sexta-feira, 29 de agosto de 2014


Receitas Regionais



Peixe azul marinho (prato típico caiçara)

Este é um dos pratos mais tradicionais da cultura caiçara. O nome vem da cor azulada que ele ganha a partir do cozimento da banana verde com o peixe. Nesse processo, o tanino - substância que é responsável por aquela sensação  de “amarrar a boca”, que sentimos quando mordemos frutos verdes - desprende-se da banana e libera a cor ao preparado. O peixe e a banana são ingredientes muito frequentes na cozinha caiçara, porque é muito fácil encontrá-los nas regiões litorâneas. Este é o prato típico do litoral norte de São Paulo (Bertioga, São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba), mas pode ser encontrado em regiões litorâneas de várias partes do Brasil. A receita pode variar de região para região.
Ingredientes:
1 kg de peixe (garoupa, cação ou cavala) / 1 xícara de chá de óleo/ 2 cebolas grandes picadas/ 6 tomates picados, sem pele nem sementes / 4 dentes de alho amassados / 1 xícara de chá de folha de alfavaca picadas / 1 maço de cheiro-verde picado / sal e pimenta-do-reino a gosto / 8 bananas-nanicas ainda verdes e 1 1/2 xícara de chá de farinha de mandioca

Modo de preparo:
Limpe os peixes (reserve as cabeças) e corte-os em postas. Aqueça o óleo numa panela grande e acrescente e a cebola, o tomate e o alho e refogue até dourar ligeiramente. Adicione as postas de peixe à panela, juntamente com as cabeças reservadas. Cubra com água, acrescente a alfavaca e o cheiro-verde e tempere com sal e pimenta-do-reino a gosto. Tampe e deixe cozinhar por 30 min. Não mexa durante o cozimento, para desfazer o peixe. Descasque as bananas e cozinhe-as numa panela com água, até que fiquem quase moles.
Passado o tempo indicado, passe o peixe para uma travessa aquecida (sempre tomando cuidado para não desfazer as postas), regue com uma concha do molho do cozimento e reserve em local aquecido. Escorra as bananas e amasse-as com um garfo. Coe todo o molho restante do cozimento do peixe e adicione o purê de banana, misturando bem. Acrescente a farinha de mandioca, misture bem e cozinhe por alguns minutos, até obter um pirão leve. Para servir, coloque o pirão no centro de uma travessa e contorne com as postas de peixe. Sirva bem quente.

Furrundum ou furrundu



Doce típico da culinária caipira do Vale do Paraíba. Em geral, é feito com cidra e mamão ralado, gengibre e rapadura. Presentes nas mesas desde os tempos coloniais, os diversos doces e compotas - apesar de necessitarem, muitas vezes, de horas de preparo - continuam sendo muito apreciados até mesmo nos centros urbanos.
Ingredientes:
3 mamões médios verdes, descascados e ralados / 2 rapaduras de cana-de-açúcar picadas / 2 xícaras (chá) de açúcar / 1 xícara (chá) de coco ralado / 2 colheres (chá) de gengibre / 300 ml de água /1 colher (chá) de cravo-da-índia inteiros
Modo de preparo

Aqueça uma panela de fundo grosso. Adicione os mamões, a rapadura, o açúcar, o coco e o gengibre. Misture até derreter o açúcar e ficar brilhante. Adicione a água, o cravo e continue a cozinhar em fogo alto, mexendo sempre até ferver e levantar o caldo. Abaixe o fogo, tampe a panela e cozinhe por mais 15 minutos. Retire a espuma que formar na superfície. Deixe esfriar e sirva acompanhado de queijo branco.

Jacuba, o refresco dos tropeiros:
Misturar água fria, farinha de mandioca ou milho e adoçar com rapadura ou mel.


