segunda-feira, 31 de março de 2014


Memória dos pracinhas de Jacareí na Itália parte IV


Artilharia da FEB na Itália em treinamento. 1944/1945 foto escaneada do livro Cincoenta Anos depois da volta de Octávio Costa

24 de novembro de 1944: atacávamos o Monte Castelo*,depois de atingir o objetivo, fomos obrigados a retroceder às posições anteriores em virtude do forte ataque alemão.

* “O primeiro desses ataques envolvia o complexo Belvedere-Castelo e se deu a partir do dia 24 de novembro de 1944, sob a responsabilidade da Força-Tarefa 45, do Exército Americano, com a participação de dois batalhões brasileiros a ela agregados. Foram três dias de insucessos e pesadas baixas, quando o poderoso contra-ataque germânico obrigou as tropas aliadas a recuar ao ponto de origem.O general Crittenberguer, decidiu, então pelo deslocamento da FEB mais para o oeste, de maneira que a tomada do Monte Castelo passou, a partir daquele momento, a ser responsabilidade da nossa força expedicionária, com o apoio da aviação e de tanques americanos.” (Os pracinhas na guerra, A cobra fumou na Itália, capítulo 11)

12 de dezembro de 1944: lançamos outro ataque a Monte Castelo*, desta vez por outras unidades, sem êxito. O nosso batalhão não chegou a ser empenhado, pois estávamos em 2º Escalão.

*No segundo ataque ao Monte Castelo, que começou na manhã de 28 de novembro, tudo conspirou contra os brasileiros. Na noite passada, as tropas americanas foram rechaçadas do Monte Belvedere, ao lado, deixando aquele flanco a descoberto, em poder dos alemães, o que tornava mais arriscada a aventuraO avanço malsucedido deixou um triste resultado: 34 mortos e 133 feridos. A operação toda fora planejada pelo tenente-coronel Castelo Branco, ao qual foram debitados os resultados.” (Os pracinhas na Guerra, A cobra fumou na Itália, capítulo 11)


09 de janeiro de 1945: na madrugada, os alemães, aproveitando a escuridão e o frio que fazia, lançaram um ataque às nossas posições com uns 50 soldados da tropa especializada de montanha, sob a região de Monte Africo, defendida pela 8ª. Companhia e foram repelidos à pequena distância, sem êxito. Graças a Deus, se não me falha a memória, mais um bravo de Jacareí participou dessa operação defensiva: o soldado Pedro Corteli, que ficou cercado pelos alemães por duas vezes e conseguiu sobreviver.
Meados de fevereiro a março de 1945: nesse período, é feita a ofensiva do IV Corpo de Exército: Ofensiva de Primavera. Trata-se de conquistar melhores posições para atacar as posições fortificadas alemãs. Daí a vitória de Monte Castelo* e Castelnuovo di Vergato.

avanço ao Monte Castelo
*“Uma outra data foi marcada para a tomada do Monte Castelo: 21 de fevereiro de 1945. Nas primeiras horas da manhã, a Divisão da Montanha (americana) marchou sobre o Monte della Torraccia, ao norte do Monte Castelo, depois de guarnecido o Monte Belvedere e montanhas próximas a ele. Às quatro horas da tarde, o posto de observação do general Mascarenhas recebeu uma visita em peso do comando americano, incluindo o comandante do 4º Corpo, general Crittenberg e o próprio comandante do 5º Exército, general Mark Clark. Além de seu apoio moral, estes deixaram a recomendação para que o ataque fosse intensificado, evitando serem apanhados de surpresa com a chegada da noite, que favoreceria mais aos alemães, familiarizados com o local.

No segundo ataque ao Monte Castelo, que começou na manhã de 28 de novembro, tudo conspirou contra os brasileiros. Na noite passada, as tropas americanas foram rechaçadas do Monte Belvedere, ao lado, deixando aquele flanco a descoberto, em poder dos alemães, o que tornava mais arriscada a aventuraO avanço malsucedido deixou um triste resultado: 34 mortos e 133 feridos. A operação toda fora planejada pelo tenente-coronel Castelo Branco, ao qual foram debitados os resultados.” (Os pracinhas na Guerra, A cobra fumou na Itália, capítulo 11)


07 de fevereiro de 1945: na madrugada, nova tentativa de ataque realizada pelos alemães, desta vez no Setor guarnecido pela nossa Companhia, que era a 7ª. Tratava-se de tropa armada com uma metralhadora, 15 submetralhadoras, bazucas e granadas de mão. Não obtiveram êxito.
De março a meados de abril de 1945: um período pouco marcante e pouco movimentado. Faziam-se patrulhas durante a noite e à luz do dia, a título de informações das posições inimigas.



