sexta-feira, 27 de setembro de 2013


"Dize-me o que comes, e te direi quem és!"

Theodore de Bry: Canibalism in Brasil as described by Hans Staden
Parodiando o conhecido adágio de Brillat-Savarin “dize-me o que comes e te direi quem és”, que já foi transformado em “dize-me o que comes e te direi de onde vens”, Sophie Bessis assim afirma: “Dize-me o que comes e te direi qual deus adoras, sob qual latitude vives, de qual cultura nascestes e em qual grupo social te incluis”. A leitura da cozinha é uma fabulosa viagem na consciência que as sociedades têm delas mesmas, na visão que elas têm de sua identidade.”

Um texto importante sobre alimentação no Brasil nos foi deixado por Hans Staden (2008), que quase virou comida dos Tupinambás! Seus relatos, na época, tiveram enorme repercussão na Europa.  Staden, aprisionado por esses índios, durante oito meses, em Ubatuba, descreveu minuciosamente esse período. Seus relatos e as belas xilogravuras que os acompanhavam ajudaram a fixar, no imaginário europeu, o canibalismo como o tema mais importante no que diz respeito à alimentação indígena. Suas descrições do ritual  cabalístico  são  detalhadas:

"Fez chamuscar o corpo sobre a fogueira para que a pele se desprendesse. Depois retalhou e dividiu os pedaços em partes iguais com os outros, como  é  costume entre  eles.”
Mas não só da prática do canibalismo viviam nossos índios. Staden refere-se à alimentação nos primeiros anos após o descobrimento, relatando:
 "Naquela terra só há o que se busca na natureza" (Staden, H., pág.61) "Raramente alguém que tenha ido à caça retorna  para  casa  de  mãos vazias" "Naquela terra é comum buscar­se, a cada dia ou  a cada dois dias, raízes frescas de mandioca e com elas fazer farinha ou bolo." (Staden, H., pág.38)
Staden faz referência também à transformação da carne e do peixe em
farinha, já que  o processo  de  conservação  pelo  sal  era  desconhecido  dos
silvícolas:
“Em agosto eles perseguem uma espécie de peixe que migra do mar para os rios de água doce para a desova. Esses peixes chamam-se piratis, na língua deles, e lisas, em espanhol. Eles pescam os peixes em grande número com pequenas redes, também atiram neles com flechas e retornam com muitos deles fritos para casa. Também fazem deles uma farinha, que chamam de piracui.” Staden H. págs. 60/61)
Staden fala em frutas de vegetação  rasteira, mel  produzido por três tipos de abelhas (o das abelhas menores sendo  o melhor) da carne de caça de  numerosos animais comestíveis: macacos, grandes pássaros, tatu, capivara, lagarto (seria jacaré?) e da pesca, especialmente, a  tainha.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Este comentário será exibido após aprovação do proprietário.