Refresco de Capim – Santo



2 xícaras de água, 1 maço de capim-santo, açúcar e limão a gosto

Bater com um martelo de cozinha o maço de capim – santo até retalhar as fibras. Colocar a água no liquidificador e juntar a erva amassada. Bater por 2 minutos. Coar numa peneira fina. Adoçar a gosto e ao servir pingar algumas gotas de limão.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014


Memórias do Sr Paulo Vicente da Silva (final)

Mapa das lendas brasileiras
Entrevistar o Sr. Paulo Vicente da Silva foi como ter uma fantástica aula de folclore com o melhor dos professores, pois o Sr. Paulo o vivenciava em seu dia-a-dia.  Seus causos, ricos em detalhes, suas receitas de família, sua devoção deixaram em mim a certeza de que a cultura popular é uma fonte inesgotável de saber dessa nossa gente valeparaibana: nosso maior patrimônio! Meu desejo e a minha esperança é que os jovens prossigam pesquisando e documentando o folclore de nossa região, para manter sempre viva esta preciosa memória. E agora, transcrevo para vocês a última parte desse rico depoimento. (Ludmila)


ervas medicinais (imagem Internet)
 Poço de Ouro? Conheço sim, senhora, e até posso levá qualqué um que quisé ve lá. Os poço de ouro surgiro no tempo em que havia os escravo. Era um tempo de judiação. Então os fazendero fazia os escravo carregá aquele baita malão de dinheiro no lombo até chega no lugar escolhido. Daí eles obrigava o negro cavá um poço bem fundo e enterrava o malão nele. Aí, pros escravos não conta onde era, eles matava os coitado e enterrava junto, no mesmo luga do dinheiro. Então, essa riqueza é uma coisa muito difícil de tirá, porque esses lugar são tudo  amaldiçoado. A alma do escravo tá lá, tomando conta daquilo.
Um dia, uns conhecido meu, viero me busca pra nóis cavocá e eu fui. Quando deu meia noite e meia, uma hora, começô uma ventania tão grande, mai tão grande, que nóis perdemo todo o serviço. E se a senhora quisé, eu trago aqui gente que foi comigo, que pode prova que isso é verdade verdadeira! Eu sei de gente que já conseguiu tira dinheiro de dentro do buraco assim, num luga longe daqui, mas perdero tudo.
Olho gordo? Claro que eu acredito! Tem gente que tem inveja, que tem orgulho dos otro, então atrapalha. Eu sempre falo pros meus fio: ocês façam a caridade, que ocês ganha a salvação. Se não pude faze o bem, não façam o mal pra ninguém.

Medicina Popular: Preparando infusões (Imagem Internet)
Médico, farmácia! Ah... é difíci eu i na farmácia. Só vou lá quando Deus permite. Eu trato meus fio, tudo cos remédio que eu mesmo preparo aqui em casa. Eu curo os que precisam, com os meus remédio e com oração.
Eu tenho reza pra cachorro brabo, pra vaca braba. Eu corto caxumba, dor de dente. Eu faço oração pra mulher que fica num inferno pra ter nenê com o parto amarrado. Então eu desato tudo isso.
Receita de remédio?
Dou pra senhora, a qual a senhora quisé. Agora tem quatro tipo de doença: uma que os remédio resolve, outra que só se cura com simpatia, outra que precisa de uma benzeção e tem alguma ainda que um bom susto também resolve.

Mdicina Popular: Benzedeiras (imagem Internet)
Toma nota aí: pra curá bichas desconfiada: fervê um bucado de erva Santa Maria e mistura com leite de peito de 3 mulé de nome Maria. Dá uma colheradinha pras criança de hora em hora.
Pra mordida de vespa: fazê um cataplasma com barro de beira de valeta. Se não tivé, botá em cima da picada, fumo de rolo mascado.
Pra lumbriga: chá de hortelã preta com chifre de boi queimado e um pouco de pacová macetado. Fais e dá pra criança bebê.
Pra curá pulmão: cozinhá  um pouco de agrião com açúcar até virar melado. Se tomá aos pouco, fecha o pulmão.
Pra sarna: tomá salsa panda e lavá o corpo com sabão de cinza.
Pra secá ferida de sarampo: passá  as semente de urucú maduro nas ferida do sarampo, que seca.
Qué mais? Se a senhora tivé tempo a gente fica por aqui mais de um dia entero e as receita num acába ...”

quinta-feira, 14 de agosto de 2014


Visita Virtual ao Museu do Folclore

http://youtu.be/eXNPBjklK_U

Poucos de nós conhecemos o belíssimo acervo do Museu do Folclore do Vale do Paraiba, localizado no Parque da Cidade, em São José dos Campos. Aqui, uma pequena mostra virtual de nossa cultura popular. Aproveitem o mês do Folclore e façam uma visita. Vão se surpreender!