15, 16 e 17 de abril de 1945: o 2º. Regimento de Infantaria de São João del Rei, em ação conjunta com o 3º. Batalhão do 6º Regimento atacam Montese e conquistam a cidade. A 7ª Companhia mais a 8ª Companhia do 3º Batalhão comandada pelo major Silvino Costa da Nóbrega, foi designada para atingir a Cota 927 em Primeiro Escalão, sem êxito, na região de Montese e La Torre. Às 14 h uma nova tentativa feita pela 7ª Companhia pra atingir a referida Cota 927 é desfeita pelos bravos alemães. Nós permanecemos nas posições conquistadas nas barbas dos alemães, debaixo de tremendo bombardeio de 72 horas. Foram centenas de granadas remetidas pelos morteiros e canhões que explodiam num raio de ação de uns 50 metros uma da outra, desorganizando toda a nossa Companhia. Ela operou com 180 soldados e ficou reduzida a uns 60 em condições de combate. Nessa batalha, foi ferido o nosso Capitão Comandante Porto Carreiro, sendo removido para a retaguarda. Assumiu o comando da Companhia o capitão Eter Niton, subcomandante.
Eu tive o privilégio de assumir o subcomando da Companhia em difíceis condições, conforme elogio ou citação militar a que fiz jus.
17 de abril de 1945: por volta das 16h, recebi ordens do Comando do 3º Batalhão para que cessassem as tentativas de progressão, mas que mantivéssemos as posições conquistadas. Ordens que retransmiti pelo nosso mensageiro, soldado Lucio de Piquete, ao Capitão mais à frente.
18 de abril de 1945: o nosso batalhão foi substituído pelo 2º Batalhão, sob intenso bombardeio inimigo, ainda em Montese.
22 de abril de 1945: foi constituído um Agrupamento. Nelson de Mello, comandante do 6º. Regimento uniu-se ao 3º Batalhão do 6º Regimento de Infantaria, uma Companhia de Reconhecimento Blindada comandada pelo capitão Pitaluga, uma Companhia de Obuzes (Canhões) do 6º Regimento de Infantaria, além de elementos de outras unidades, com destino para as posições de La Torre.
23 de abril de 1945: desse momento em diante, no meu entender, foi dado o golpe final. Em toda a frente italiana, nós atacávamos os alemães, que estavam em retirada. Foram ataques sucessivos passando por várias cidades italianas: Dezano, Lorenzo, Escotena e outras.
27 de abril de 1945: ocupamos a cidade de Basconcelo, de onde partimos para Formoso di Taro.
28 de abril de 1945: ocupamos a cidade de Collechio, até que veio a rendição da 148ª. Divisão alemã que operava na nossa frente Italiana. Região de Collechio e Fornovo. Este foi o mais sensacional feito da Força Expedicionária Brasileira, que, no meu entender, terminava a guerra com a galhardia e a coragem do Infante brasileiro.
29 de abril de 1945: permanecemos nas posições conquistadas, enquanto se processavam as medidas da rendição da Divisão Alemã.
06 de maio de 1945: o 3º. Batalhão se desloca para a cidade de Tortona, Alta Itália, onde ficamos aguardando dias melhores, tomando um bom vinho. 
07 de maio de 1945: rendem-se, incondicionalmente, todas as tropas alemãs na Europa, terminando assim a II Guerra Mundial.



06 de junho de 1945: Embarcamos no navio de guerra americano, General Meigs, num total de 3.400 soldados, cabos, sargentos e oficiais, que, às 18 h deixava o Porto de Nápoles com destino breve e vindouro que seria o Brasil.
18 de junho de 1945:desembarcamos, vitoriosos, no Porto do Rio de Janeiro[1], o 1º Escalão Divisionário que operou na Itália. Na longa viagem de volta, entre comemorações carnavalescas ao mesmo tempo cheias de lágrimas, de sorrisos e até mesmo desmaios, trouxemos conosco a Cruz da Vitória: nossas feridas, nossas medalhas de campanha. E uma das melhores medalhas foi a de estarmos vivos, graças a Deus e às promessas feitas a Nossa Senhora Aparecida que nos compreendeu. A vitória da Força Expedicionária Brasileira ficou oficializada e comemorada no dia 8 de maio de 1945, quando cessaram os compromissos de participação dos Praças Brasileiros com os nossos aliados. Estes continuaram na luta até o dia 15 de agosto de 1945, data da queda do Japão.



“Em 1945, emocionante mesmo foi a chegada da FEB da Itália. O Rio tinha menos de 2 milhões de habitantes, os cálculos davam 800 mil pessoas no Centro da cidade. Não havia televisão, e ninguém podia andar na Cinelândia, Avenida Rio Branco, ou nas ruas por perto. De cada 2 habitantes, 1 foi homenagear os "pracinhas" que combateram o nazifascismo. Consagração.”
(Hélio Fernandes - Tribuna da Imprensa - 15/06/2004)






Um comentário:

  1. Medo, ansiedade, pavor, coragem, heroísmo, bravura... sentimentos que se misturavam no dia a dia da FEB na Itália - imagino o que se passava pelas cabeças de nossos soldados, ao menos até o dia 23 de abril.

    Mas, vamos falar um pouco de outro navio - este melhor, pois trouxe nossos homens de volta à pátria.

    USS General M.C. Meigs (AP-116) também um navio de transporte de tropas da marinha americana que foi usado na Segunda Guerra Mundial e na Guerra da Coreia.
    Construído em 1943 e lançado em 13 de março de 1944, foi adquirido pela Marinha três meses depois.
    Mas, antes de trazer nosso heróis de volta, ele levou três escalões da FEB do Rio de Janeiro para a Itália, entre setembro de 1944 e fevereiro de 1945,
    Em 1972 o General M.C. Meigs encalhou quando estava sendo rebocado para San Francisco, Califórnia, sendo necessário o seu desmonte.

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