terça-feira, 9 de julho de 2013


Revolução de 32: Sra. Rafaela Mercadante Azevedo

foto do blog www.tudoporsaopaulo1932.blogspot.com.br
Na Revolução de 32 eu ajudei a fazer as fardas dos soldados. Fiz muitas e muitas fardas, enquanto o Dr. Paulo Costa escutava as notícias pelo rádio, apavorado...ele ficava o dia inteiro com o rádio ligado, até o final da Revolução, então  a gente sabia de tudo o que estava acontecendo em São Paulo e nas cidades vizinhas. Eu trazia costura para fazer em casa, porque era muita gente pra poucas máquinas. Eu pegava meu pacote e costurava em casa. Fazia a blusa, o boné, caseava, pregava os botões,  fazia a polaina de crochê, meia de crochê, o Ivanhoé, boné, gorro, tudinho!  Meu enteado lutava no túnel e era geladíssimo! Quando veio o batalhão de nortistas à Jacareí, meu Deus! Como foi triste! Uma vez eu saí à janela do Cartório de Registro de Imóveis e um nortista viu um sapo na rua e pisando nele, esmagando o sapo falou:  “Foi assim que a gente fez com os paulistas!” Nós tivemos que receber e acomodar as tropas nortistas,  mais centenas de retirantes,  famílias inteiras que vieram pra Jacareí, descendo das cidades ocupadas: Cruzeiro, Lorena, Guaratinguetá. Eles saíram de suas casas, com medo  das forças do Getúlio. Aliás, eu nunca gostei do Getúlio. Ele foi um mau presidente. Foi ele quem começou a pôr o Brasil pra baixo.  Mas, lá na casa de Dr. Mendonça foi organizada uma cozinha, e no Educandário, outra. Foram recrutados muitos voluntários para ajudar a alimentar esse povo todo. As ruas viviam cheias de soldados. A gente tinha medo de andar pelas ruas, porque no meio dos retirantes vieram também muitos  desocupados, bandidos mesmo. O que se dizia era  que  os militares foram soltando os presos das cadeias para eles participarem das batalhas. Eu não tenho boas lembranças desse tempo. Foi de muita preocupação. (Memórias de dona Rafaela Mercadante de Azevedo)

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