quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014


Memórias dos pracinhas de Jacareí na Itália - Parte I

Pracinhas de Jacareí, antes da partida para a Itália: foto de Rosalina Ramalho
Memórias dos pracinhas de Jacareí na Itália

Em 27 de março de 1996, no prédio da sede do MMDC, na Praça do Expedicionário, reuni-me, pela primeira vez, com alguns expedicionários de Jacareí, para ouvir um pouco de suas memórias. A esse encontro seguiram-se outros, e, além das memórias e do excelente cafezinho que juntos degustamos naquelas tardes, há 17 anos, foram aparecendo diários, livros, recortes de jornais, medalhas, diplomas, cartas, cartões postais. Lembranças que eles traziam e mostravam, para que eu também me inteirasse de suas vivências na Itália, onde, bem jovens, foram lutar contra a tirania que assolava o mundo livre. Encontrei-me, nessas ocasiões, com os Srs. Antonio Candido dos Santos, (à época com 76 anos) o Sr. Luiz Antonio da Silva, (carinhosamente chamado de “seu Guandu”, (76 anos) o Sr. Álvaro Lourenço (Capitão Lourenço) (então com 75 anos) e o Sr. Francisco Arthur Gomes (75 anos).
Todos ficaram aquartelados em Caçapava, na 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária no 6º e 7º. Regimentos de Infantaria.
Orgulhosos, apresentaram o documento de Citação de Unidades condecoradas com a Cruz de Combate de 1ª Classe, que transcrevo:

6º. Regimento de Infantaria

A 1ª. Divisão de Infantaria Expedicionária teve, no 6º. Regimento de Infantaria, uma unidade à altura de seu passado, nesta  campanha da Itália em que participaram, vitoriosamente, as armas brasileiras.
Regimento de escol, coube-lhe a primazia de entrar em ação. Participou, destacadamente, nas operações, quer no destacamento da F.E.B., ao norte de Pisa e no vale do Sercchio, quer nas operações divisionárias nos próprios Apeninos, do Reno ao Panaro e mais tarde no Vale do Pó.
Entre os seus mais assinalados feitos, refulgirão para sempre a sua atuação contra o Monte Prano e Braga, difíceis operações em montanhas contra a crista de Castelnuovo, em cujo combate concorreu ardorosamente, para o arremate vitorioso das operações do vale do Reno; a tenaz resistência oferecida na manutenção do baluarte de Serreto; e, finalmente, sua oportuna atuação na manobra divisionária do Rio Tara, onde lhe coube a ação principal e decisiva na trama que culminou com espetacular episódio da rendição de Coecchio-Fornovo, por certo o mais sensacional feito das armas da Força Expedicionária Brasileira, no teatro de Operações da Itália, em uma das fases mais empolgantes da manobra do IV Corpo de Exercito Americano no vale do Pó.
O 6º. Regimento de Infantaria confirmou, pois, nos campos de batalha do Velho Mundo, o acerto de sua escolha como participante da F.E.B. e o valor do Infante da atual geração habilmente dirigido pelos seus quadros, Estado Maior e Comando. Concorreu, assim brilhantemente, para que à nossa Pátria fosse reservado um lugar de relevo entre as Nações que velarão pela Paz vindoura e futura reconstrução de um mundo livre e feliz.

Esta citação encontrava-se, também, apensada no diário de campanha do 2º. Sargento Álvaro Lourenço, natural de Suzano . Ele serviu no 6º. Regimento de Infantaria no 3º Batalhão e 7ª. Companhia, com sede em Caçapava. Num de nossos encontros, o Sargento Lourenço presenteou-me com a versão em xerox, encadernada, deste seu caderno, onde ele registrou os principais episódios da II Guerra Mundial por ele protagonizados. Assim, inicio estes depoimentos transcrevendo parte de suas anotações que começam com a seguinte dedicatória:

“Este Registro é um Diário de Guerra real, vivido por este brasileiro. Ele destina-se a todos os jovens brasileiros que se interessam pela valorização dos homens que lutam por ideais nobres, como a defesa da Pátria, através de atos e não de demagogia. Deixo-lhes, aqui, os fragmentos de meu diário, de um brasileiro comum como os demais companheiros, que um dia tiveram que deixar a Pátria e seus entes queridos.”
(segue na próxima postagem)


2 comentários:

  1. Ludmila.... Excelente garimpeira... Estamos em sua "cola", acompanhando seu trabalho. Parabéns!

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  2. Um brasileiro comum aos demais que lá estiveram, talvez sim, mas, com certeza nada de comum e, sim , de destaque honroso perante aos outros brasileiros.
    Digno de nota - só por ter voltado vivo já seria um herói.
    Parabéns a ele e a todos os ex-combatentes de uma guerra, como todas as outras, insana.

    Obrigado Ludmila - esta garimpagem tem valido a pena

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