quarta-feira, 30 de abril de 2014


Memórias do Tenente Octávio Pereira da Costa (parte final)


General Octavio Pereira da Costa em foto de Evelson de Fritas para o Estadão

“A FEB vinha na hora crítica, na hora da fome de gente, uma Divisão chegando do lá longe, da zona do interior, para estancar a sangria de  dois Corpos na luta consagrados. Ao V Exército Americano dessangrado e ao VIII Exército Britânico – do lado do Adriático -  cumpria fixar as forças alemãs, quase iguais na península, impedi-las de reforçar as frentes principais, manter o espírito ofensivo, não ceder terreno. A compreensão deste quadro estratégico explica a onipresença, a partir de então, da FEB na frente de combate. Uma Divisão permanentemente empenhada, sem um só dia de descanso, para manter o Brasil sempre na luta. Daí a enormidade dos setores, para defender, para atacar. Daí as missões de sacrifício, daí os ataques que se sucediam, para aliviar outras frentes mais ameaçadas. Daí por que jamais atacamos com uma Divisão inteira, na potencialidade de seus três regimentos, antes fazendo prodígios, economizando os atacantes com o sacrifício e o risco dos defensores.”(Costa, O. 1976, pág.39)

Tropas brasileiras, a caminho da praia numa barcaça britânica de desembarque, acenam adeus para seus amigos ainda a bordo do navio que os trouxe para a Itália. V Exército-Leghorn, Itália – 06/10/44 Foto do Portal da FEB
“Ao tempo da Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro não primava pela boa apresentação do uniforme de seus soldados, fosse pela qualidade dos tecidos, fosse pela natureza da confecção. Não dispúnhamos ainda de uma indústria de roupas suficientemente aparelhada para assegurar ao exército uniformidade de cores e padrões, e qualidade dos tecidos para proteger o soldado e resistir às exigências do adestramento  e do combate. O calçado preto, de má qualidade, e as polainas verde-olivas, de pano impróprio – que haviam substituído as velhas perneiras pretas dos “pés de poeira” da infantaria brasileira e que, assim distinguiam, ainda no Brasil, o “pracinha” do soldado tradicional – não suportando o esforço, a lama e o frio, foram substituídas, na Itália, pelos combat boot americanos, mais resistentes e apresentáveis.”
O uniforme de lã verde-cinza, fabricado para a FEB às carreiras e de carregação, além de não assegurar a necessária proteção contra o frio, era grotescamente mal-amanhado, e as túnicas verde-olivas, de passeio, fechadas até a gola, por uma longa fileira de botões, tinha o inconveniente maior de assemelhar-se ao uniforme alemão. E como as chuvas do outono europeu houvessem provado a vulnerabilidade das capas tidas como impermeáveis, os blusões americanos, forrados de lã, muito cedo vestiram o homem brasileiro.” (Costa.O. 1976, pág.32)

Acampamento Brasileiro próximo à Pisa, Itália em 16/10/44 (Foto portal da FEB)
“Não escapou à FEB o hábito acentuadamente americano de cobrir o uniforme de insígnias e distintivos, símbolos de unidades, de cursos realizados, de tempo de serviço, de campanhas e de ações, apelos coloridos à coragem, ao desprendimento, ao espírito de corpo e ao orgulho militar.”
“Cada unidade ou grande-unidade americana tinha o seu distintivo de braço, que assinalava seus integrantes sempre que se encontrassem longe da frente de combate. Como membros do 50. Exército Americano, podíamos usar a divisa V e do A, em vistosas cores azul e vermelho. Terminada a guerra e de volta a seus aquartelamentos de tempo de paz, cada unidade da FEB ganhou seu nome e símbolo, que os conscritos de hoje dizem e ostentam com orgulho e emoção.” (Costa O.,  1976, págs. 32 e 33)


“Perdemos 451 combatentes e tivemos 1.577 feridos e 1.145 acidentados, além de 58 extraviados; dos quais 35 caíram prisioneiros dos alemãs. As unidades que mais sofreram foram os regimentos de infantaria – o Primeiro, o Onze e o Sexto – nesta ordem, com, 144, 124 e 103 mortos. Dos 239 dias de sua presença na frente de combate, de 6 de setembro de 1944 a 2 de maio de 1945, a FEB defrontou-se com treze grandes unidades inimigas: três fascistas e dez nazistas. Capturamos 20.573 prisioneiros de guerra, dos quais 892 oficiais e 2 generais. Caíram em poder de nossos pracinhas 80 canhões de diversos calibres, 1.500 viaturas e 4.000 cavalos. (Costa, O.1976, pág. 76)

Cemitério onde foram sepultados os pracinhas brasileiros mortos, em Pistóia, Itália (Foto Internet)


Memórias do Tenente Octávio Pereira da Costa (parte 1)


A seguir, publico trechos das memórias de guerra do então tenente Octávio Pereira da Costa, hoje General, publicadas no livro: Trinta Anos depois da volta, sobre o qual Rachel de Queiroz   assim se manifestou:

 “Esse, realmente era o livro que faltava, o livro que deve andar em todas as mãos, com especialidade a dos jovens, em geral mal informados quanto à importância daquele embarque dos nossos 25 mil rapazes para o teatro de guerra na Europa. Esse livro deveria ser publicado em edição barata, de copiosa tiragem, capaz de penetrar largamente pela vastidão do Brasil, como elemento de informação , narrativa de veraz teor e de singelo patriotismo, e que muito irá servir para a catequese cívica dos moços.”

Realmente, esta é uma obra que todos nós deveríamos ler, para podermos contar aos nossos filhos e netos, quão sofrida e gloriosa foi a participação dos pracinhas brasileiros na Guerra na Itália. Mas, este livro, publicado numa edição limitada e sem caráter comercial, em 1976, encontra-se, infelizmente, esgotado. Nele, em linguagem clara e didática, seu autor, Octavio Costa, relata suas memórias, pontuando o essencial na história da participação brasileira na Segunda Guerra. Seu relato começa pelo episódio do afundamento dos navios brasileiros pelos alemães, enfoca a situação político-econômica de nosso país à época, passando pela sofrida campanha da FEB nos campos da Itália: Suas lutas, dificuldades, conquistas e o retorno vitorioso dos pracinhas ao Brasil. Eu muito aprendi com as informações contidas nesse volume, e lamento que ele não tenha sido reeditado, para que as novas gerações pudessem conhecer a campanha brasileira na Itália, relatada em detalhes, por uma testemunha presencial aos fatos.

Força expedicionária brasileira foto Portal FEB (internet)
“Éramos uma nação de quarenta milhões quando a guerra começou. Socialmente pouco havíamos progredido em meio século de República. Vargas, auxiliado por Lindolfo Color, implantava, com imensas dificuldades uma legislação trabalhista contra a qual se opunham, violentamente, os herdeiros de escravos e de terras. Arrastavam-se, crônicos, os nossos problemas sanitários e educacionais, com taxas alarmantes de analfabetismo, com a mortalidade infantil, a fome e doenças endêmicas desafiando ainda a capacidade de novos sanitaristas do caráter de Oswaldo Cruz.”
“Éramos uma nação sem motivação psicológica consistente e duradoura, sem confiança em si mesma... Éramos um país essencialmente agrícola, monocultor e totalmente dependente de bom tempo e de bom preço para o café, ditado quase sempre lá fora segundo interesses dos intermediários.  Ao iniciar-se a guerra, dependíamos de importação em quase todos os produtos essenciais. Tudo nos vinha de fora: o trem, o automóvel, o navio, o avião e o trator.”
“Éramos uma nação extremamente pacifista, cujo exército havia disparado seu último tiro em 1870, nos campos do Paraguai. Desde o início da década de 1920 aqui estava uma operosa Missão Militar Francesa, que montara, no Exército, o admirável sistema de ensino militar que responde pelo excelente nível cultural de nossos oficiais.”