Chuva de Anjos

http://youtu.be/MY7tGc0aGgc


Vídeo mostra o trabalho e depoimentos de diferentes figureiros(as) do Vale do Paraíba; e faz parte da exposição permanente do Museu do Folclore da Fundação Cultural Cassiano Ricardo (FCCR), que está localizado no Parque da Cidade, região norte de São José dos Campos, sob administração do Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP).



Memórias do Sr. Paulo Vicente da Silva (segunda parte)


Corpo Seco, lenda valeparaibana
Eu acredito em alma do outro mundo, porque eu já vi. Eu já fui
assombrado, aqui nessa estrada do Campo Grande. Eu fui guardá um corpo
porque eu sei muita reza pra isso, num lugar meio longe de casa. Então eu andava e apareceu um gemido que me acompanhava. E eu ia pela estrada, e o gemido pelo valo. A senhora sabe o que é valo? É uma divisa de terra que era feita antigamente. E eu rezano... e tudo que eu rezava, respondia lá na vala: “Ai, isso eu também sei”. E eu rezano e veno a casa do defunto, e parecia que quanto mais eu andava, mais eu não saía daquele lugar. Então, depois que eu rezei tudo mesmo que eu sabia, eu me lembrei da reza “25 de março”. Foi o que me salvo, com a graça de Deus. Essa oração 25 de março é muita antiga e a gente só pode usa ela num momento de muita precisão. Dai, quando eu terminei, me empurraro pelas costa, e foi ai que eu consegui chega. Essa reza, que a gente não pode fala a toa, eu aprendi com meu pai, e ele com meu avô. Ela, e muitas outras coisa, eu já estou passando pra uma filha minha que me acompanha sempre, em tudo quanto é festa. Eu tenho certeza que in antes deu morre, eu vou passa tudo que eu sei pra minha familha.
Contador de causo? Eu conheço uns 50 elemento que contam causo muito bem. Eu mesmo tenho muitos causo vivido comigo mesmo, que hoje, se for conta, o pessoal pensa que é mentira da gente, que a gente esta inventando  bobageira, mas é tudo verdadeiro.
Alguma coisa interessante sobre a antiga Jacareí? Ah, eu sei muita coisa. Sei da Santa que jogaram no rio, sei da história do poço do ouro, que é do tempo dos escravo, sei daquela rua que se chamava Cassununga, sabe por quê? Era uma rua que só tinha gente preto que morava ali. Não tinha outra descendência. E ali nóis cantava a folia e tinha leilão, catira, cateretê e a gente fazia paçoca e bolão de fubá. Hoje a rua se chama Salvador Preto.

Ilustração da lenda sobre Nossa Senhora Aparecida, feita por Mestre Justino
A imagem de Nossa Senhora Aparecida? É claro que eu tenho certeza que ela era de Jacareí. Certeza absoluta. Foi quando o Paraíba passava por perto da Igreja da Matriz. Então apareceu um bichão que, conforme meus antepassado assistirum, e minha mãe disse que era pra eu guardá bem a história, que ia
tê um dia que as pessoa ia quere sabe de mim e eu poderia responde a verdade. Então, o bicho foi cavando a terra, e o Paraíba se achegano pra perto da igreja, e a cidade desbarrancano com as casa e tudo. Ai, o padre jogo a image no rio. Jogo como hoje, quando foi amanhã, cesso tudo,como num milagre, e até hoje. Ai, a santa foi rodano, rodano pelo rio até que os pescado pegaro e pescaro ela. E é essa imagem que tá em Aparecida até hoje. E, nos vidro de nossa igreja tem essa história. Pode ir lá ve.

A lavação de santo eu conheço muito. É pra faze chove. Isso nóis fazia muito nos bairro. Fazia e fazemos, e chove mesmo!
É assim: a gente pega a imagem de S. Benedito, e pega uma menina que não pode passa dos seis ano. Tem que se um anjo ainda. Daí a gente manda a menina lavá o santo, e ela vai lavando no riacho ou na bica do rio, enquanto a gente faz as reza, pedindo pra chove. Daí leva a imagem de volta pra igreja,
e in ante dos três dia, pode espera que chove. A gente vai rezano o terço, acompanhano o santo na caminhada e chove. Eu mesmo já vi chover.

