Fabrica de macarrão |
Eu estudei no Grupo Escolar Carlos Porto durante quatro anos. Depois fiz o curso ginasial avulso com a D. Cecília Ramalho. Naquele tempo, não havia facilidade de ginásio. Frequentei também, algum tempo, o Liceu de Artes e Ofícios.
A distração da molecada no meu tempo era bola, pião, bolinha de gude. Participei de muitas brigas de molecada entre os bairros. Meu irmão levou uma pedrada na canela que abriu a perna dele. As brigas eram pra valer: o bairro do Rosário brigava com o Bom Sucesso, eles com o pessoal da Ponte, e assim por diante. Juntava 20, 30 moleques de cada lado com estilingue, pedra, pedaços de pau; eram verdadeiras guerras. O Nova York Zonzine era o mais briguento que eu conheci.
O Clube Esperança começou ali no Esmaga Sapo (hoje Praça dos Três Poderes). Nós começamos o Clube, trabalhando na enxada, no martelo, no alicate. O nome Esmaga Sapo surgiu lá em 1914, porque havia muito mato no lugar e o pessoal caçoava que a gente ia jogar bola e esmagava os sapos.
Havia um escorregador para cair no Paraíba. Era na residência do Schurig, onde hoje é o Esporte Clube Elvira. Depois o Schurig, que adorava jogar bola, nos deu uma força e construiu o Estádio. O Schurig morreu e o Esperança acabou.
Morreu bastante gente no Paraíba. Havia uma tradição aqui que, quando o rio enchia, não desenchia sem levar um. Embaixo da ponte, tinha um redemoinho muito perigoso. Tinha um aterro na cabeceira da ponte, que só ele ficava visível. O resto, as águas encobriam tudo.A gente mergulhava no Bairro do Toco. A molecada nadava toda nua.Atrás do cemitério, também passava um ribeirão onde a gente ia tomar banho. Ali a gente chamava de “Espraiado”. Não havia água encanada em Jacareí. A gente pegava água na Biquinha Pública. Não havia esgoto. A água suja das casas era recolhida por um caminhão, que era guiado pelo Cesário. Era uma espécie de carro-pipa sobre duas rodas enormes. A água suja era despejada no Paraíba que levava tudo embora....
Eu me lembro da Gripe Espanhola, em 1918, que foi horrível. Foi uma coisa tremenda! No Lamartine foi feito o alojamento dos doentes. Estenderam colchões pelo chão. Havia muita dificuldade com médicos. Ela recebeu o nome de gripe espanhola porque o Brasil mandou alguns médicos e enfermeiras à Primeira Guerra Mundial, e eles, quando retornaram, trouxeram o vírus da gripe pro Brasil, assim se comentava. A gripe foi praticamente pior do que a guerra. Morriam 15, 20 pessoas por dia e eram enterradas de qualquer jeito, até nas calçadas. É uma história muito ruim de lembrar. (trecho das lembranças do Seu Luis Natan publicadas no livro Jacareí Tempo e Memória)
Que legal resgatar essas histórias, Lu! Delícia de leitura que nos leva a outras Jacareís.
ResponderExcluirGostei muito. Uma viagem no tempo.
ResponderExcluirParte de minha infância está relatada aqui - e não sou tão velho assim.
ResponderExcluirTomei banho pelado no Paraíba, briguinhas ente bairros - já em menor escala - e também estudei no Grupão.
O melhor dessa época está no início do 3o. parágrafo: "A distração da molecada era bola, pião, bolinha de gude." = brincadeiras nas ruas, vida game e não o vídeo game de hoje.