“A Marinha de Guerra limitava-se, quase exclusivamente, aos velhos e obsoletos encouraçados “Minas” e “São Paulo” e a Aeronáutica, ainda vinculada às forças de terra e mar, mal começava a nascer. Esse era o Brasil de antes da guerra, contemplativo e pobre.” (Costa, O. 1976, pág. 21)

Encouraçado Minas Gerais (foto Internet)
“Não só de cariocas e fluminenses, mineiros, mato-grossenses e paulistas arregimentou-se a FEB, porque, para formar e manter o efetivo de cerca de 25.000 homens que compuseram a Divisão de Infantaria e seus órgãos complementares, foram convocados brasileiros de todos os estados, havendo passado por exigente inspeção de saúde contingente muitas vezes maior para atender a padrões antropométricos e sanitários normalmente não exigidos pelo Exército Brasileiro.
A transposição da FEB, do projeto à realidade, trouxe, assim, à tona, difíceis problemas, como preparar, à americana, uma Divisão heterogênea de um Exército até então moldado em doutrina e padrões franceses; criar órgãos novos para os quais não tínhamos nem pessoal, nem material adequados; proceder à seleção de pessoal segundo padrões muito acima de nossa realidade, para adaptá-los a condições climáticas de um teatro estranho ao nosso; dificuldades de reunião, de concentração e de preparação de unidades descentralizadas, de subordinação administrativa e disciplinar a diferentes organizações; inexistência de uniforme adequado ao clima e de material bélico em quantidade indispensável ao atendimento das necessidades de instrução; inexistência de reservistas para as funções novas que a nova doutrina exigia; e gigantesco fluxo de convocados, em curto prazo, em muito superior aos efetivos previstos.


Tratava-se, em suma, de preparar uma Divisão para a qual não havia disponibilidade de todas as qualificações funcionais, de adestra-la na utilização de material que nunca tinha visto, segundo uma doutrina que nos era estranha. Somem-se a isso as resistências passivas, que a guerra psicológica adversária ativava, às vaidades, os melindres e as susceptibilidades que se levantavam no calcanhar da FEB e, mais que tudo, o sentimento de impotência e inferioridade que entorpecia o brasileiro, e a mocidade de hoje terá o quadro em que aquela mocidade foi à guerra contra o nazismo. Na Quinta real de San Rossoro, antigo campo de caça do rei da Itália, perto de Pisa, estacionou a Divisão Brasileira, reunindo num grande acampamento quase 10.000 homens. Ali mesmo nossos pracinhas começaram a preparar-se para enfrentar o inimigo, recebendo instrução especializada na detecção de minas e na utilização de todos os recursos bélicos. A FEB foi conhecer, já na Europa, a maioria do seu equipamento, todo ele de fabricação americana, e pago até o ultimo centavo”.( Costa O.1976, págs. 28, 29 e 30)

Entrevista para o programa Contraplano

Lembram-se da entrevista que gravei para o programa Contraplano da TV Câmara de Jacareí, falando um pouco do making off do livro Jacareí Tempo e Memória? Hoje recebi os links e agradeço demais a Elton Rivas pelo envio. Ai vão eles, a quem interessar possa. Abração, amigos!

https://www.youtube.com/watch?v=zLgRYMRq8A4

http://www.youtube.com/watch?v=cW-6WIiot-g

segunda-feira, 28 de abril de 2014


domingo, 27 de abril de 2014


II Guerra Mundial - Memórias de Eliseu de Oliveira

Pracinha Eliseu de Oliveira
“O pracinha joseense, Eliseu de Oliveira, filho do Sr. Agenor de Oliveira, que por muito tempo foi proprietário do Bar Paulistano, na esquina da Rua 15 de Novembro com a Rua Sebastião Hummel (onde hoje há uma pastelaria) e de Dª Trindade de Oliveira, viveu uma verdadeira epopéia na 2ª Guerra Mundial, pois foi aprisionado, tendo sofrido horrores nos campos de concentração nazistas, a partir do dia 31 de outubro de 1944. Sobre o assunto ele deu depoimento ao jornalista Altino Bondesan, o qual escreveu o livro “Um pracinha no inferno de Hitler”.
“Eliseu de Oliveira, quando foi convocado, era reservista do 4° Regimento de Infantaria e do 6° R.I. de Caçapava, tendo dado baixa das fileiras neste último.
Voltando do 4° R.I, montou com seu primo José Bráulio um armazém no bairro do Sertão, mas foi convocado e seguiu para o 6° R.I. no dia 16 de outubro de 1942. O 6° R.I, tinha o I Batalhão em Taubaté, o II em Caçapava e o III em Lins e, deste, a 8ª Companhia estava em Araçatuba. Ele serviu nesses três Batalhões do Regimento, mas quando a FEB se deslocou para o Rio de Janeiro, ele estava na 3ª Companhia do I Batalhão, do Taubaté.
Embarcou para a Itália no “General W. S. Mann”, navio norte-americano, no dia 29.6.44, indo para Bagnoli depois do desembarque em Nápoles, seguindo depois para Tarquínia e Vada.

