terça-feira, 4 de fevereiro de 2014


Gal.Euryale de Jesus Zerbini rememora a Revolução de 32 (parte II)

Entrevista do Gal Zerbini, dada ao jornalista Edvaldo Ribeiro de Oliveira,
 no caderno especial do jornal Valeparaibano, em edição de 5 de julho de 1981
General Zerbini:
“...foram 120 dias de luta, chuva, sol, solidão, noites sem dormir, revolta e morte...)
 - “Os dias que estamos vivendo fazem parte de um processo que começou em 1922, com a revolta tenentista dos “18 do Forte de Copacabana” e que veio a desembocar em 1964. Os dias atuais estão se parecendo muito com aquele tempo. A Nação ainda não se identificou consigo própria. Ainda não temos uma Constituição. Temos uma Constituição doada e imposta que, de tão modificada para fins casuísticos, já está deformada. Da mesma maneira que em 32, apesar de derrotada, a Revolução gerou uma Constituinte e uma Constituição, o que está faltando agora é uma anistia, que já foi dada, mas que está faltando desembocar numa Constituinte e numa Constituição. Só assim se pacificará o estado de ânimo da Nação Brasileira.”

“Vale do Paraíba ficou dividido”
“A Revolução de 1932 começou para o então 1º tenente Euryale de Jesus Zerbini, exatamente às 15 horas do dia 9 de julho, no bairro de Santana, em São Paulo, sede do  49 Batalhão de Caçadores do Exército. "Em seguida, procuramos a adesão do Destacamento de Quitaúna e já no dia seguinte estávamos em Mogi das Cruzes. Nosso destacamento era a vanguarda da Revolução. Mas, já em Mogi, tínhamos recebido a triste notícia de que o 5º Batalhão RI de Lorena não tinha aderido. Só foi aderir no dia 11 ou 12 de julho.”
Mas aí, segundo o general Zerbini, "já havia tropas ditatoriais em Parati, no litoral, onde aportou uma divisão da Marinha de Guerra. Quer dizer, o Vale do Paraíba já estava dividido em vários pontos estratégicos. Em Parati, em São José do Barreiro, já havia um cerco aos paulistas. Percebemos que tínhamos planejado uma Revolução em meio a uma terrível conspiração. Uma conspiração que já vinha desde 1930, com a exigência dos paulistas (cada vez maior) de uma Constituição, sabendo que a figura do presidente Getúlio Vargas não tinha sido sempre antipatizada. Quero crer que a figura de Getúlio Vargas não era sempre a de ditador rancoroso. Pessoalmente. Mas era um homem, para os fins que se propunha, um carro pesado, pois amassava tudo até conseguir".
“Fomos obrigados então a ficar na defensiva em Cunha e em Ubatuba. Foram 120 dias de luta, na retaguarda das tropas do Governo. Houve bombardeios por aviões e muitos mortos. Quando o túnel caiu, a frente paulista desabou e começou a retirada. Alojamo-nos então em Lorena, onde hoje é o Clube dos 500. Em Cunha, eu e o ten. Assis Brasil encontramos o corpo supliciado do voluntário Paulo Virgílio. Na sepultura cavada por ele, estava o seu braço de fora; semienterrado. Na verdade fomos os últimos deixar Cunha. Com a retirada eu e outro tenente viemos dinamitando pontes e viadutos rodoferroviários.”
“Meditação Profunda”
O general Zerbini não nega que os ideais da Revolução de 32 e o seu culto anual continuem vivos na memória de todos, "embora eu tenha passado por uma meditação muito profunda, pois eu vi a organização dos ex-comandantes de 1932, da qual eu fui do Conselho Supremo, dar apoio a uma ditadura. E apoio público. Mas a humanidade é assim mesmo, como diz o provérbio, a vida é assim e não melhora. Quanta gente pensa nisto, mesmo agora, com uma taça ou um punhal na mão".
“Aqueles que estão combatendo por uma Constituinte agora, inclusive minha senhora , que sempre combateu, neles não está sediado o espírito de 32?
Eu acho que ele não está sediado em quem apoia uma forma ditatorial de governo. Ele está sediado em quem apoia e quer uma democratização e uma Constituinte a fim de que a Nação fique em paz consigo própria. Qualquer um que observar vai verificar que a nação brasileira ainda não tem paz. Falta o arcabouço de um Estado de Direito.”

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