quarta-feira, 5 de março de 2014


Entrudo: O carnaval de antigamente

Carnaval em Jacareí (1928 ou 1931) Acervo de Vital Verdelli, onde aparece sua mãe, Maria Aparecida Verelli (a mocinha no canto direito da foto)
Enganam-se os que pensam que o carnaval é uma invenção brasileira.
Esta festa, foi sim, adotada por nós, que a tornamos mundialmente conhecida e reconhecida  como hoje se apresenta, mas ela existe a aproximadamente dez mil anos A.C. Aproximadamente dez mil anos antes de Cristo, homens, mulheres e crianças se reuniam no verão com os rostos mascarados e os corpos pintados para espantar os demônios da má colheita. Essas foram as primeiras festas de carnaval do mundo. No Egito Antigo as grandes festas eram feitas para homenagear a Deusa Isis.
Na Grécia Antiga as festas carnavalescas eram em culto a Dionísio. Conforme as plantações de parreiras se espalhavam nas Ilhas Gregas, as pessoas começaram a celebrar esta nova divindade: O deus das Colheitas, representado como uma figura humana, só que de chifres, barbas e pés de bode.
Em Roma, comemoravam-se as Saturnais, em homenagem ao deus Saturno.Essas festas eram tão importantes que tribunais e escolas fechavam as portas durante o evento. Escravos eram alforriados, as pessoas saíam às ruas para dançar, a euforia era geral. Na abertura dessas festas, “carros alegóricos” em formato de navios saíam na "avenida", com homens e mulheres nus. Estes eram chamados os carrum navalis. Foi dai que surgiu expressão carnevale, hoje carnaval.

Carnaval de rua na Rua Antonio Afonso, vendo-se ao fundo, à esquerda a lateral do antigo palacete do Barão de Santa Branca, que foi demolido (em frente ao prédio, hoje, da Padaria Paris)
Em Portugal o carnaval era conhecido como entrudo.( do latim introito, introdução à quaresma)  Nessa festa as pessoas jogavam água, ovos e farinha umas nas outras. Foi assim que o carnaval chegou ao Brasil,por volta do século XVII e foi influenciado pelas festas carnavalescas que aconteciam na Europa. Em países como Itália e França, o carnaval ocorria em formas de desfiles pelas ruas, onde as pessoas usavam máscaras e fantasias .Eram festividades licenciosas e barulhentas. Apesar destes antecedentes, o carnaval, hoje, está ligado ao calendário católico, pois é uma festa que antecede à quaresma. Quarenta dias depois dele comemora-se a Páscoa.

 Sinfonica -  A Furiosa
Em Jacareí, o termo entrudo, designou os carnavais até a década de 30. A maioria de meus entrevistados, relatam que:
“Meu tio me levava muito nas festas de carnaval.A gente fazia corso naquele tempo, com lança perfume, confete, serpentina. As pessoas também jogavam muita água das casas, nos foliões. E farinha em cima!” (Rafaela Mercadante de Azevêdo)
“Os blocos carnavalescos mais conhecidos eram do Zezinho Mercadante, do Bebeco Oliveira, do Enneas, maquinista da Central. Agora, o carnaval daquela época era a festa da água. Saía-se com bexigas cheias de água, água com tinta e depois jogavam farinha de trigo e pó de café em cima do pessoal. Depois apareceram umas bolas de cera que enchiam de água e os esguichos de bambu que espirravam água à distância. O pessoal dos sobrados jogava bacias de água sobre as pessoas. O carnaval chamava-se entrudo e pintavam-se os canecos com lança-perfume Rodo, francês, que as pessoas ficavam cheirando a semana inteira. Proibiram o lança-perfume, em compensação, hoje, se cheiram outras coisas...” (Antonio Lemes)


Bloco Bafo da onça, fotografado na rua Dr. Lúcio Malta. No centro, Rodolfo Pinheiro
“Havia pouca distração em Jacareí. Eu gostava muito das festas de carnaval. A gente passava o carnaval nos automóveis, fazendo guerra de serpentina nos corsos. Era divertido.!” ( Maria José Egydio de Carvalho)
“O carnaval da cidade, naquela época chamado de entrudo, tinha sua maior força e todo seu entusiasmo nas ruas da cidade. Havia bailes carnavalescos, mas o que era mais animado era o carnaval de rua, onde se apresentavam tipos curiosos, como o Pascoal Viola, antigo carpinteiro da cidade, comendo macarrão dentro de um grande penico. O Nicolauzinho Mercadante saia com uma gaiola nas mãos, cheia de sapos em vez de passarinhos. O Rodolfo Pinheiro, com seu conjunto, exibia seu canhão que dava tiros de confetes dourados como munição. Naquela época usava-se jogar água e farinha, uns nos outros, que depois evoluiu para lança-perfume. Outro costume era o corso de carnaval, que era uma passeata dos carros que havia na cidade, bem enfeitados, com a capota levantada, de dentro dos quais rapazes e moças iam atirando confete e serpentina nos passantes. Houve aqui, também, na Rua Antonio Afonso, um antigo casarão que o Vicente Scherma transformou no Clube Recreativo e Carnavalesco Os Bambas. Eles se reuniam o ano inteiro para fazer as fantasias e sair no carnaval feito um cordão. Depois surgiram outros cordões: As Caprichosas, e Aí vem a Marinha, mas isso já nas décadas de 30 e 40.” (Lauro Martins)


Banda A Furiosa (1937)
“Papai gostava muito de carnaval. Ele saia sempre fantasiado de mulher.” (Mário e  Moraes)
“Em nossa cidade tem-se notícia de que um cidadão de nome Rodolfo Pinheiro foi pioneiro do carnaval de rua, quando formou junto à ponte do Paraíba, um bloco que recebeu o nome de Bafo da Onça. Sendo ele próprio um homem alto e magro, interpretava o papel de Zé Pereira, tocador de bumbo, figura típica do carnaval brasileiro, cujas origens remontam à década de 1840. Rodolfo Pinheiro, na década de 20, usava um canhão que atirava confete.” (Luiz José Navarro da Cruz)


Corso carnavalesco: (1927) Nelson e Rafael Marreli, Indalécio Villar, Otto Lehman, Alfredo de Campos e Gumercindo Quina, fantasiados de "mestres cuca"


Os Bambas (1935)  em trajes de marinheiro, quando surgiu a idéia de formar o bloco Aí vem a Marinha


3 comentários:

  1. A grande diferença de antigamente para os tempos hodiernos é que o pessoal preocupava-se apenas com a diversão.
    Infelizmente hoje vale a bebedeira exacerbada e a sacanagem - hoje é mais legal tomar todas e quebrar tudo. Muito estranha esta diversão.

    PS.: O Lauro Martins enganou-se - as capotas dos carros eram abaixadas e não levantadas. Assim não havia limitação de espaço para as brincadeiras.

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  2. Gostei mto de ler os comentários,,,Minha mãe falava que chegou a sair nos Bambas,e que era organizado,saiam em filas. Quando via as escolas de samba pela televisão ela dizia,,,"não se fazem mais carnavais como antes",Ela faleceu em 1997,imagine se ela visse os Carnavais de hoje.rsrs

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