sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014


Dr. Pompílio Mercadante

Esta foto  faz parte do livro Retalhos da Memória de  Lencioni, B.S.  pag 223 com a legenda:
As filhas: Zilah, Yara, Magda ( da esquerda para a direita) e Thais, com os pais Elvira e Dr. Pompílio
Recebi de um leitor, o pedido de escrever alguma coisa sobre o Dr. Pompílio Mercadante. Infelizmente eu não o conheci, pois vim morar em Jacareí em 1965, e ele faleceu em 1950, mas sua memória permeia os relatos de todos os que aqui viveram em sua época e privaram de sua amizade. Publico, a seguir, sua breve biografia, trechos de um capítulo do livro escrito por sua filha Magda Mercadante Esper, Corumbeba, comentado em outro volume: Retalhos da Memória de Benedicto Sérgio Lencioni (JAC Editora 1999.) Publico também as lembranças  sobre este notável médico jacareiense publicadas em meu livro: Jacareí tempo e Memória. Os leitores que tiverem mais informações sobre Dr. Pompílio, e quiserem partilhar, por favor, me enviem e eu publicarei com a maior alegria!

Dr.Pompílio Mercadante nasceu em Jacareí em 23/04/1884, filho de Pedro Mercadante e Luiza Epinghaus Mercadante.
Dr. Pompílio foi um dos alunos do célebre ginásio Nogueira da Gama.Terminado o curso, entrou na Faculdade de Farmácia e Odontologia de São Paulo, e depois também na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que concluiu em 1927. Foi Diretor Clínico de nossa  Santa Casa, onde trabalhou até alguns dias antes de sua morte. Dr. Pompílio  era conhecido como “O médico dos pobres”. Entendia a medicina como um sacerdócio, atendendo a todos, sem se preocupar se poderiam pagar ou não por seus serviços.  Foi prefeito de Jacareí de 1914 a 1921, pelo Partido Republicano Paulista. De seu segundo casamento, com Elvira Leal, nasceram quatro filhas: Zilah, Magda, Yara e Thais. Ele  faleceu em 07/09/1950.
No livro Retalhos da Memória, Benedito Sérgio Lencioni  faz uma referência  a um volume escrito por Magda Mercadante, publicado em 1987 em Taubaté, que tem por título: Corumbeba. Trata-se de “uma edição graficamente modesta, o que ainda mais valoriza o livro e seu conteúdo.” Ele foi editado apenas para a família e aos amigos. Não se encontra nas livrarias. “Foi escrito numa linguagem de diário, íntima e, nessas condições, ao lê-lo, penetramos indevidamente num mundo muito particular, que revela fatos da família somente aos seus, aos mais chegados, aos que podem e devem ouvir confidências. Corumbeba é um livro escrito com as fibras do coração...e que nos transporta para um mundo completamente diferente do atual....A casa dos “quatro cantos ainda está ali, só pela metade, e a última moradia, perto da Santa Casa, na Rua Corneteiro Jesus, virou uma clínica.” (Lencioni, BSL, Retalhos da Memória)
Um breve episódio do livro Corumbeba:
Aviso aos pensionistas:
“Nós tínhamos alguns “pensionistas” que mamãe e papai agradavam muito, e que vinham buscar seu jantarzinho quase diariamente em nossa casa.
Era o Antonio, lixeiro da prefeitura, o que nunca faltava. O João gago, que quase não podia falar e era burrinho, burrinho! Dona Mariquita que entrava e jantava na copa, antes de nós, porque era servente da Escola Noturna. Na mocidade tinha sido uma moça rica, parente do Barão de Jacareí. Tinha uma carinha triste, uma educação refinada. Mamãe fazia de conta que ela não necessitava, é claro, e que a sopa era receita do papai, para sua saúde...Quando nós mudamos de casa, eu e Zilah íamos de taxi com o amigo Câncio procurar nossos pensionistas em suas casinhas pobres para participar o novo endereço...”
Num Natal, o João gago veio buscar seu presente e eu aproveitei para dar uma calça que papai tinha usado na véspera e estava rasgada. Dei sem costurar. Para quê... Papai ficou furioso comigo. Seu argumento era que ele, como doutor, tinha usado a calça e tudo bem. Mas para o João eu devia ter costurado e passado a ferro! Vá entender!
Quando o Antonio lixeiro chegava, uma de nós tres tinha que fritar o ovo. Era um tal de empurrar o serviço uma pra outra. Mas que o ovo saía, isso saía! Ele precisava de boa alimentação e papai tomava conta de seu jantar.”
Dr. Pompílio foi responsável  pela urbanização da Praça Conde Frontin (antigo Largo do Bonsucesso) que era apenas um terreno baldio. Muitos de meus entrevistados, que com ele conviveram, referiram-se sempre ao Dr. Pompílio com o máximo de respeito e carinho:
"Dr. Pompílio foi um médico muito querido e um político competente. Ele morou ali na esquina da Antonio Afonso, nos Quatro Cantos, num palacete construído em 1901 para o Coronel Francisco Gomes Leitão. Era de uma simplicidade e bondade ímpares. Os doentes íam procurá-lo em sua casa e ele não se furtava em atender quem quer que dele precisasse, a hora que fosse!" ( Odilon de Siqueira )