Festa da Carpição em Jacareí, foto Internet do blog de Chicoabelhas

Agora, eu vou contá pra senhora um causo acontecido comigo, ali, no fim da Rua do Cassununga. Eu fui numa festa da carpição, no bairro do Pedregulho, que termino de madrugada. Aí eu desapartei da minha companheirada e vim caminhando c'o a minha viola. E eu fui entrano no Cassununga, que tinha poucas casa, quando vi um vulto cavucano um baita buracão. Aí eu pensei que era um assaltante, mas, quando cheguei mais perto, vi que era uma muié que tava ali tapando um buraco. E eu perguntei pra ela: “Mas dona, o que tá enterrando aí? É cachorro? E ela Ah, é cachorro sim, morreu um cachorrinho meu, e eu tô enterrando ele bem aqui. Mas daí, como a justiça divina é tão grande, eu vi a terra se mexê. Eu olhava, e a terra ia se mexeno e a dona com aquele buta vestidão comprido, queria tampá a terra, mas não conseguia.
Nisso, saiu uma mão pra fora. Saltô uma mão pra fora, e a dona saiu correndo, e eu peguei na mão e puxei.
Sabe o que tava lá? Era uma criança de uns quatro ano, que já tava ficando preto. E o buracão que a muié tinha feito era tão grande, que precisava vê!
Daí, perto tinha um corgo sujo que passava, e foi onde eu lavei a criança e ela voltou. Então eu corri com a criança até a segunda casa, onde morava um senhor de nome Benedito Eloi, um barbeiro, que me vendo disse:
“Mas você aí, nessa escuridão, com a viola, tudo sujo de barro e com essa criança nos braço.., ocê tá bêbado?”
“Eu não! respondi.” “Ô seu Eloi, ocê sabe que eu num bebo!”
“Então, o que é que há?”
“É eu que tirei essa criança que a mulé tava enterrano viva!”
Aí ele num acredito e nói vortemo lá pra vê, ele viu mesmo que era pura verdade. A mãe da criança era solteira, e vivia no cargo de um senhor que largo ela e foi-se embora; e eu, peguei e levei a criança pra mim. Daí, no outro dia, ela foi até minha casa pra pegá essa criança, e me pediu pra não dá parte dela.
Eu falei que não ia mesmo dá parte, porque a criança graças a Deus tava viva, mas que eu não ia entrega pra ela não, porque ela não era humana, era um monstro!
Então nóis peguemo aquela discussão, e o povo foi se achegando, foi quando eu fui obrigado a da parte dela pra otoridade. A polícia me deu muita cobertura, e eu fiquei com esse menino, que levei pra minha mãe cria, porque eu inda era soltero. Mas essa criança só foi até os 15 ano. Num viveu mai.
O nome da mulé era Maria das Dores, e ela foi-se embora de Jacareí.

http://youtu.be/Tgh1Z8qYtPs

segunda-feira, 11 de agosto de 2014


Memorias do Sr. Paulo Vicente da Silva




O Sr. Paulo Vicente, é um portador vivo do folclore que temos entre nós.
Simples, religioso, sincero e muito agradável de entrevistar.
Este depoimento é de um homem essencialmente brasileiro - no linguajar, na hospitalidade, na crença profunda, na tradição, trazendo em si todas as características do homem do povo - tremendamente sensível e inteligente, em sua pureza. A entrevista foi gravada em agosto de 1978. N. do A.

Bandeira do Divino
Ói, eu vô contá pra senhora que esse grupo, Irmãos do Divino de Jacareí, foi formado por meu avô e ficô sob as ordem dele uns 70 ano, ai ficô pro meu pai, e hoje é como uma relíquia que trago comigo, porque, desde que meu pai morreu, em 1931, que eu fiquei tocano o grupo. Eu tinha 12 ano de idade quando entrei.
Acho que a festa do Divino Espírito Santo é a maior festa religiosa que tem no mundo. Nóis não dança nela como representação, mas sim por devoção ao Divino.
Hoje eu estou com 18 elemento na Irmandade do Divino. O mais importante deles, e o principal, é um tio meu, Belmiro Leite, que está com 82 ano. Ele vem com o grupo desde o tempo de meu pai e, enquanto for vivo, não saí da irmandade.
A folia do Divino Espírito Santo  é a dança mais antiga do mundo. Ela foi gerada há muito tempo atrás e, em Jacareí, ela foi formada na Igreja de São Benedito, no antigo bairro do Pau Grande, que hoje é conhecido como bairro da Cachoeirinha, pelo meu avô. Meu avô já era folião, mais cinco tio meu e
uma tia cantavam a folia. Então o povo do bairro era tudo parente, cumpadre, sobrinho, tudo irmandade, e assim formaro o primeiro grupo. Não sei a data em que ele começou, mas em 1888 a lgreja já estava lá. Quando eu digo que era no bairro do Pau Grande, o pessoal caçoa de mim, mas o nome era esse mesmo. Lá eu estudei num grupo escolar, com a professora de nome D. Lurde, cujo cabeçaio era: Escola Rural Municipal do Bairro Pau Grande! Daí acharo que o nome devia ser mudado prá bairro de Cachoeirinha, e mudaro, como ele é conhecido até hoje.

