quarta-feira, 25 de junho de 2014


Memórias do Dr. Ramon Ortiz ( Parte II)

Debret, Largo do Avareí, Jacareí
Igreja do Avareí, antes da reforma

"Falemos agora do Avareí", eu peço. O Avareí, no meu modo de ver, é algo de mais expressivo que existe em Jacareí. Falta documento escrito para provar que é a Igreja mais antiga da cidade, mas existe uma pintura célebre de Debret que a retrata tal e qual é ainda hoje. Uma coisa, porém, é absolutamente certa: Avareí significa - Abarei - ou seja, água de Abaré. Abaré, na língua indígena, quer dizer Missionário;
tanto que, no litoral sul, em Itanhaém, existem umas relíquias notabilíssimas chamadas de Abaré-bebe. Este abaré era um missionário que caminhava muito depressa, ou seja, o missionário-voador. Tratava-se do padre Leonardo Nunes que por lá esteve na época de Anchieta. Fazendo-se analogia, veremos que o Abarei será a Água do Abaré. Por quê?
Sabemos que no Avareí existia um córrego que desaguava no Paraíba, e foi ali que entrou a canoa do nosso primeiro missionário. Por isso, o nome. Por isso, temos tudo para acreditar que lá começava a vida religiosa de nossa cidade. Esse córrego existe hoje, canalizado, irrigando ainda a Escola Profissional.

Igreja Nossa Senhora do Carmo
“O que o Sr. sabe sobre a Igreja de Nossa Senhora do Carmo? pergunto.”
Sei que ela foi um templo tradicional em Jacareí, que ficava ali, no alto da Rua Pompílio Mercadante, anteriormente chamada de Rua do Carmo, exatamente por causa da igreja. Ela foi denominada para ser reconstruída logo a seguir; mas o tempo foi passando e, até hoje, isto não ocorreu.
Construir-se uma igreja, hoje em dia, é muito trabalho, mas apesar das dificuldades, guardo ainda a esperança de que, alguém, algum dia, tenha a feliz ideia de reerguê-la.

Mestre Zezinho
“E sobre as danças populares, Dr. Ramon, que a Igreja, antigamente, não via com muita simpatia, o que o Sr. pensa?”
Eu acompanhei, na cidade, sempre com muito interesse e grande simpatia, as danças de Moçambique. Ate hoje eu gosto de vê-las, pois se trata de um tipo de folclore muito natural e muito espontâneo, de religiosidade pura do povo. Houve época em que esse tipo de 'manifestação religiosa’ sofreu certa oposição. Queriam acabar com essa dança, como já haviam feito com a festa do Divino e eu sempre lutei para preservá-la, para dar continuidade às tradições populares. Moçambique é uma dança de divertimento e religião que eu sempre apreciei por sua ingenuidade e sua beleza. Recordo-me até de um versinho que se cantava assim:
“Que encontro bonito tivemos agora
São Benedito com Nossa Senhora...”

festa do Divino em Jacareí
Festa do Divino em Jacareí

Festa do Divino em Jacareí
Por falar em festas populares, gostei de ver, dona Ludmila, seu interesse pelo folclore de Jacareí, e acho que a senhora deve continuar neste caminho, lutando por nossas tradições... (segue)

Grupo de Folia de Reis

Um comentário:

  1. O folclore é muito legal e bem poderia ser cada vez mais fortalecido em vez de deixado de lado.
    Quando criança curtia muito assistir às apresentações dos homens dançando moçambique e batendo aqueles, como eu mesmo dizia, pauzinhos.
    As apresentações às quais eu assistia eram sempre nas festas juninas na Igreja do São João.
    Tinha de tudo, até pau-de-sebo.

    ResponderExcluir

Este comentário será exibido após aprovação do proprietário.