Entrou para o front em Filetole, passando mais tarde por Pisa e Chiatre, Piazzano, Santa Maria e, a 23 de setembro de 1944, tomou parte no combate pela posse do Monte Valimona, quando fez parte de uma patrulha e aprisionou quatro alemães. Sua próxima participação foi em Casciano, perto de Luca. Depois esteve em Fornaggi e Borgo Mozzano.
Tomou parte no combate de Barga, na tomada de Colle S. Chirico, tomando, com seu grupo um casarão ali existente, no dia 30.10.1944, posição insustentável, onde, com mais 16 companheiros, foi aprisionado, depois de resistir até o último cartucho, impondo pesadas baixas aos alemães.
No casarão, além dele, estavam o 3° sargento José Carlos Borges, os cabos José Rodrigues (Piolim) e Waldemar Reinaldo Cerezoli e os soldados José Otaviano Soares (Noronha), Osvaldo Maurício Varela, Alcides Ricardini Neves, Anézio Pinto Rosa, Hilário Furlan, Osvaldo Casemiro Muller, Alcides Lourenço da Rocha, Geraldo Flausino Gomes, João Muniz dos Santos, Hamilton Rodrigues da Silva Costa, João Santana (Bigode), Manoel Correa e Antônio Júlio.
Em S. Chirico, o inimigo era tremendamente superior em homens, armas e munições. Com grande dificuldade alguns pelotões da 3ª Companhia do I Batalhão do 6° R.I. conseguiram chegar até seus objetivos. O grupo do sargento Geraldo Moacir Marcondes Cabral conseguiu chegar até uma casa de três pavimentos (embaixo era abrigo de animais, no pavimento do meio havia dois quartos e, no de cima, a sala e mais alguns quartos). Era uma residência rural, cujos três pavimentos tinham saída para terra, por ser entranhado em um barranco.
No dia 30.10.1944, o grupo do sargento Cabral matou alguns alemães e feriu outros tantos, embora perdendo o soldado Vicente Batista, com um tiro na cabeça e mais o soldado Toledo, ferido nos joelhos e, ainda, mais dois soldados que o levaram para a retaguarda.
No dia seguinte, 31.10.1944, os alemães dominaram toda a área. Na casa estavam também os capitães Aldenor da Silva Maia, comandante da 3ª Cia e Atratino Cortes Coutinho, além do tenente José Maria Pinto Duarte, o soldado José Ribeiro Bastos e o Gambá, este gravemente ferido com uma rajada de metralhadora no rosto.
Lá pelas dez horas do dia 31, apareceram para falar com o capitão Aldenor, o cabo Waldemar e soldado Eliseu, cujos companheiros estavam quase totalmente situados no casarão que ficava mais à frente, o que causou espanto a todos, pois parecia impossível que alguém ainda estivesse com vida por lá. Eles vieram para perguntar se deviam ou não permanecer lá. Infelizmente o capitão mandou que permanecessem. O resultado foi a morte do soldado Hamilton Rodrigues da Silva Costa e ferimentos graves no soldado alcunhado Noronha.
Voltando para o casarão, sucedeu a morte do Hamilton e Noronha foi gravemente ferido; João Santana empreendeu bem- sucedida fuga, quando foi ameaçado de fuzilamento. Piolim e Noronha ficaram ocultos, mas depois foram descobertos pelos alemães e levados para a retaguarda, este último estava com 43 estilhaços no corpo.
Disse Eliseu, que no tiroteio travado contra os alemães, cinco deles foram mortos e 25 feridos gravemente.
No fim tiveram de se render e com as mãos sobre a cabeça foram levados a um local e postos em fileira para fuzilamento, porque os alemães estavam furiosos com as baixas sofridas (o local era a área de Castelnuovo no Vale do Rio Sercchio). Por sorte, enquanto os alemães confabulavam a execução, surgiu um oficial nazista que gritou “Brazilianisch incht caputi” (brasileiro não devem morrer) e assim a execução foi suspensa e os brasileiros começaram a transportar os feridos alemães, por quilômetros, debaixo de sol escaldante, depois de 60 horas sem dormir e sem comer, nem beber água.

De Castelnuovo os prisioneiros seguiram para Serrizoli, levando em uma maca o soldado Noronha, ainda com os estilhaços no corpo e sofrendo horrivelmente. Dias depois o médico alemão encheu-lhe a boca de gaze e arrancou a sangue frio o 43 estilhaços. Conta Eliseu, que muitos deles, inclusive o Noronha, quando regressaram ao Brasil, foram a pé cumprir promessa em Aparecida.
Em Serrizoli (PC alemão), os prisioneiros receberam alimentação muito boa, sobra do que comiam os oficiais alemães e, ali, foram interrogados por um tenente que falava o português. O soldado Muller conseguiu esconder sua descendência alemã (ele falava o alemão corretamente) foi de grande valia para os brasileiros presos, traduzindo todas as conversas em que os alemães mofavam dos brasileiros.
Nessa cidade os brasileiros tiveram de trabalhar na conservação de estradas, sob rigoroso inverno e com parca alimentação.
Dali seguiram para Parma, no norte da Itália, onde os brasileiros, juntamente com os alemães, foram bombardeados por avião americano quando o comboio se deslocava. Ficaram alojados na escola dessa cidade italiana e escreveram nas paredes seus nomes, para deixar pista de seus paradeiros aos que viessem a tomar a localidade, pista que teve muito valor quando tropas da FEB entraram ali. De Parma foram para San Giovanni e, no trajeto, foram insultados por italianos tiroleses que lhes atiravam pedras, diziam palavrões, faziam gestos obscenos, chamando-os de “braziliani, raça de cani”. Tiveram de voltar a Parma onde passaram a carregar caminhões de tábuas, as quais lhes machucavam as mãos. Por fim seguiram para Mântua, recebendo bombardeio aéreo pelo caminho e, numa das vezes, tiveram de se esconder atrás de um rico prédio, onde os italianos, seus moradores lhes deram boa comida e vinho espumante.
Em Mântua passaram fome, pois não havia alimentos suficientes. Um oficial alemão descendente de português, chamado Armando lhes dizia que tivessem paciência, pois iam ser transferidos para a grande Alemanha, onde não havia a fome.
fonte:  www.museuvirtualfeb.blogspot.com.br
O campo de prisioneiros de Mântua era cercado de arame eletrificado e os soldados defecavam numa lata dentro das barracas. A cidade era constantemente bombardeada por aviões aliados. Ali os brasileiros foram convidados a falar pelo rádio, concitando os elementos da FEB a se renderem, o que recusaram terminantemente, embora ameaçados de represálias.
Em Mântua partiram de trem cargueiro lacrado, para a Alemanha o qual estava superlotado e trancado a sete chaves, dando solavancos constantes. No caminho o comboio foi atacado por aviões. A viagem durou três dias, dois deles sem alimentos e sem água. Só no 2° dia deram pão preto em pequena quantidade e um pedaço de salsicha. Nesse trem chegaram a Munich e foram para o campo da localidade de Moosburg, no qual iriam sofrer novo Calvário, recebendo alimentação fraca e parca, composta de pacotes enviados pela Cruz Vermelha, mas dos quais os alemães retiravam a maior parte dos alimentos.
Eliseu disse que dali mandara um cartão de boas festas no Natal de 1944, para sua mãe Dona Trindade, mas o mesmo demorou muito a chegar, dando tempo para que recebessem um fajuto telegrama do Ministério da Guerra, dando-o como morto.

De Moosburg vinham trabalhar em Munich removendo neve das ruas e da estação ferroviária. Num barzinho dessa estação trocavam cigarros por xícara de café.

Contou que devido aos constantes ataques da aviação aliada, a cidade de Munich foi transformada em montões de entulho e a tal ponto era o arrasamento que parte da população passou a dormir ao relento. Em Munich os brasileiros servirão também como criados em casas particulares, onde, às vezes recebiam pedaços de pão preto – uma grande dádiva para quem vivia constantemente com fome.
Depois passaram a trabalhar em Lamdsnut, junto ao rio Isar, afluente do Danúbio (em março de 1945).
Um prisioneiro norte americano conseguiu montar um rádio, escrevendo em papel as mensagens que passava aos demais prisioneiros. Essas mensagens contavam o avanço das tropas aliadas em a certeza de que o fim da guerra estava próxima. A disciplina no campo de concentração começou a ser relaxada e agora os brasileiros já podiam pegar água aos baldes.
Em abril de 1945 começou a soar a hora da libertação a cidade de Moosburg começou a ficar deserta e as famílias alemãs começaram a alimentar os prisioneiros.
No dia 28 de abril um prisioneiro sul-africano chegou ofegante, gritando no acampamento: “Domani! Domani saremo in libertá” (amanhã, amanhã estaremos em liberdade).
A alegria tomou conta de todos que dançavam e pulavam de alegria. No dia 29 de abril de 1945, os prisioneiros começaram a ouvir o barulho das armas aliadas das metralhadoras ponto 50; muitos subiram nas partes elevadas das redondezas do campo de concentração e viram surgir no horizonte os primeiros tanques norte americanos do General Patton
Regresso da FEB ao Brasil (foto Internet)
.Os prisioneiros invadiram as barracas dos guardas alemães e de lá retiraram copiosos alimentos fornecidos pela Cruz Vermelha, que eles roubavam, enquanto os prisioneiros passavam fome…
Os soldados norte-americanos chegaram e deram aos prisioneiros alimentos, materiais de higiene pessoal, roupas e dali os retiraram para a França, via Reims até París.
De París, Eliseu falou pelo Rádio e em São José, Baimu ouviu e foi dar a notícia à sua mãe, Dona Trindade.
De Paris, os brasileiros seguiram para Marselha e dali para Pisa na Itália, onde por comboio de caminhões seguiram para Alessandria e Voghera, onde a FEB se preparava para partir rumo a Nápoles de onde dar-se-ia o regresso para o Brasil.” (Cabral,G.M. 1979, pg 47) Visitem também os blogs http://www.portalfeb.com.br/  e http://museuvirtualfeb.blogspot.com.br/ super interessantes e com muitas informações.