Fitas da Bandeira do Divino
Eu sempre recebo convite pra apresenta as danças do Grupo em festas religiosa, em cerimônias de casamento. Eu sou muito bem recebido em tudo que é igreja. Os padre sempre me trataro muito bem, me dão muito apoio e me chama até pra cantá dentro da Igreja, durante a comunhão na hora da missa. Eu me dô muito bem com todos os padre que conheço.
Eu apresento com meu grupo, a folia do Divino. Ai a gente dança a tontinha, a cana verde, o jongo, a congada. Eu faço e já apresentei em muitos lugar a embolada, que é uma cantiga de improviso. Eu tenho alguns verso já feito, mas o mais eu canto na hora. O desafiante canta pra mim um verso, daí eu pego a ultima palavra e toco pra frente. Eu acho fácil fazer embolada.
Música feita por mim, eu tenho umas 80. Os outro grupo também canta minhas composição, mas canta com a minha licença. A gente se reúne lá no Cassununga, num quartinho de um sobrinho meu, onde nóis fazemo dois ensaio por semana.

Grupo de dança de Jongo em Jacareí (foto Internet)
Até hoje, graças a Deus, eu só tenho recebido muito abraço, até de doutô, e os parabéns depois de todas as festa. Quarque pessoa que quisé, pode entrá pro nosso grupo, mas desde que seja religiosa. Se não for religiosa, eu num aceito. A gente tem quer ter fé. Até o dia de hoje eu não recebi nenhum tostão por nenhuma apresentação, que eu tenha cobrado. Um meis atrais recebi umas roupa, que me dero pro grupo, lá em São Jose dos Campo. Eu não cobro nada, porque eu trago isso como uma tradição. Quando eu vou a uma festa, eu vou alegre, eu faço aquela festa dado. Se as pessoa gostá e me dé uns trocado eu
aceito, se não, pra mim é a mesma coisa. Eu faço isso por  devoção e por amor, sem pensá no dinheiro. Agora, já aqui em Jacareí eles sempre me dão condução, me dero também um jogo de faixa.

O Chiquito Carteiro era meu tio. Ele morreu nos meus braço. Ele tocou violino 65 anos. Hoje é que chamão de violino, mas o nome verdadeiro é rabeca. Então, o Chiquito, o nome dele completo era Francisco Leite da Silva, ele pegou 52 menina pra criá. Hoje são tudo moça, tudo casada. Meu tio era um home muito caridoso. Como ele não pode ter família, ele foi pegano essas criança, e só pegava se fosse de papel passado. Ele não pegou elas tudo de uma vez. Pegava uma, criava, pegava outra, e assim de uma em uma ele inteirou 52 crianças.
Ele tinha uma vila de seis casa e essa vila ainda existe nos dia de hoje. É minha tia, com 83 anos, que toma conta. Ela fica na Rua Antunes da Costa nº 55.

Aliás, aconteceu um caso muito interessante comigo e esse meu tio. Nós tivemo junto numa festa, cantamo uma folia, quando o festeiro pediu pra ele que cantasse uma moda de viola. Foi quando uma moça apareceu, pegô ele e abraço com tanta força que quebrou inté a viola. Ele ficou tão sem graça diante daquele povo que se alvoroçou, que queria ate ir-se embora, mas o pessoar não deixo. O dono da casa chego e disse que não era pra se acanhá não, que a moça fez aquilo porque ficou muito emocionada com os verso que ele canto. Pois então, essa moça foi aparecida naquela festa, e ate hoje não sabemo por que foi aquilo, e ela de madrugada já desapareceu. Então surgiu na festa, que ela era morta. Que ela existia já no bairro,que o pessoar via ela de noite, fora de hora, e ouvia rebuliço. Eu sei é que até hoje ninguém nunca mais viu ela. Ela era assombrada. Alma do outro mundo. (continua)