quinta-feira, 7 de novembro de 2013


Viagens de Tropeiros entre Serras



Antiga foto com tropeiros saindo em viagens com as mulas carregadas
“Em 1733, o coronel português, Cristóvão Pereira de Abreu partiu por conta própria, depois de em vão pedir apoio aos governos de São Paulo e Curitiba, traçou e percorreu com sua tropa aproximadamente 1.500 km, o caminho que veio a ser conhecido como Caminho do Viamão, que saía dos Campos de Viamão (RS) e ligava Curitiba a Sorocaba.
 "Estrada Real", “Estrada das Tropas", "Estrada do Sul", "Estrada do Viamão-Sorocaba", "Estrada do Sertão" e "Estrada da Mata", também foram denominações dadas à estrada do Viamão.
 Neste trajeto, a tropa construiu mais de 200 pontes, levou mais de 2000 animais e fez de Sorocaba mais do que uma parada obrigatória para descanso de homens e animais; transformou Sorocaba no principal centro mercador de tropas do estado de São Paulo... Durante anos, o País dependeu economicamente do caminho do Viamão. Os animais trouxeram a prosperidade e a riqueza, principalmente para os gaúchos que se dedicavam à sua criação. Enriqueceram também os grandes homens das tropas, que por vezes iniciavam com dois ou três animais e ao longo do tempo acabavam por montar sua própria tropa com mais de 250 mulas, tornando-se ilustres e abastados donos de terras. Todos se beneficiavam com a passagem das tropas cargueiras. Os ranchos surgiam e ao seu redor o comércio se formava, dando origem a vilas e povoados. Era preciso receber e alimentar tanto os animais quanto os tropeiros... Todos eram beneficiados com a passagem das tropas. Homens enriqueceram e modestos pousos tornaram-se animadas vilas e povoados."
"Em torno das feiras, paralelamente ao comércio dos animais, outras atividades foram se desenvolvendo. Surgiram os artesãos, seleiros, funileiros e ferreiros - atividades especializadas na produção de materiais utilizados pelos tropeiros. Botequins e pequenas lojas também foram abertos. Era enorme a procura por artigos de ouro - joias e adereços -, e prata - artigos para montaria - estribos, esporas e afins... Foi a partir desse município, Sorocaba, que as tropas foram traçando caminhos que hoje são as principais rodovias do país, com especial atenção ao Vale do Paraíba, que separa a Serra da Mantiqueira da Serra do Mar... Para o atento observador, as cidades do Vale não se distanciam entre si mais que 24 km (medidos em léguas, onde cada légua equivalia a 6 km), o que resultava em um dia de viagem com a tropa. Toda essa região entre serras propiciou o desenvolvimento do transporte de muares, das tropas e, por séculos, entre os ciclos da cana, do ouro e do café, deu origem ao surgimento de trilhas, rotas, pousos, ranchos e consequentemente, das cidades. O aparecimento dos pousos e dos ranchos confunde-se com o nascimento das igrejas. Tão logo eram erguidos casas e comércios, a capela também despontava. O sertão estava sendo ligado - definitiva, social e economicamente ao litoral...    Ao final de 1700, já não era possível encontrar ouro em abundância, mas o cultivo do café já começava a despontar, principalmente no Vale do Paraíba. A criação de muares deu um grande salto e conheceu então o seu apogeu. Pelas Serra da Mantiqueira, o tropeiro levava o café para as Minas Gerais - de Lorena ao sul de Minas, de Monte Verde a Aparecida. Pela Serra do Mar e da Bocaina, seguia para o litoral fazendo com que a riqueza do novo ciclo abastecesse as cidades, chegasse aos portos no litoral e pudesse seguir para Portugal. De Cunha a Parati, de Taubaté a Ubatuba, de São José do Barreiro a Mambucaba, de São José dos Campos a São Sebastião.
As principais rotas usadas para ligar São Paulo e Minas ao Rio de Janeiro eram o caminho velho: Minas Gerais - Guaratinguetá - Parati, e o caminho novo: Lorena - Fazenda Santa Cruz. As cidades do Vale do Paraíba despontaram. Silveiras, Cunha, São José do Barreiro, Areias, Lagoinha, São Luís do Paraitinga, Bananal, Lorena, Roseira, Aparecida, Guaratinguetá, Taubaté, Jacareí, Queluz.
Os caminhos usados eram tão íngremes e tão difíceis os seus desfiladeiros que a serra que divide o alto e o médio Vale do Paraíba recebeu a denominação de Serra do Quebra-Cangalha. O nome refletia o esforço para vencer a geografia local que, não raro, rompia as cangalhas, armações em madeira ou ferro que sustentavam a carga distribuindo o peso para ambos os lados.
Velhos e novos caminhos. Os mesmo corajosos e incansáveis homens. Os tropeiros, mais uma vez, faziam escoar a nova produção econômica do País - o café. Mas não só isso: levava-se também batata, trazia-se madeira, suínos, bovinos, feijão, milho, sal, arroz...
 Levavam sua cultura por onde quer que passassem; aprendiam e ensinavam. Geravam riquezas, difundiam hábitos e costumes. Faziam florescer cidades a partir de ranchos de tropas... (Ferraz, Ocilio José de Azevedo. Resumo págs.19 a 28 do livro São Paulo Caminhos da Colonização - Viagens de Tropeiros entre Serras, Editora AB, Goiania, 2002)

Um comentário:

  1. É um país através do seu comércio interno, ganhando pujança e musculatura. Por isso, devemos muito aos empreendedores, a maioria pequenos corajosos, tudo o que esse país possui. Ainda assim, nada é feito para incentivá-los...apenas tolas e tímidas medidas, que nada resolvem, Obrigado Ludmila , por nos mostrar que esse país em que vivemos tem força!

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