sábado, 7 de junho de 2014


Memórias do prof. Mário Moraes


Professor Mário Moraes
“Eu nasci em 17 de outubro de 1912, em Jacareí.
Meu pai, Francisco Batista de Moraes era de Freguesia da Escada e mamãe, Patrocínia Pereira de Moraes, era de Santa Isabel.
Meus pais vieram para Jacareí em 1911. Meu pai era viajante. Veio a Jacareí e instalou a casa de comércio “Casa Moraes” na Rua do Carmo, hoje Pompílio Mercadante.
Em 1911, caiu uma tromba d’água na cidade, que inundou tudo. Mamãe ficou apavorada e mudou-se para a Rua Corneteiro de Jesus que, naquela época, chamava-se Rua da Misericórdia. Meu mano mais velho foi arrastado pelas águas e, não fosse pelo Sr. Mourim, ele teria morrido. Eu tive quatro irmãos: Murilo, João, Bolívar Darci e Cássio.
Minha infância foi normal. Tínhamos horário para tudo. À tarde podíamos brincar de corre-corre no Largo do Rosário ou no Largo da Matriz.

Grupo Escolar Coronel Carlos Porto
O primário eu fiz no Carlos Porto, que era o único estabelecimento que havia. Depois eu fui pra Taubaté, estudar no Ginásio Santo Antônio e, depois, para Guaratinguetá, onde fiz o Colégio Normal.
Eu não fui da época do Nogueira da Gama, mas conheci o Dr. Lamartine em Guaratinguetá. Quando acabou o colégio em Jacareí, ele foi primeiramente para São Paulo, onde ficou trabalhando num cartório, mas não se deu bem. Ele nasceu mesmo para ser educador. Aí ele foi para Guaratinguetá, na época de Rodrigues Alves e lá instalou o mesmo ginásio que tinha aqui.

Largo da Matriz  com o coreto original
Dizem que o ginásio acabou por problemas políticos. Com a morte do Coronel Carlos Porto, Dr. Lamartine foi para a política, o que desagradou muita gente. O ginásio começou a perder alunos. Ele já tinha dificuldades em pagar os professores, que começaram a sair, e, com isso, o Ginásio desapareceu.
Eu tenho aqui comigo um livro muito raro, cujo título é “O Gymnasio Nogueira da Gama”.  Editado em 1902, de autoria de F. Antunes da Costa, de onde poderemos tirar dados interessantes como, por exemplo, que em 1893, Jacareí atravessava uma fase bastante precária em sua vida material.


“O “Eldorado do Oeste” atraíra grande parte da população abastada, levando consigo capital e trabalho. A lavoura e o comércio achavam-se em decadência, causando as mais sérias preocupações aos que tinham aqui ficado.”
O Colégio foi inaugurado em 23 de julho de 1893 e, desta data até dezembro do mesmo ano, foram admitidos 25 alunos. De 1984 em diante, a matrícula subiu sempre em progressão crescente. Conforme o colégio progredia, foi se reanimando o comércio. Abriram-se oficinas. Entraram numa prosperidade as indústrias locais. Em 2 de dezembro de 1899, o Colégio Nogueira da Gama , por decreto de número 3.518, assinado por Epitácio Pessoa, foi equiparado ao Ginásio Nacional.

Alunos do Gimnasio Nogueira da Gama, em Jacareí
O fato repercutiu por todos os segmentos da população como um acontecimento único. Jacareí fora elevada à categoria de uma cidade acadêmica, constituindo-se em foco de ciências e letras, onde filhos de outras terras viriam buscar a luz do conhecimento. Assim segue, no livro, a descrição do fato:
“Eram 6h45 da tarde quando o telégrafo notificou: ‘Parabéns Jacareí’. ‘Viva Jacareí’.
O que se seguiu foi indescritível. Centenas de foguetes estrugiram no ar, partindo de todos os pontos da cidade. Um verdadeiro delírio apoderou-se da população. Todos queriam ser os primeiros a levar ao Dr. Delamare o prazer de que se achavam possuídos. Neste dia se prolongaram as festas até altas horas da noite. No dia seguinte, recomeçaram. Eram verdadeiras romarias que se dirigiam ao ginásio. Algumas manifestações tomaram as proporções de uma verdadeira apoteose.
Os operários com blusas suarentas e empoeiradas do trabalho do dia dirigiram-se ao Nogueira da Gama e, em nome deles, fez um pronunciamento o professor Alfredo Fernandes.
A Loja maçônica local, representada por todos os seus membros vestidos inteiramente de preto, também se apresentou no tom mais solene que imaginar se pode.