sexta-feira, 25 de abril de 2014


Memórias dos pracinhas na II Guerra Mundial: Geraldo Moacir Marcondes Cabral




Em 27 de julho de 1979, o jornal Valeparaibano publicou um caderno, em Edição Especial, com o título: Documento: Segunda Guerra Mundial.
Na capa, vinha o seguinte texto:

“Neste caderno estamos enfocando a participação dos joseenses na Força Expedicionária Brasileira (FEB) que lutou nos campos de batalha contra os nazifascistas.
O trabalho é de Geraldo (Moacir) Marcondes Cabral e é publicado com a contribuição da Divisão de Cultura, lazer e Recreação e Turismo da prefeitura de São José dos Campos. É um documento inédito que oferecemos aos nossos leitores nesse aniversário de São José dos Campos.”
Desse suplemento, que guardo há mais de 30 anos, publico para vocês, trechos do depoimento do expedicionário Geraldo Moacir Marcondes Cabral, que nasceu em Pindamonhangaba em 10 de fevereiro de 1920. Ele  morava em Jacareí, e foi convocado como reservista do 5º. Regimento de Infantaria (Companhia de Metralhadoras) cujo 2º. Batalhão estava sediado em Pindamonhangaba. Embarcou para Nápoles, recrutado pela com a 3ª Companhia de Taubaté, para o 1º Batalhão.
 Transcrevo esse testemunho, embora não seja de um ex-combatente de Jacareí, porque acredito que todos os soldados expedicionários do Vale do Paraíba, que juntos embarcaram, juntos permaneceram sob as ordens dos mesmos oficiais, participando das mesmas batalhas, comemorando as vitórias e chorando a perda de companheiros mortos, tornaram-se membros de uma mesma família: A brava família dos valorosos soldados que foram defender as cores verde-amarelas de nossa Pátria na Segunda Guerra Mundial.
Suas memórias são nosso maior patrimônio histórico, oral, dessa época.

Abaixo seguem as memórias do Expedicionário Geraldo M. Marcondes Cabral, descritas pelo próprio.

“Tomando o depoimento de alguns ex-combatentes, estes me pediram que desse o meu testemunho também, o que vou fazer em homenagem a eles, pois fui da turma de Jacareí, vindo residir em São José dos Campos em 1948, trazido pelas mãos desse grande amigo, o Eliseu de Oliveira, quando o Vale do Paraíba estava numa terrível recessão e era difícil arranjar um emprego.
Eu vinha em 1941, como reservista do 5° Regimento de Infantaria (Companhia de Metralhadoras), cujo 2° Batalhão estava sediado em minha terra natal – Pindamonhangaba, para trabalhar para o Salomão Becker, em Jacareí. Como ganhava muito pouco, resolvi ir tentar a vida em São Paulo.
 Morava, então, numa pensão na esquina da Cutumbi com a Cachoeira, porque ficava perto da fábrica e me permitia trabalhar horas extraordinárias para reforçar o salário que era de 220 cruzeiros mensais.
No dia 11 de outubro, muito cansado, fui deitar mais cedo e dormia como uma pedra, quando a porta começou a ser espancada. Acordei tonto de sono e fui abrir a porta: era o estafeta do Telégrafo com o telegrama convocando-me para as fileiras do 6° R.I.
Pracinhas brasileiros embarcando para a Itália (foto Internet)
No dia seguinte fui à fábrica e acertei as contas e parti para Caçapava, mas a incorporação só ocorreu em dezembro desse ano. Fui designado para servir como terceiro sargento na 7° Companhia do III Batalhão de Lins, na Noroeste. Lá precisei operar a hérnia na Santa Casa, motivo pelo qual acabei sendo transferido para Taubaté, para a 3ª Companhia do I Batalhão, com a qual segui em março de 1944 para o Rio de Janeiro e dali para Nápoles, embarcando no 1° Escalão no dia 29/6/44. Quando entramos para os beliches no navio “General Mann”, tudo estava escuro, um não enxergava o outro. De manhã, quando acordei, o companheiro ao lado era o meu irmão José Dimas, que como arrimo de família, jamais deveria ser convocado, nem seguir para a guerra. Depois de 14 dias de viagem, chegamos em Nápoles, indo para o vulcão extinto de Bagnoli, onde a poeira era fina como trigo e a falta d’água era uma realidade. Tomar um banho era problema e ainda por cima a gente era obrigado a fazer a educação física no meio daquela poeira. Com tanta poeira e com a falta d’água, todo mundo ficou encardido.” (Cabral, G.M.1979, pág. 48)

O Brasil na Itália (foto Internet)
“As saídas, sem licença, desse acampamento, dos nossos soldados fizeram com que o comando tomasse as suas providências. Como todos estavam alojados em barracas, foi feito um cercado de madeira (pau a pique), para servir de prisão, logo batizado de “chiqueirinho”. A qualquer falta, vinha a ameaça de mandar para o chiqueirinho.” (Cabral,G.M. 1979, pág. 48)

“De Bagnoli seguimos para Tarquinia e depois para Vada. Nesses locais tomamos conhecimento com as armas que iríamos usar e recebemos treinamento que muito nos ajudou a vencer no campo de batalha, sem perder muitos homens do 6° R.I. morreram apenas 54, enquanto o 2° escalão perdeu mais de 300 por não ter passado pelo mesmo treinamento.
Em Vada os treinamentos foram mais intensos e até chegamos a simular um combate, ás vistas de generais norte-americanos, que gostaram e mandaram que a tropa estivesse pronta para o batismo de fogo.
Não se passaram muitos dias para que estivéssemos na luta, começando por Filetole até chegar a Camaiore, onde obteve a FEB um dos maiores sucessos. Tomei parte na tomada do Norte Valimona, onde nossa 3ª Companhia garantia o flanco direito da tropa que atacou Camaiore. Nesse combate morreu o joseense Névio Baracho.
Da região de Camaiore, partimos para o combate de Barga, onde o insucesso foi total, devido à falta de apoio e de reforços. A maior parte teve de recuar e os que ficaram foram salvos por milagre ou foram mortos e aprisionados.
Trata-se do combate pela posse de Colle San Chirico. O comando da FEB não soube calcular a importância desse setor, pois se fosse tomada essa posição, os brasileiros enfiariam uma cunha nas tropas alemães e queimariam etapas rumo ao norte da Itália, coisa com a qual os nazistas jamais concordariam, tanto que colocaram ali tropas escolhidas, inclusive SS. Para se tomar uma posição como aquela, era necessário não só uma coluna de tanques, como apoio aéreo, pelo menos de observação.
Ocorria, ainda, que a região estava infiltrada de fascistas, que passavam todas as informações para o inimigo.


