segunda-feira, 26 de agosto de 2013


Um testamento feito em Jacareí em 1695


Rugendas "Rio Paraíba"
 “Em nome da Santíssima trindade Padre Filho Espirito Santo trez pesoas e hum só Deos verdadeiro."

Saibam todos quantos este instromento virem como no anno do
nascimento de nosso Senhor Jezu Christo de mil e seis sentos
e noventa e sinco aos vinte e oito dias do mez de fevereiro estando eu Francisco Coutinho em meo perfeito juizo e entendimento que nosso Senhor me deo e achacozo e na cama e temendome da morte e desejando por minha alma no caminho da salvasam por não saber o que Deos Nosso Senhor demim quer fazer e quando será servido de me levar para Sy fasso este testamento na forma seguinte

Primeiramente encomendo minha alma a Santissima trindade que a criou e rogo ao Padre Eterno pella morte e paixam de seu hunigenito filho aqueira receber como recebeo a sua estando para morrer na arvore da Vera Cruz.
E a meu Senhor Jezu Christo pesso por suas divinas chagas que jaque nesta vida me fez mercê de dar seo precioso sangue e merecimentos de seus trabalhos me fassa tambem mercê na vida que esperamos dar o premio a ellas que he agloria.
E pesso e rogo a glorioza Virgem Maria nossa Senhora madre de Deos e a todos os Santos da Corte Celestial particularmente ao meo anjo da guarda e ao  Santo de meu nome queiram por mim enterceder e rogar ao meu Senhor Jesu Christo agora e quando minha alma deste corpo sahir porque como verdadeiro christam protesto de viver e morrer em a Santa fé Catholica e crer o que cre bem a Santa madre Igreja de Roma e com esta fé espero de salvar minha alma nam por meus merecimentos mas pellos da Santisima paixam do Unigenito filho de Deos.
Pesso e rogo ameo Compadre Joam da Cunha de Amaral e a minha molher Francisca Cardoza por serviso de Nosso senhor  e por me fazerem merecer queiram ser meus testamenteiros.
Meu Corpo será em terrado na Igreja Matriz e no Corpo da Igreja e me acompanhará o Reverendo Padre Vigario pello amor de Deos.
Em todos os elementos necessários. Deixo por minha alma que me digam por minha alma hua misa a Virgem Nossa Senhora may de Deos.
Outra ao meu Anjo da guarda.
Outra ao Santo de meu nome.
Outra a todos os Santos da Corte dos Ceos.
Declaro que fuy cazado primeiramente com Madalena Dorna filha de Raphael Adorno da coal não tivemos filhos nem lhe devo nada.
Declaro que me cazei segunda vez com Francisca Cardoza da coal tivemos oito filhos dos coais morreu hum e são vivos Manoel, Vitorino, Margarida, Maria, Simoa, Francisca, Josefa, os coais sam nossos erdeiros forsados.
Declaro que temos hua negra velha acoal tem dous filhos que sam Antonio e Tomé os coais sam obdientes, ternos e obrigados com a may.
Mais um citio com sento e corenta brassas de terras
Mais humas cazas na villa de hum lançe cubertas de telha com trez
brassas de chans.
Mais doze pessas de ferramentas a saber sinco eixadas trez machados digo quatro machados duas fouces.
Declaro que algumas miudezas  não digo que fio de minha molher que declarará.
Como há hum rol de dívidas que tenho da minha vida que meu testamenteiro os achará.
Declaro que tudo o que estiver em branco no dito rol afirmo como cristam que se disse.
Declaro que devo em Sam Vicente quatro patacas a Antonio Madureira Salvadores, em dinheiro que me emprestou.
Para cumprir meus legados e cauzas aqui declaradas e dar expediência ao mais neste meu apontamento ordeno
Torno a pedir a meu compadre, Joam da Cunha de Amaral e a minha molher Francisca Cardoza por servisso de Deos nosso senhor me fazerem mercê queiram aseitar serem meus Testamenteiros como no principio deste meo apontamento pesso aos coais, e a cada hum ensolidum, dou todo o poder que endireito posso, e for necessário para de meus bens tomarem e venderem o que for necessario para cumprimento de meus legados.
Assim mais declaro que devo dostostoins a Bento da Costa. E por quanto esta he minha ultima  vontade como ao que tenho dito roguei a Antonio Rodrigues de Oliveira este por mim fizesse e assinasse como testemunha.
Francisco Cantinho
Antonio Roiz de Oliveira
Declaro que vay fechado com mandioca em trez partes quatro agulhadas com fio branco de algodão.
E pesso e rogo a justissa de sua majestade que dem cumprimento como El rei nosso Senhor lhe encomenda.” (Costa Braga T.A.1906 pag 53/54/55)

Lendo a transcrição, na íntegra, desse testamento publicado no Annuario Historico-Literário de Jacarehy, editado em 1906, podemos imaginar como era a vida na Villa de Jacareí, quarenta e três anos após a sua fundação. O que notamos de mais importante: já havia escravos nessa época; existiam casas cobertas por telhas; ferramentas eram objetos valiosos, a ponto de entrarem no inventário como bens; filhos eram considerados herdeiros forçados; as dívidas assumidas com amigos, sem qualquer documentação, na base da confiança, deveriam ser quitadas pelos inventariantes. Agora, o que mais me chamou a atenção, nesse documento, foi o número de parágrafos utilizado, expressando o desejo do autor, católico, temente do juízo de Deus, sobre as deliberações que deveriam ser tomadas para a salvação de sua alma: enterro no corpo da igreja, acompanhado pelo vigário, mais uma quantidade de missas em intenção à salvação de sua alma, e, o que não consegui decifrar: “Declaro que vay fechado com mandioca em trez partes quatro agulhadas com fio branco de algodão.” Ao que nosso solicitante se referia? Como deveria ser envolto seu cadáver? Deixo a questão em aberto para que novas pesquisas nos esclareçam!

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