terça-feira, 4 de fevereiro de 2014


Gal.Euryale de Jesus Zerbini rememora a Revolução de 32 - final

população acompanhando a chegada dos restos mortais dos heróis de 32 a Jacareí
população acompanhando a chegada dos restos mortais dos heróis de 32 a Jacareí


A Juventude está esquecendo"Segundo afirmou o gen. Zerbini "a juventude parece estar esquecendo até quem foi Jânio Quadros. Até isto está esquecendo, quanto mais a Revolução de 32 que está fazendo 50 anos de existência ! Então sobraram os tambores de 32, que estão se afastando cada vez mais atrás dos morros. Ficou apenas o sentido de uma epopéia. Seria muito bom que a mocidade, que é a mesma que se sacrificou em 1932, pois a história se repete, lembrasse pelo menos.
Eu me lembro sempre do meu ordenança que tinha 16 anos na época e que eu enterrei em Cunha e, depois de muitos anos, eu desenterrei e trouxe de volta para São Paulo, para o Mausoléu do Ibirapuera. E ele não se furtou, coitado, esteve sempre participante, em todos os momentos da revolução, até morrer..”.
Explicou o general Zerbini que "a conspiração dos paulistas em torno de uma Constituição já começou em 1930 na batalha que não houve, a de Itararé", contra a Aliança Liberal Getulista em que saiu-se vencedor o general Góis Monteiro. "A decepção foi tão grande que os paulistas, já naquela época, conspiravam para pôr fim a uma série de coisas que, desembocaram em 32, com o levante dos paulistas", afirmou. Seria diante do mesmo general Góis Monteiro, comandante do Exército que a tropa de Zerbini deporia, "de forma honrosa", as armas, rendendo-se ao governo. Isto se deu nas proximidades de Cachoeira Paulista, em outubro de 1932. Várias vezes, ele se emocionou no seu relato, destrinchando os fios da memória. Depois da rendição, esteve preso no Rio de Janeiro, na Ilha das Cobras, na Ilha Grande, sucessivamente, até que veio a anistia e ele foi promovido a capitão.

“O mais sangrento”
Para o general Zerbini, o "front" do Vale do Paraíba foi realmente o mais sangrento da Revolução de 32, todavia "não existiam estatísticas de baixas, calcula-se em torno de 10 mil mortos”. As tropas paulistas ficaram quase sempre na defensiva, esperando que a revolução estourasse em outros estados. Tal não aconteceu. Esperava-se que viessem armamentos do exterior (aviões do Chile). Também não vieram. E nem mesmo uma acordo honroso foi feito. Com isto "fomos gradativamente abandonados". Afirma também que não desconhece as várias interpretações históricas da Revolução, mas fica com aquela que consagra a Revolução de 32, como o divisor de águas de um Brasil rural da Belle Époque para o Brasil moderno, urbano da industrialização. “Foi tão terrível o regime a que foi submetido São Paulo, que basta citar um fato: a Guarnição Federal, que era a tropa de confiança do governo, que foi posta em São Paulo, ela própria acabou revoltando com o que aconteceu em São Paulo.
Era opressão, eram conflitos políticos, pois o PRP tinha perdido seu poder (O PRP – Partido Republicano Paulista, pertencia aos cafeicultores), eram conflitos de rua, eram as tropas da ditadura atirando no povo. Eu assisti, revoltado, a morte dos estudantes de São Paulo, na Praça da República. Foi a gota d’água, um erro político, o fato de tratar São Paulo como uma terra ocupada... Depois, muitas transformações se sucederam, terminada a revolução. Há uma espécie, de prenúncio nas formas da História. Elas não aparecem de repente. Elas vêm aos poucos até que se formalizam. Assim muita coisa se transformou depois da Revolução de 32, e num suceder de fatos, continuam a ocorrer até hoje.”
“Estratégias”
Como militar que foi durante toda a sua vida, o general Zerbini frisou que “realmente a Revolução de 32, foi o prenúncio da modernização das Forças Armadas, que antes de 30 eram muito divididas entre si, e da modernização das próprias táticas de guerra que desembocariam fatalmente na 2ª Guerra Mundial".
“Assim, a Revolução de 32 conteve táticas e estratégias modernas pela primeira vez no Brasil. E que reapareceriam, de forma definitiva, na 2ª Guerra Mundial. Veja você que tivemos em 32 uma guerra motorizada, com tropas e equipamentos embarcados via rodovia e ferrovias, e por mar. Havia tropas especializadas em construção de pontes e em minar terrenos e dinamitar pontos de acesso, armamentos modernos o "trem blindado" e todo o tipo de retaguarda. Naturalmente os paulistas não dispunham de forças suficientes para sustentar uma revolução assim.” (Oliveira, E.R.  1981, pág.15)

Esta foi a última entrevista que do General Zerbini concedeu, aqui no Vale, pois ele faleceu no ano seguinte, em 1982.

2 comentários:

  1. Acredito que todos nós estamos nos esquecendo da nossa história e dos nossos heróis. Lembro que meu avô e meu pai gostavam de contar histórias dos "tempos de antigamente" como eles diziam e nós gostávamos de ouvir. Eram histórias fascinantes da família, da cidade, do país e que traziam o mundo até nós. Não sei quantos jovens ouvem histórias contadas pela família hoje em dia mas eu ouvi do meu avô, português de nascimento e carioca de coração, que a Revolução de 1932 foi um ato de coragem e sacrifício dos paulistas na tentativa de construir um Brasil melhor. Sendo assim creio que esse episódio deveria ser mais louvado, reconhecido e lembrado sempre.

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  2. Toda vez, que vejo fotos da Rev.32 publicadas aqui, fico olhando minuciosamente para ver se encontro meu avô( Eduardo Souza Lima).De qq forma, ficar ciente que Jacareí está dentro do contexto da história paulista e brasileira, é um orgulho muito gde.

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