No dia 30 de outubro de 1944, o II Batalhão do 6° R.I. recebeu ordem de avançar sobre Colle San Chirico, como mochila e munição aliviadas! Às 13 horas a 3ª Companhia partiu no ataque. Meu grupo conseguiu chegar até o objetivo, mas sofreu uma baixa, o soldado Vicente Batista, que morreu nos meus braços, após receber um tiro na cabeça. O soldado Toledo foi ferido no joelho por perfuração de bala e eu tive de ceder um soldado pra acompanhar o padioleiro que o socorreu.
No dia seguinte, 31 de outubro, juntamente com o comandante do Pelotão, tenente Figueiredo, fomos reconhecer a situação e recebemos rajadas de metralhadoras quase à queima bucha. O tenente recuou com meu grupo, enquanto juntamente com o comandante da Companhia, procurávamos de dentro da casa, reconhecer o inimigo. Por fim, ficamos sitiados dentro da casa, que por ser encravada no morro, tinha saída de seus três andares para terra. Éramos oito dentro da casa. Às seis horas, vimos o soldado apelidado de Gambá ser alvejado pela metralhadora alemã, que lhe arrancou a metade do rosto. Com grande dificuldade conseguimos trazê-lo para dentro da casa, mas pouco pudemos fazer por ele, senão derramar-lhe sulfa em pó no ferimento, mas ele não tinha a bochecha, a sulfa ia para sua boca. Não havia gaze nem algodão. Restava dar-lhe aos poucos alguns goles de água.
Na porta lateral, de metralhadora em punho, estavam o soldado José Ribeiro Bastos, eu e o cap. Atratino Cortes Coutinho. Em dado momento, um alemão se encaminhou para o nosso lado e o capitão Atratino o abateu a tiro de carabina. Lembro-me que um soldado alemão que vinha um pouco atrás gritou Wilherm, para advertir, mas Guilherme já estava morto.
Foi o quanto bastou para que os alemães concentrassem fogo sobre a casa e, em dado momento, alguns entraram no 3° andar da casa e começaram a rolar granadas de mão sobre nós. O único recurso era saltar pela janela, que dava passagem a um de cada vez. O primeiro a saltar foi o cap. Atratino; em 2° saltou o tenente José Maria Pinto Duarte e foi serrado no ar. Pela metralhadora. Como eu era o mais magro, saltei em 7° lugar, deixando com grande tristeza, no interior da casa o soldado Gambá, que nervosamente tentava levantar-se. Caí ao chão e quando fui atravessar a cerca tomei um estrepe mourão da cerca, que depois me produziu uma enorme inflamação, obrigando-me a ir para o hospital, com ameaça de gangrena.
Depois que atravessei a cerca, vi o tenente Duarte esvaindo-se de sangue e quis socorrê-lo, mas o cap. Atratino gritou-me para sair daquela área. Levantei-me rezando a Nossa Senhora e passei a abandonar o local, mas alguma coisa me segurou, quando uma bala passou zunindo nos meus ouvidos e pegou o bico da minha botina. Naquele dia nasci de novo. Dali segui pelo campo escondendo-me nas parreiras e quando corria era perseguido por tiros de metralhadoras e petardos de morteiro. Enfim consegui chegar a um local sem perigo, mas a pele dos meus calcanhares tinham saído, meu pé era uma chaga, tanto o direito como o esquerdo. Encontrando um riozinho fui lavar as feridas e quase virei com vertigem.” (Cabral,G.M. 1979, pág. 48)


segunda-feira, 7 de abril de 2014


Algumas considerações particulares sobre a II Guerra



Eu me senti, sempre, muito à vontade, em meio àqueles senhores emocionados pelas lembranças, pois também sou filha e neta de ex-combatentes, herdeira de outras memórias.
A grande diferença é que meu pai e avô combateram nas hostes alemãs, portanto, se perfilaram do lado do inimigo... e aí cabe um parênteses, para nossa reflexão: inimigo de quem?
Para os meus, o inimigo feroz e sanguinário era Stalin que destruiu tantas vidas e tantas famílias na Rússia.
Tito seguia seus passos na Iugoslávia. Stalin foi um dirigente ditatorial que, a cada dia, deliberava com sua mente macabra e doentia, quantos russos deveriam ser eliminados naquele mês, naquela determinada cidade, sob a mera elucubração de que seriam “inimigos da Pátria”: pessoas que criticavam o regime comunista. Regime que, hoje se sabe, eliminou, aproximadamente, 22 milhões de cidadãos inocentes, e, dentre eles, meus parentes.(como relato em meu livro Tempo Submerso - Stalin, sobrevivemos ao terror)  Quando o pai e o avô vislumbraram uma oportunidade de lutar contra esse facínora e seus seguidores (o avô conseguiu fugir em 1920 da Rússia para a Iugoslávia, onde meu pai nasceu) alistaram-se no exército alemão, na esperança de exterminarem os comunistas). A Alemanha perdeu a guerra, e, minha família, as esperanças de libertar seu povo e voltar ao seu País.