"Havia em Jacareí três médicos: O Dr. Pompílio, o Dr. Novaes eo Dr. Abílio. Os pobres eram tratados por eles sem cobrar consulta. Alguma coisa eles sempre recebiam: Frangos, bolos. A consulta valia 5 mil réis e as receitas todas eram manipuladas nas farmácias.( Ubirajara Mercadante Loureiro)

"A praça Conde Frontim, antigo Largo do Bom Suceso era um brejão fundo. Em 1913/ 1914 o Paulo de Frontim era diretor da Central do Brasil e o prefeito era o Dr. Pompílio Mercadante. Como havia uma crise de mão de obra operária na Fábrica de meias, o Pompílio pegou esses operários e utilizou para fazer o aterro. O prefeito, na verdade, abriu uma frente de trabalho para esses operários e o Paulo de Frontin deu os trens da Central com gôndolas para puxar a terra lá do bairro do Campo Grande para o aterro da praça. A obra demorou mais de dois meses. Ali era a periferia da cidade, e foi por causa desa obra que a praça ganhou o seu nome. (Antonio Lemes "Bodinho")

Jacareí tinha o quê? Dois médicos...e um deles era o Dr. Pompílio Mercadante, que morava na rua da Santa Casa. Ele dava receitas pela janela de sua casa. As pessoas iam na Santa Casa, não tinha médico, iam então na casa do Dr. Pompílio, batiam na janela e ele atendia pela janela mesmo... (Luis de Oliveira Doce)

5 comentários:

  1. Elizandre Silva: LUDMILA,eu conheci o Dr.POMPILIO MERCADANTE no ano de 1949.EU tinha 11 anos de idade,ele costumava andar com um talão de receitas no bolso.certa vez na Rua do Carmo,deparei com ele atendendo uma senhora com bastante idade sentada na calçada e encostada na parede passando mal.Ele,tirou seu estetoscópio da maleta,a examinou,preencheu uma receita,e disse:LEVE ESTA RECEITA NA FARMÁCIA DO JARBAS E DIGA PARA ELE TE FORNECER O REMÉDIO E NÃO COBRAR NADA,DIGA PARA ELE MARCAR NA MINHA CONTA! (Via Facebook)

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  2. Jose Alcides Porto Rossi :O Dr Pompilio Mercadante, comprou a casa dos Quatro Cantos após a morte da minha bisavó Ursulina Nogueira Porto que faleceu em agosto de 1924(1834)
    aos setenta anos de idade de diabetis. Ele foi quem fez a declaração do
    óbito no Cartório(tenho o documento) (Via Facebook)

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  3. O Câncio fez parte de minha vida - se não me engano foi ele o instrutor de direção da minha mãe quando ela tirou a CNH.
    Voltando ao Dr. Pompílio, meu pai sempre nos lembrava de que, quando ele morreu, a calçada em frente à casa dele ficou repleta de pobres chorando sua morte.
    Alguém que sempre merecerá nosso respeito.

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  4. Obrigado Ludmila por atender meu pedido!Gostei muito da matéria,e conheci um pouco mais sobre nosso grande Dr. Pompílio Mercadante,que nunca será esquecido da memória de Jacareí.

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  5. Dr. Pompílio Mercadante é meu tio. Zilah Mercadante foi minha professora de Prática. A moça do meio é a mãe de Aloysio Mercadante. A da direita , é a Magda. Foi minha professora de Educação Física. A de trança é a Thaís, tem minha idade, brinquei muito com ela quando a família morava nos Quatro Cantos. Essa foto deve ter uns 70 anos. Esqueci de falar da esposa de Tio Pompílio, era Tia Elvira. O Esporte Clube Elvira recebeu esse nome em homenagem a ela.( comentário postado no facebook por Marina Garcia.

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