quarta-feira, 28 de maio de 2014


Memórias da Imigração Japonesa em Jacareí: Tsuruiti Yamaguchi

Sr.Tsuruiti Yamaguchi

Navio Manila Maru

Tsuruiti Yamaguchi

“Viemos ao Brasil em setembro de 1925, no navio Manila-maru.
Viemos para Jacareí, em agosto de 1929, de uma cidade do Sul do Japão, de nome Saga-ken.
Viemos em seis pessoas: meu avô, meu pai, meu tio, minha mãe e um irmão. Eu tinha 15 anos de idade.
Saímos do Japão porque meu pai ficou muito apertado na vida. Pensou em emigrar para o Brasil porque o pai ouvia falar muito que em dois, três anos as pessoas ficavam milionárias aqui.
Chegamos primeiro no Paraná, onde ficamos mais ou menos dois anos. No Paraná, vida muito difícil para nós, não deu certo, então viemos para São Paulo. Em São Paulo, também muitas dificuldades, então meu pai quis vir para Jacareí.
Viemos para plantar arroz, então ficamos na fazenda de Cândido Porto.
Quando viemos, tinha já três famílias japonesas em Jacareí: família Murakawa morava no bairro Campo Grande, família Shoji, morava no bairro Bom Jesus, e família Nomoto, no Rio Abaixo.
A família Shoji foi a primeira que chegou, em 1928. Eles também vieram do Paraná. Vieram Harumoru Shoji, sua esposa Hideo Shoji e Mabito Shoji, bebê, pequeno.
Aqui, tudo era plantação de café. No Japão, café era usado como planta para enfeitar jardim.
Foto do Acervo do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil (Internet)
A alimentação nossa não tinha carne. A gente comia os peixes que caçava na valeta. Quando vinha na cidade, comprava bacalhau. Bacalhau era muito caro, mas nós comprava. Nós comia arroz, muito arroz e também tomate que nós plantava. Tomate com arroz. Tomate como salada, temperado com shoyu. O shoyu nós mesmo preparava com feijão e milho. Não era igual do Japão, mas quebrava o galho.
No Rio Paraíba, tinha muito peixe, mas a gente morava 9 km longe da cidade, e não tinha condução. Nós  tinha que vir andando. Era duro fazer compras.
No domingo, a gente mandava carro de boi para vender coisas no mercado.
Então, nós juntamos dinheiro e arrendamos uma chácara bem pequena, lá na estrada do Rio Abaixo. Nós  tinha lavoura de arroz e de tomate.
A gente era pouca gente, então uns ajudava os outros quando dava, né!
Lá, sempre o rio Paraíba enchia muito. Plantação tudo ficava debaixo da água! Às vezes, rio demorava, três, quatro dias pra baixar a enchente, e nós perdia tudo. Às vezes muita seca, precisava carregar água para regar plantação. Vida muito difícil, muito trabalho, pouco dinheiro...
Fabricação da famosa bala japonesa, criada pela Sra. Murakawa e aperfeiçoada pela Sra. Hideko Seki Tanisho
Foram chegando mais famílias. Em 1933 já tinha 12, 13 famílias, então em1938 meu pai, meu irmão e mais um grupo de japoneses fundaram a Cooperativa de Jacareí. Os produtores mandavam a safra para Cooperativa e ela vendia tudo: arroz, tomate, batata, ovos, A Cooperativa foi uma coisa muito boa, porque ela facilitava muito a vida da colônia japonesa: escolhia a terra melhor para a cultura, orientava o que a família tinha que plantar.
Em 1936, eu casei com esta senhora aqui do meu lado: dona Maria Yamaguchi. Nós se conheceu porque a família dela morava pertinho lá de onde nós arrendamos o terreno pra plantar.
Dona Maria, presente ao nosso encontro, disse que se adaptou sem problemas à cultura do marido. Ela fala japonês, “melhor do que ele fala o português”, cozinha as comidas típicas: arroz, missô, missoshiru, os doces de feijão. A festa de casamento foi simples, mas muito bonita. Toda a colônia compareceu. Teve muita fartura de comida, japonesa e brasileira, né!
E essa história de que os japoneses não recebem bem na família genros e noras que não são da raça deles? perguntei.
Comigo não teve problema, ela respondeu.”

Família Japonesa em Jacareí
Bar Brasil, da família Tanisho

A familia Tanisho tornou-se proprietária do antigo Bar Brasil, ponto de encontro da população local e também uma referência para os imigrantes japoneses que aqui chegavam. Em agosto de 1949, José Quiotaque Tanisho instalou um botequim e uma fábrica de balas na rua Dr. Lúcio Malta. As balas, conhecidas como "bala japonesa", tornaram-se produto de referência para a cidade, assim como o biscoito e a cerveja. A receita da bala, retirada do livro de culinária de dona Benta pela senhora Murakawa, foi aperfeiçoada pela senhora Hideko Seki Tanisho e, dessa forma, produzida em larga escala, na fábrica. (fonte: Caminhos da Imigração Japonesa em Jacareí, Kanazawa, Júlia Naomi, 2004)

6 comentários:

  1. Época difícil agravada pelos costumes, cultura e língua totalmente diferentes.
    Época de heróis em que só os fortes sobreviveram.
    Saudade? Sim, tenho das balas japonesas - deliciosas, só não podia morder pois, ao grudar nos dentes, não havia outro jeito a não ser tirar com os dedos.

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    1. AS balas japonesas foram, realmente, por muito tempo, junto aos Biscoutos de Jacareí, uma referência às gostosuras que a cidade nos oferecia. Uma delícia de confeito! Tenho saudades também!

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  2. Alberto Goro Yamamoto Ludmila, como descendente de japoneses, embora não sendo de Jacareí, me sinto honrado e emocionado ao ler e ver a sua publicação. Muito obrigado! (via facebook)

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    1. Alberto Goro Yamamoto, eu, como imigrante, sinto-me honrada em poder contar um pouco da história deste povo que admiro, respeito e me identifico na luta pela sobrevivência num país tão diferente do nosso de origem, em língua, cultura, religião, tradições... O Japão me seduz, desde sempre! Continuarei publicando essa memória por mais umas três edições. Fico lisonjeada com sua leitura e seu carinho. Grande abraço!

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  3. Sim como me lembro das balas japonesahoje morando em chapada so guimarães - MT eu aqui pesquisando para saber se ainda existe?
    boa lembrança.

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  4. Olá Jorge! Infelizmente as balas japonesas já não são mais fabricadas em Jacareí. Só ficou a lembrança...Boa lembrança!

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