Berlin 1945
Meu pai, Wladimir Saharovsky, nasceu em 1922. Saiu da Universidade, diretamente para as trincheiras já como tenente. Lutou contra os Partisan na Iugoslávia .  Foi ferido em combate. Ganhou a Cruz de Ferro por bravura em batalha. Seu pelotão, de cinquenta soldados, foi quase que absolutamente dizimado. Voltaram 14 rapazes vivos.
“Também, éramos todos muito jovens, ninguém havia se preparado para matar!” comentava ele, comovido.
Deve ser muito difícil preparar-se para matar ou morrer, assim, a contabilidade das inúmeras mortes que o pai ocasionara, perseguiram-noa vida inteira. Vladi deixou a guerra, mas a guerra nunca o deixou. Ela prosseguia acontecendo, rememorada em cada encontro de amigos, em cada esquina, em cada mesa de bar: os colegas mortos, os corpos destroçados, os morteiros, as granadas, as trincheiras, os canhões; o cansaço das longas caminhadas, a poeira, a sujeira, os piolhos, o calor infernal, o frio medonho; a incerteza do dia seguinte, as batalhas ganhas, as lutas perdidas, as cartas, os retratos, as estratégias, os atos de bravura. As tropas inimigas invadiam seus sonhos, seus cochilos, seus devaneios. Mesmo dormindo, ele estremecia, dava ordens imaginárias aos seus subalternos, soluçava. Anos e anos presenciei estes fatos, e agora, ouvindo as reminiscências dos pracinhas brasileiros eu pensava: tantas histórias, todas tão pessoais e tão parecidas! Mudara apenas o palco dos acontecimentos! Quantos amigos o pai fez em Jacareí, ex-combatentes, como ele, que, se houvessem se encontrado em campos de batalha, teriam se confrontado!
Eu nasci já no pós- guerra, num campo para refugiados, em Salzburg, na Áustria, onde os meus foram em busca de refúgio. Não poderiam ser repatriados, pois seu destino seria a morte. Imigramos para o Brasil no início dos anos 50. Getúlio tinha acabado de suicidar-se com um tiro no peito.
Escola russa do Campo de Refugiados Lager Parsh, Salzburg, Áustria, onde eu nasci
 A economia brasileira, deficitária como em todos os países da Europa, aos poucos ia se recuperando.  Nossa vida, aqui, nesse período, também não foi nada fácil. Eu, menina, não conseguia fazer amigos. Éramos vistos como os “russos que comiam criancinhas”. Fui hostilizada no Grupo Escolar. Levei apelidos desabonadores até o final de minha infância. Criei, numa forma que encontrei para me proteger, alcunhas brasileiras para mim, (Lucia da Silva, eu me apresentava e escrevia na identificação de meus livros e cadernos) para ser igual a todo mundo. Em vão! O sotaque, o tipo físico, as roupas, meu avô russo que sempre ia me buscar na escola, com receio de que eu me perdesse, minha família... tudo me denunciava!
Nessa época não se falava em bullying , então, não tenho muitas lembranças boas de meus primeiros anos escolares, onde, não apenas crianças me segregavam, mas alguns professores também. Foi uma época de superações diárias, que eu, estoicamente, cumpri.
E eu não era a única criança diferenciada, apartada, ridicularizada!
Crianças japonesas, alemãs, russas, lituanas, húngaras, búlgaras, bielorrussas, filhos de antigos imigrantes, algumas já nascidas no Brasil, prosseguiam sendo hostilizadas por conta da guerra que se consumou tão longe daqui! Todos nós, imigrantes, éramos os “bichos d’água”, “chucrutes”, “pastéis”: pessoas desqualificadas pela cor dos olhos, dos cabelos, pelo sotaque carregado. E que culpa nós tínhamos? Principalmente as crianças?
O rancor étnico é terrível, em todas as suas manifestações!
Carapicuiba,  S. Paulo foto década de 50
Morávamos numa vila na periferia de São Paulo, em pequenas vilas de casas geminadas. Tínhamos dois vizinhos e um deles era ex-pracinha brasileiro. Pessoa afável quando sóbria, mas quando bebia, e o fazia todos os dias, espancava sua mulher, espancavaseus filhos, saía à rua e jogava tudo o que encontrava à mão em nossa janela, chamando o pai para a briga: “Ô Chucrute, ô Chucrute! Saia, se for homem!”, gritava. E o pai, que também bebia, ficava transtornado, precisando ser retido à força, pela mãe e pelos avós. A radiopatrulha colocava ordem na vila, mas não prendia ninguém, por respeito aos “neuróticos de guerra” e, assim, ficávamos todos à mercê do próximo capítulo, sempre violento. Era um pesadelo noturno diário, que se repetia e repetia. Lembro-me de que os gritos da mulher, o choro das crianças, o som dos tapas atravessava as paredes do quarto e me aprisionava na angústia e no pavor... Mudamos inúmeras vezes, de casa, de rua, de bairro.
São Paulo na década de 50
A profunda tristeza dos meus, mais o medo, a insegurança, a inadequação nesses primeiros anos no Brasil, constituem, as minhas próprias memórias de pós-guerra!
Relato isso, porque as sequelas de uma guerra nunca terminam nos campos de batalha.Elas acompanham, igualmente, todas as famílias dos ex-combatentes, por muito tempo, às vezes, pela vida inteira! As guerras, todas, nos deixam sempre um “em haver” pessoal enorme, que governo algum consegue pagar! Aliás, a bem da verdade, nem se preocupa!
Pergunto a todos: e o que foi que o governo brasileiro fez pelos seus pracinhas que retornaram doentes, física e mentalmente? Os mutilados? Os desajustados? Os desempregados? Na pesquisa que fiz, para escrever este livro, encontrei inúmeros relatos de ex-combatentes que viraram mendigos, alcoólatras. Heróis da Pátria num dia, problema social esquecido, no outro. E isso não ocorre só no Brasil. As sequelas dessas guerras inúteis são vistas no mundo inteiro: na Rússia, os homens com algum tipo de deformação física ou psicológica encontram-se em todas as famílias. Nos Estados Unidos, idem. Na Alemanha, França, Itália, a mesma situação se repete e as guerras prosseguem! E as provocações prosseguem! E a intolerância prossegue. Prosseguem as mortes, as torturas, as mutilações. Triste humanidade, essa nossa! Triste herança para nossos filhos! Não podemos nunca glorificar as guerras, romanceá-las, enfeitá-las com atos de bravura. As guerras são todas más. As guerras dizimam o corpo e a alma das pessoas, e, o pior de tudo: as guerras não nos levam a nada, que não seja: sofrimento, renúncia, dor, ódio, revolta e destruição... e depois a reconstrução dos países, até que nova guerra ecloda, e a mesma história se repita!
Nesse mundo tão moderno no qual vivemos, a Paz precisa ser buscada por todos os meios. Guerra, nunca mais! (Ludmila)

quarta-feira, 2 de abril de 2014


Histórias do front

Memórias dos pracinhas de Jacareí na Itália
Sede do MMDC, hoje Museu do Expedicionário em Jacareí
Nossas conversas aconteciam sempre na sede do MMDC na Praça dos Expedicionários, em mesa redonda, e, conforme as recordações afloravam, iam sendo relatadas:

“Quando voltamos às nossas cidades, a maioria foi até Aparecida, pagar promessa e agradecer a Nossa Senhora Aparecida por termos voltado inteiros para as nossas famílias, embora a padroeira do nosso Regimento seja a Nossa Senhora de Lourdes. É que o 6º. Regimento, enquanto aguardava oregresso após a guerra, ajudou na reconstrução da igreja na cidade de Vada ,  na Itália. Ela foi destruída pelos alemães. Nas ruínas da igreja, foi encontrada a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, intacta e denegrida pelo fogo.
Posteriormente, uma comitiva de freiras Salete, em novembro de 1945, chegou a Caçapava e ofertou essa mesma imagem, em nome da população de Vada, em reconhecimento, ao 6º. RI pelo trabalho que lá fizemos.” (Álvaro Lourenço)

