quinta-feira, 14 de novembro de 2013


Corneteiro Jesus


Herói negro de Jacareí
O Vale do Paraiba possuía um desusado interesse na breve solução da Guerra do Paraguai, pois a sua continuidade traria a desorganização total na economia cafeeira, no âmbito internacional, além de ser um grande sorvedouro da mão de obra escrava, recrutada nas lavouras. Os senhores de escravos, ricos cafeicultores, não mediram esforços em fornecer braço escravo para empunhar o fuzil. Recursos econômicos não faltaram. O café era moeda forte para comprar armas no estrangeiro [...] No furor da insana Guerra do Paraguai morreram mais de 90.000 negros, jogados à frente da batalha para amaciar a contenda
(Benedicto Sergio Lencioni em O negro na história de Jacareí.)

Júlio José Chiavenato, em “O Negro no Brasil” com muita propriedade, afirma:
Há tanto heroísmo negro na Guerra do Paraguai que os fatos passam a lenda” e mais adiante acrescenta: “das lendas destaca-se o estoicismo do negro Jesus, que executou o toque de avançar com sua corneta apenas presa aos lábios, pois seus braços foram decepados - naturalmente é um exagero, mas que só é possível pela fama heroica dos negros transformando-se em mito” (Idem)

E Lencioni pergunta: O negro Jesus, o famoso Corneteiro Jesus, de Jacareí, é um fato ou uma lenda? Teria mesmo existido o negro herói Jesus, que teria participado do 42º Corpo de Voluntários da Pátria, na Batalha de Tuiuti?

Fato ou lenda, não se nega a bravura do povo negro, que, de forma sempre anônima, engrandeceu a historia de nossa cidade e de nosso País.
Termino, com trecho do poema épico de José Bonifácio, o Moço, na ode “O Corneteiro da Morte” que retrata a bravura de nosso herói.
Quando o toque da corneta é sacudido pelo arrancar dos braços de Jesus, o poeta escreve:
“Pouco importa! Avante; avante!...
Crioulo d’alma viril,
Pigmeu, faze-te gigante,
Tu é filho do Brasil!
Oh! Toca, toca a investida!
Sobre a hoste embravecida,
Jesus, um passo, inda um passo!
Há gritos, pragas e ais!
Sobe o horror cada vez mais...
E lá vai o outro braço!...
E termina:
“Tua glória vaga no ar
É quase um sagrado mito;
O mármore pode quebrar,
Não dura sempre o granito,
Na solidão esquecido,
Pobre, sem túmulo, perdido,
Sem pedra, sinal da cruz,
Tu simbolizas o povo,
Tu és quase um Cristo novo
Tens o seu nome - Jesus!”

Fato ou lenda, honra e Glória ao Corneteiro Jesus!

Não deixem de ler a linda crônica de Lizete Mercadante: Corneteiro Jesus, publicada na revista virtual O Caixotehttp://www.ocaixote.com.br/caixote01/corneteiro.htm

2 comentários:

  1. Tenho comigo que quando não há saída, sem meios de se escapar, a coragem vem mais como uma forma de salvação que de heroísmo.
    Sem menosprezar, era esta a situação dos negros nessa guerra, assim como acontecia nos navios negreiros.
    Com certeza havia, entre eles, muitos heróis e guardo o Jesus como um deles, mas, da batalha de Tuiuti e não de Tatuí. Ok?

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    1. Obrigada por sua correção, caríssimo! Foi erro de digitação, mas já foi corrigido: Batalha de Tuiuti. Abraços!

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