O Sr. Paulo Vicente, é um portador vivo do folclore que temos entre nós.
Simples, religioso, sincero e muito agradável de entrevistar.
Este depoimento é de um homem essencialmente brasileiro - no linguajar, na hospitalidade, na crença profunda, na tradição, trazendo em si todas as características do homem do povo - tremendamente sensível e inteligente, em sua pureza. A entrevista foi gravada em agosto de 1978. N. do A.
Bandeira do Divino |
Acho que a festa do Divino Espírito Santo é a maior festa religiosa que tem no mundo. Nóis não dança nela como representação, mas sim por devoção ao Divino.
Hoje eu estou com 18 elemento na Irmandade do Divino. O mais importante deles, e o principal, é um tio meu, Belmiro Leite, que está com 82 ano. Ele vem com o grupo desde o tempo de meu pai e, enquanto for vivo, não saí da irmandade.
A folia do Divino Espírito Santo é a dança mais antiga do mundo. Ela foi gerada há muito tempo atrás e, em Jacareí, ela foi formada na Igreja de São Benedito, no antigo bairro do Pau Grande, que hoje é conhecido como bairro da Cachoeirinha, pelo meu avô. Meu avô já era folião, mais cinco tio meu e
uma tia cantavam a folia. Então o povo do bairro era tudo parente, cumpadre, sobrinho, tudo irmandade, e assim formaro o primeiro grupo. Não sei a data em que ele começou, mas em 1888 a lgreja já estava lá. Quando eu digo que era no bairro do Pau Grande, o pessoal caçoa de mim, mas o nome era esse mesmo. Lá eu estudei num grupo escolar, com a professora de nome D. Lurde, cujo cabeçaio era: Escola Rural Municipal do Bairro Pau Grande! Daí acharo que o nome devia ser mudado prá bairro de Cachoeirinha, e mudaro, como ele é conhecido até hoje.
Fitas da Bandeira do Divino |
Eu apresento com meu grupo, a folia do Divino. Ai a gente dança a tontinha, a cana verde, o jongo, a congada. Eu faço e já apresentei em muitos lugar a embolada, que é uma cantiga de improviso. Eu tenho alguns verso já feito, mas o mais eu canto na hora. O desafiante canta pra mim um verso, daí eu pego a ultima palavra e toco pra frente. Eu acho fácil fazer embolada.
Música feita por mim, eu tenho umas 80. Os outro grupo também canta minhas composição, mas canta com a minha licença. A gente se reúne lá no Cassununga, num quartinho de um sobrinho meu, onde nóis fazemo dois ensaio por semana.
Grupo de dança de Jongo em Jacareí (foto Internet) |
aceito, se não, pra mim é a mesma coisa. Eu faço isso por devoção e por amor, sem pensá no dinheiro. Agora, já aqui em Jacareí eles sempre me dão condução, me dero também um jogo de faixa.
O Chiquito Carteiro era meu tio. Ele morreu nos meus braço. Ele tocou violino 65 anos. Hoje é que chamão de violino, mas o nome verdadeiro é rabeca. Então, o Chiquito, o nome dele completo era Francisco Leite da Silva, ele pegou 52 menina pra criá. Hoje são tudo moça, tudo casada. Meu tio era um home muito caridoso. Como ele não pode ter família, ele foi pegano essas criança, e só pegava se fosse de papel passado. Ele não pegou elas tudo de uma vez. Pegava uma, criava, pegava outra, e assim de uma em uma ele inteirou 52 crianças.
Ele tinha uma vila de seis casa e essa vila ainda existe nos dia de hoje. É minha tia, com 83 anos, que toma conta. Ela fica na Rua Antunes da Costa nº 55.
Aliás, aconteceu um caso muito interessante comigo e esse meu tio. Nós tivemo junto numa festa, cantamo uma folia, quando o festeiro pediu pra ele que cantasse uma moda de viola. Foi quando uma moça apareceu, pegô ele e abraço com tanta força que quebrou inté a viola. Ele ficou tão sem graça diante daquele povo que se alvoroçou, que queria ate ir-se embora, mas o pessoar não deixo. O dono da casa chego e disse que não era pra se acanhá não, que a moça fez aquilo porque ficou muito emocionada com os verso que ele canto. Pois então, essa moça foi aparecida naquela festa, e ate hoje não sabemo por que foi aquilo, e ela de madrugada já desapareceu. Então surgiu na festa, que ela era morta. Que ela existia já no bairro,que o pessoar via ela de noite, fora de hora, e ouvia rebuliço. Eu sei é que até hoje ninguém nunca mais viu ela. Ela era assombrada. Alma do outro mundo. (continua)
Imagino ouvi-l-o falano com este sotaque caipira que come a letra "d" dos gerúndios, com uma fala rápida que emenda as palavras tornando algumas incompreensíveis para os ouvidos menos afeitos.
ResponderExcluirOuvir as histórias - verdadeiros causos - é divino.