“E o que contavam do João Américo da Silva, lembram-se?”, pergunta o Sr. Antonio Cândido dos Santos.
“A gente se lembra, a gente se lembra...Quem vai contar a história?”
“Conte você, que lembrou, pede Álvaro Lourenço...”
Soldados brasileiros da II Guerra Mundial ( acervo Luis Antonio da Silva (Guandú)
“Antes de nosso embarque para a Itália, o navio fazia treinamento com as tropas, pra preparar a gente para a hora da partida. A gente pensava que estava partindo, mas na verdade estava dando uma volta e retornando ao porto. Isso aconteceu várias vezes. Então, o João Américo, achando que a próxima partida também seria só pra treinar, resolveu dar uma chegadinha em Jacareí, para visitar o pai dele, que não andava bem de saúde. Só que, ele saiu sem avisar, e enquanto vinha pra Jacareí, o nosso navio partiu de verdade pra Itália! Aí, vieram procurar ele em Jacareí e prenderam o moço como desertor. Ele ficou preso no quartel em Caçapava...”
“Foi preciso a família dele recorrer à ajuda de Dona Francisca da Costa Siqueira, que era presidente da LBA, que foi lá e contou a história toda. Daí, ele embarcou pra Itália no navio seguinte. Coitado...Ele morreu pouco depois, em  combate, na tomada do Monte Castelo. Seu corpo foi encontrado ileso, porque ficou esse tempo todo debaixo da neve. Ele foi sepultado no Cemitério Militar de Pistóia.”  (Antonio Cândido dos Santos)
“Nós sempre fomos muito bem tratados pelas pessoas, em todos os lugares da Itália onde a gente parava. Os italianos gostavam muito dos brasileiros,” recordam todos.
“Na Itália, em Nápoli, quando chegamos, a gente não precisava ter dinheiro. O comércio era todo à base de trocas, e o cigarro tinha valor maior do que o ouro" recorda o Sr. Luis Guandú. " A gente saía e levava junto 5, 6 maços de cigarros. Com 5 maços você tinha mulher, vinho e comida à vontade".“ A vida no acampamento continuou até o dia 30 de julho, quando recebemos a ordem para deslocamento. Saímos no dia 31, às 3 horas da tarde para a estação de Bognoli a pé. Lá embarcamos num vagão de transporte rumo à cidade de Farquinia. A estrada tinha túneis tão compridos, que alguns, a gente levava uma hora para atravessar.”(Luiz Antonio da Silva)
Soldados brasileiros na Itália
“Ô Guandu, conta aquela história do salvamento do General Atratino Cortez”, pede Seu Francisco.
“Ah! Aquela foi muito boa! Eu era o ordenança do General. Um dia ele e outros soldados estavam numa casa num morro cercado por alemães. No quintal da casa, estava o João Sant’Anna, com uma metralhadora engatilhada, pronto pra passar fogo no inimigo. O João Sant’Anna era muito corajoso. Não tinha medo de nada, só que os alemães também não tinham. Quando ele viu que eles iam abrir fogo, saiu correndo morro abaixo e se atirou rolando no meio de uma plantação de uvas. As balas passavam zunindo em cima da cabeça dele. Sorte que ele não levou nenhum tiro! Também, o moro ajudou, não é? Daí, logo em seguida, a patrulha da FEB, onde estavam eu, o cabo Faria de São Paulo, o Sargento Júlio, de Bragança Paulista, chegamos lá e abrimos fogo contra os alemães. Matamos alguns deles.” (Luiz Antonio da Silva)
“Seu Lourenço, e as suas lembranças?Conte algumas pra gente...” peço.
“Olha, dona Ludmila, eu escrevi um diário durante o tempo em que estivemos na Itália, onde marquei as datas, as ofensivas e as cidades pelas quais passamos. Vou fazer uma cópia e trazer para a senhora ler. Lá está tudo explicadinho .”(Álvaro Lourenço)

“Eu me recordo do nosso primeiro dia no navio. De noite a gente não enxergava nada, nem sei como cheguei no meu beliche para dormir. De manhã, aquela fila enorme para pegar a primeira refeição. Quando terminei de tomar o café da manhã, já tinha uma fila enorme para retirar o almoço. Passados alguns dias, o pessoal conseguiu se organizar e a gente comia na hora certa. Cada um de nós recebia um cartão que era perfurado a cada refeição, assim eles tinham um controle sobre quem já tinha comido ou não. Tomar banho também era um problema. A gente tinha que se lavar com a água salgada. A doce era só pra beber e pra cozinhar.”(Francisco Arthur Gomes)

“Passamos 14 dias viajando. Chegamos a Nápoles e de lá nos mandaram pra Bognoli, que ficava na boca de um vulcão extinto. Lá, era puro pó. Águapara o banho também era um problema. Brasileiro não sabe ficar sem tomar banho todos os dias, então a gente sofreu... A comida lá em Bagnoli também foi outra dificuldade. Deram pra gente uma comida enlatada: carne com feijão e um tempero horrível. A gente não conseguia comer aquilo... De Bagnoli seguimos para Tarquinia. Lá recebemos treinamento de como usar as armas que nos deram, o que foi muito útil.” (Álvaro Lourenço)

“O que eu mais me lembro é do inverno. Tinha noites que a gente não conseguia se esquentar. No inverno lá fazia um frio de 18 , 20 graus negativos. Muitos soldados pegaram pneumonia e foram mandados para se cuidar nos Hospitais. A gente se vergava de tanta câimbra. Esse frio nosso é fichinha perto do frio de lá! Vocês se lembram?” (Francisco Arthur Gomes)
Soldados Brasileiros em Montese, Itália

Correspondência trocada entre Luis Antônio da Silva e seus familiares
“Eu me lembro da alegria que era receber as cartas da família. A gente ficava esperando, daí, cada um ia pro canto ler as suas. Meus irmãos me escreviam bastante contando as notícias lá de casa, dava muito conforto pensar na família, tão longe da gente.”(Luiz Guandu)
Continua....

terça-feira, 1 de abril de 2014


Documentário sobre a II Guerra Mundial

http://youtu.be/PFWc9UKB9Ao

Memória dos Pracinhas de Jacareí na Itália - Parte II



(continuação)
 Num de nossos encontros, o Sargento Lourenço presenteou-me com a versão em xerox, encadernada, deste seu caderno, onde ele registrou os principais episódios da II Guerra Mundial por ele protagonizados. Assim, inicio estes depoimentos transcrevendo parte de suas anotações que começam com a seguinte dedicatória:

 “Este Registro é um Diário de Guerra real, vivido por este brasileiro. Ele destina-se a todos os jovens brasileiros que se interessam pela valorização dos homens que lutam por ideais nobres, como a defesa da Pátria, através de atos e não de demagogia. Deixo-lhes, aqui, os fragmentos de meu diário, de um brasileiro comum como os demais companheiros, que um dia tiveram que deixar a Pátria e seus entes queridos.”

Tomei a liberdade de intercalar algumas de suas anotações, com breves trechos, que constam do site: “Os pracinhas na guerra - A cobra fumou na Itália, capítulo onze" http://www.pitoresco.com/historia/republ211.htm e que aparecerão em itálico.
Estes textos destinam-se, exclusivamente, para complementar as informações do diário.

29 de junho de 1944: embarcamos no Porto do Rio de Janeiro.  Às 22h embarcou 1º. Batalhão e, às 23h, embarcaram o 2º. e o 3º Batalhões do 6º. Regimento de Infantaria. Junto embarcou também um Grupo de Artilharia, uma Companhia de Engenharia e um Pelotão de Transmissões, perfazendo um total de 5.075 soldados e oficiais.*

* “O embarque do 1º Escalão se faz no mais absoluto segredo. As janelas dos vagões ferroviários são vedadas para isolar o contato com o mundo exterior e os soldados recebem a informação de que estão sendo transferidos para outro campo de treinamento. Tudo era disfarce. Quando se deram pela conta, estavam no porto do Rio de Janeiro, embarcando no navio-transporte americano "General Mann". Antes da partida, Getúlio Vargas vai a bordo para deixar-lhes uma palavra de despedida. E só. Não houve sequer oportunidade de se despedir dos parentes, que só souberam da viagem quando o navio já ia em mar alto. A bordo, para surpresa geral, ia também o comandante da 1ª Divisão de Infantaria, general Mascarenhas de Morais, com seu estado maior. Na prática, era ele o comandante efetivo, dono da situação e senhor único de um segredo, que lhe fora passado pelo general Kroner, adido militar americano. Só ele, e mais ninguém, nem o general Zenóbio, que comandava o escalão embarcado, sabia qual o porto de destino da embarcação.” (Os pracinhas na Guerra, A cobra fumou na Itália – capítulo 11)

