pelos descobridores. Podemos imaginar o que esses homens, que nos são apresentados sempre de longas botas, chapelão, mosquete, alfanje e gibão enfrentaram, sob o sol inclemente, sob as chuvas torrenciais, transportando mantimentos e ferramentas em lombo de burros, abrindo picadas a facão, machado e foice.

Sua arma de defesa e ataque era o arcabuz, espingarda carregada pela boca, que disparava pequenas bolas de ferro, e, na falta delas, pedras e pedregulhos. Para se alimentar, eles caçavam, pescavam e coletavam frutas. A comida era preparada em fogueiras, tendo como item básico a farinha de mandioca cozida.
Burros e canoas eram o principal meio de transporte. As redes estendidas entre os troncos das árvores, o seu local de descanso. Durante suas longas viagens, os mantimentos muitas vezes acabavam, então eles eram obrigados a montar acampamentos para se reabastecer. Desses acampamentos surgiram os pequenos arraiais que depois se tornaram vilas e, mais tarde, cidades. Nesses arraiais, segundo os escritos de José de Alcântara Machado(2006)as casas eram de um pavimento único, composto  de parede de taipa de pilão e telhado de sapê, algumas vezes substituído por telhas de barro rustico. A mobília constituía-se por uma mesa, candeeiro, uma arca/baú e rede para dormir. As camas, em princípio, vinham de Portugal a um custo muito elevado para as famílias. As panelas eram de barro ou de ferro. Possuíam ainda uma tamboladeira (vasilha), pratos de barro, caneca e moringa para água. Inexistiam os talheres. Comia-se com as mãos. A dieta alimentar era composta por raízes e seus derivados: mandioca, cará e farinha de mandioca ; cereais e seus derivados: milho, canjica e farinha de milho e frutas como banana, abacaxi e maracujá. A carne era de peixe, porco, paca, capivara, tartaruga, anta, tatú, veado e carne seca. Havia o costume de se alimentar, também, com ovos de jabuti e com içá (formiga) torrada com farinha. O povoamento da região valeparaibana ocorreu em virtude da expansão colonizadora dos habitantes da Vila de São Paulo de Piratininga, seguindo as normas da administração colonial que regulamentavam a concessão de terras por intermédio das sesmarias .Estimular a produção  era patente no seu estatuto jurídico.
Assim nasceram a vila de Mogi das Cruzes ( 1611)  Taubaté (1645) a Vila de Guaratinguetá (1651) e a Vila de Nossa Senhora da Conceição da Paraíba (1652) fundada, segundo alguns documentos, por Antônio Afonso e seus filhos: Francisco, Estêvão,  Bartolomeu  e Antônio e que,  por volta de 1.700 passou a ser chamada, por corruptela popular, apenas de Jacareí, ( rio de Jacarés) Eram núcleos muito pequenos e simples, com alguns casebres cobertos de palha sobre um pátio de terra batida.  Em 22 de novembro de 1653, um ano após a fundação, a pedido dos moradores, o Capitão Diogo de Fontes mandou erguer o Pelourinho, elevando a povoação à condição de Vila.

(Trecho da primeira parte do  livro: Jacareí: Tempo e Memória, de Ludmila saharovsky,  obra contemplada pela LIC de Jacareí e que será brevemente lançada)

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