quinta-feira, 10 de outubro de 2013


Memórias de Jovita Scavone

Jovita Scavone
Todos nós temos a missão de levar algo a qualquer lugar.
A minha missão foi a de lecionar em Jacareí. Vim para aqui bem jovem e cheia de fé e esperanças.
Não era a minha vocação ser professora, mas sim artista plástica, mas meus pais escolheram: eu deveria seguir o magistério e fui uma professora que muito amou a sua profissão. Eu pensava: mais importante do que fazer o que se ama é amar o que se faz.
Fui professora de escola rural e vi de perto a miséria em que viviam meus pequeninos alunos.
Procurei ajudá-los, pois, desde aquele tempo, eu sabia que os problemas humanos tinham que ser resolvidos na criança e eu amei meus alunos, as minhas crianças, inteirando-me e cuidando da sua higiene mental e física, permitindo que elas fossem boas e felizes, sãs e alegres.

Ama-se um pequenino ser como se ama um roseiral que não pode ser condenado à obscuridade. Procura-se que viva em plena luz, que se banhe de sol. Que não seja flagelado pelos insetos e que as suas raízes não sofram a dureza da terra.
Procurei sempre estar ao lado dos pequenos esquecidos, incompreendidos, desamparados.
Com o coração, pode-se ver através das paredes e foi com o coração que se viam as muitas crianças que tremiam de frio e adormeciam, na maior parte das vezes, sem qualquer alimentação.
Em cada criança que chega à vida, renasce a Pátria, renovam-se as possibilidades de corrigir erros, acertar caminhos. Esta é a verdadeira Esperança!
Da escola rural, passei a lecionar na cidade, no Grupo Escolar Carlos Porto, e por mim passaram dezenas e dezenas de jovens. Muito pode um mestre para tornar seu aluno uma pessoa digna e fazer com que eles entendam e acreditem que o melhor cidadão é aquele que enriquece sua pátria com a retidão de seu caráter e a força de seu trabalho. Procurei já naquele tempo fazer com que meus alunos percebessem através de meus atos que a violência e o desrespeito não são o melhor caminho. Que a nossa pátria para ser grande não podia ser feroz, nem sentir ódio ou inveja, e continuei seguindo serenamente a minha estrada.
Fui lecionar no ginásio onde passei e vivi anos felizes de minha vida. Por minhas mãos, passaram centenas de jovens que, com sua alegria, destemor e disposição para a vida marcaram para sempre o meu coração. E os anos foram passando. Ao mesmo tempo em que lecionava, ajudava meu marido nas suas obras de caridade, mas sempre participando também de toda a vida educacional e cultural de Jacareí. Juntos subimos a encosta da vida. Juntos estivemos sempre na dor e na alegria. De mãos dadas, conhecemos as mais longínquas terras do mundo, com suas mais diferentes culturas, mas os nossos corações sempre estavam aqui. (trecho da entrevista publicada no livro: Jacareí - tempo e memória, que será lançado brevemente)

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