02 de julho de 1944: Entre as 6h e 6h30, o navio americano General Mann com o nº 112 na proa deixava o Porto do Rio de Janeiro com destino ignorado. Em águas brasileiras, fomos patrulhados por uma escolta brasileira composta pelos navios destróieres Marcelino Dias, o Greenhalgh e o Tamandaré, pois operavam no Oceano Atlântico vários submarinos alemães.
05 de julho de 1944: Foi anunciado um exercício para abandono do navio. Após esse treinamento de meia hora, a escolta brasileira foi substituída por outra, americana, composta por um cruzador e dois destróieres. Ao anoitecer viam-se luzes ao longe: era Las Palmas, nas Canárias.
13 de julho de 1944: por volta das 16h, atravessamos o célebre Estreito de Gibraltar, saindo do Oceano Atlântico para o Mar Mediterrâneo. Desse ponto em diante, fomos patrulhados por uma esquadrilha de aviões de caça dois nossos aliados até o Porto de Nápoles, totalmente destruído. Desembarcamos e fomos acampar numa pequena aldeia nas imediações de Nápoles, com o nome de Bagnoli,  onde ficamos vários dias. De lá saímos para Toscana  em caminhões, para a região de Vada, Staffoli e Livorno.
11 de setembro de 1944: o general Mark Clark, comandante do 5º. Exército Americano visita nossas tropas acompanhado do general Crittenberg, comandante do 4º. Corpo de Exército do qual fazíamos parte.
16 de setembro de 1944: o 6º. Regimento substitui o 334º. Regimento Americano, do Neros, passando a primeira linha e ocupando um setor de 4.000 metros aproximadamente.
17 de setembro de 1944: ocupamos as primeiras localidades italianas: Massarosa e Bozzano. Este era o destacamento do General Zenóbio da Costa em operações de marcha para o combate com a Linha Gótica, a oeste da Península.
18 de setembro de 1944: ocupamos, sem baixas, a cidade de Camaiore.
30 de setembro de 1944: a 8ª. Companhia ocupa as cidades de Borga, Manzano e uma aldeia de nome Formole.                          
01 de outubro de 1944: o soldado Aguiar, após ser ferido, vai em frente em direção à arma que o atingira e morre no local, recebendo uma rajada de metralhadora.
05 de outubro de 1944: o 2º e o 3º. Batalhões ocupam as posições na região de Polazzo, Torre de Nerone, Volpara e Castelacio, estabelecendo novo contato com o inimigo e sofrendo várias baixas.
06 de outubro de 1944: no vale do Rio Serchio, a 7ª. Companhia ocupa as localidades de Formachi e Barga. Nessa missão, eu tive participação direta: nosso Capitão, perdendo contato com o 1º, 2º e 3º pelotões avançados, me ordenou que eu entrasse nessa cidade com uma patrulha. Lancei mão dos elementos de que dispunha com a Seção de Comando e tive o privilégio de ser um dos primeiros a entrar na cidade de Formachi, enquanto parte dela estava ocupada por tropas alemãs.
07 de outubro de 1944: uma patrulha alemã fortemente armada entrou na cidade de Formachi com as armas a tiracolo, cantando a canção alemã “Lili Marlene”, quando foi surpreendida pela Seção de Comando e o 3º Pelotão. Abrimos fogo e eles se dispersaram, sendo que uma parte conseguiu fugir. Nessa operação, foram presos 4 soldados alemães e 2 russos, com suas armas, sendo uma submetralhadora e uma pistola automática P. 38. Depois de uma hora de represálias, recebíamos uma carga de granadas do famoso morteiro 88. Essas não assobiavam. Elas faziam o famoso cha,cha,cha.... Um estilhaço feriu-me a perna esquerda e um de meus remuniciadores teve ferimento no ombro. Fomos medicados no Posto de Padioleiros avançado.
11 de outubro de 1944: continuamos a nossa progressão para o Norte. Tomamos a cidade de Barga, onde morreu o 2º Tenente Osvaldo Pinheiro de Mendonça, comandante do pelotão, que pisou num campo minado, segundo depoimento do 3º. Sargento Francisco Leite de Morais, de Santa Branca, que apanhou parte de seu corpo e enrolou num cobertor, na Província de Gallicano.
22 de outubro de 1944: uma patrulha brasileira constituída por uns 20 soldados, sob o comando do 2º. Tenente Manoel Barbosa, chocou-se com o inimigo, e, submetida a intenso fogo, refugiou-se numa casa. Algumas granadas incendiárias foram lançadas sob a casa, tendo desaparecido o 2º Tenente Manoel Barbosa, o 3º Sargento José de Barros Filho, o Cabo Amintas Peres de Carvalho e os soldados Mario Gonçalves da Silva e Guilherme Barbosa de Mello.
30 de outubro de 1944: o 6º Regimento de Infantaria ataca a leste do Rio Serchio e conquista, apesar da resistência inimiga, as regiões de Lama di Sotto e Monte San Quirico.
31 de outubro de 1944: o inimigo ataca nossas posições em Barga, onde fica ferido o 1º Tenente José Maria P. Duarte, que, devido ao intenso combate não pôde ser transportado pelos seus colegas, que o escondem, com a finalidade de mais tarde buscá-lo. Eu, mais uma vez, guarnecia, com a Seção de Comando um entroncamento estratégico, com uma metralhadora P50, bazucas e outras armas. Fui notificado e vi partir uma patrulha com alguns soldados, sendo um deles de Jacareí: Luis Antonio da Silva, ou Guandu, comandados pelo capitão Altatino Cortes Coutinho, com a missão de trazer o tenente José Maria. Sem êxito. Não mais o encontraram.
08 de novembro de 1944: o sargento Onofre Rodrigues de Aguiar, natural de Mogi das Cruzes, se infiltrou em uma posição alemã e aprisionou 2 soldados e suas metralhadoras. Por esse ato de bravura, foi promovido a 2º Tenente.
Meados de novembro de 1944: no início de novembro de 1944 a meados de fevereiro, sofremos o inverno. Nesse período, fomos às margens do Rio Reno, ao norte e a oeste de Porreta Termas. Aí a FEBE passou a atuar com uma divisão inteira sob o comando do General Mascarenhas de Moraes.* Desta feita, foram executados ataques malogrados a Monte Castelo. Fase de heroísmo dos Pracinhas em território de ninguém.

* “ Não obstante as chuvas que não paravam de cair, as tropas avançaram em direção ao alvo proposto, conquistando pequenos pontos, como Lama di Soto, Monte San Quirico e Somocolonia.  Isso foi a 30 de outubro de 1944. Os sucessos deram ânimo para o ataque maior e fulminante a Castelnuovo, que deveria ser realizado no dia seguinte. Mas, antes disso, os alemães contra-atacaram com todo seu poder de fogo, obrigando os brasileiros a recuar a Somocolonia.  Depois desse insucesso, Zenóbio permanece com a Infantaria, mas sob as ordens de Mascarenhas de Morais, que assume em definitivo o comando da 1ª Divisão. Os brasileiros foram transferidos, então, para o vale do rio Reno a 120 quilômetros do vale do Serchio. A essa altura, tínhamos feito 208 prisioneiros e os alemães aprisionaram 10 dos nossos. Mas o insucesso da última batalha nos custou 13 mortos e, desde o início de nossa participação, contabilizávamos 183 feridos em acidentes e 87 em combate. A guerra começava a pesar, e não era nem uma amostra do que estava por acontecer.” (Os pracinhas na Guerra, A cobra fumou na Itália, capítulo 11)

(segue na próxima postagem)