O comércio, as colônias estrangeiras, os médicos, os advogados, o Grupo escolar Carlos Porto, as escolas públicas, a Sociedade Literária Sete de Setembro, as corporações musicais se solidarizaram e prestaram suas homenagens ao Dr. Lamartine. Devemos lembrar os nomes de Carlos Porto, Manoel Jacinto, Nunes Ferreira, como de extremos colaboradores do Dr. Lamartine.”
Carlos Frederico Moreira Porto trabalhava no Rio de Janeiro. Com a morte do pai, ele veio tomar conta dos negócios da família. Ele trabalhou muito por Jacareí. Foi ele quem instalou o Grupo Escolar Carlos Porto, quando foi deputado. No enterro dele, colocaram crepe negro em todas as lâmpadas da cidade e Jacareí praticamente parou em sua homenagem. Ele era um grande chefe político e deputado pelo Vale do Paraíba. Ele ia instalar aqui a escola Normal quando faleceu.


(Continua)

11 comentários:

  1. Nivaldo Soléo, via Facebook: Durante os quatro anos em que estudei no Carlos Porto, de 1958 a 1961, o Prof. Mario Moraes foi o diretor daquela escola. De vez em quando ele ia nas salas de aula e dava palestras. Outras vezes, entrava para contar "causos" ou piadas rápidas para a professora. Só me lembro de um "causo", embora não lembre o nome das pessoas: Certa vez, ele entrou na sala e contou à professora, que determinado casal conhecido deles, estava ansioso para que o filme "E o Vento Levou" chegasse nos cinemas de Jacareí (havia dois, naquela época: Cine Rosário e Cine Rio Branco). Disse ele, que passadas algumas semanas, o filme chega à Jacareí e a esposa chega em casa, agitada e gritando ao marido: Fulano! O vento levou! O vento levou! E o marido, sem entender de imediato o que ela estava querendo dizer, respondeu: Mas levou o que, mulher?

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  2. Lucy Azevedo, via Facebook:
    Meu primeiro livro recebi das mãos dele ! Não parei mais de ler!

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  3. Jose Narita, via Facebook:
    O Grupo Escolar Coronel Carlos Porto à época era considerado um estabelecimento exemplar, objeto do desejo de muitos pais. Era a melhor Escola de Jacareí localizada no prédio onde hoje se encontra o MAV.

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  4. Vital Verdelli Verdelli (Via Facebook)
    Grande personalidade da história de nossa cidade. Se quando crianças tínhamos um pouco de medo de sua presença austera, aprendemos a respeitá-lo ao longo do tempo pela sua conduta ética e admirá-lo agora na nossa fase adulta, reconhecendo sua grande contribuição para nossa formação. Símbolo de um tempo em que podíamos ter orgulho por frequentar escolas públicas

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  5. Lucy Azevedo (Via Facebook)
    Como diretor,eu temia-o,depois passei a admirá-lo e a respeitá-lo! Gostei mto de ler seu depoimento no blog da Ludmila Saharov! Perfeito!

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  6. Katia Santos (Via Facebook)
    Foi um professor e um diretor exemplar sinto orgulho por ter sido sua aluna. saudades... época muito feliz.

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  7. Helvetia Ferreira Caldas (Via Facebook)
    Prof Mário Moraes foi meu diretor, um exemplo de educador e de pessoa.

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  8. Elza Schwarzeluhr (Via Facebook)
    Também o admiro muito, apesar de tremer na base qdo ele entrava na classe , ter frequentado Carlos Porto,foi uma das melhores coisas da minha vida..........tenho saudades dos colegas e professores........

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  9. Roberto Ribeiro Moreira (Via Facebook)
    O contato mais íntimo que tive foi na diretoria onde eu e o Odilon fomos "encaminhados" pela dona Lourdes Caldas por cantarmos Calhambeque em plena aula.

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  10. Prof. Mário Moraes e sua eterna mania de ficar enrolando os polegares... com as mãos entrelaçadas.
    Começou a vida escolar no Carlos Porto e ali terminou.
    Quando eu ficava de castigo (sempre era inocente) em pé, fora da classe e perto da porta, morria de medo que ele passasse.... bons tempos. rsss
    Bons tempos mesmo eram esses em que a escola era valorizada - será que alguém faria uma festa, como a descrita, hoje em dia?

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  11. Fernando Oliveira (Via Facebook)
    Receber o livro era um momento tão esperado e um importante evento nesta época... Lembro que umas das vezes o evento foi no auditório que tinha no Trianon Club... Boas lembranças.

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