terça-feira, 26 de julho de 2016


A importância da História Oral na preservação da memória


largo do Avareí

A História Oral é um procedimento muito usado em pesquisas históricas e sociológicas. Essa forma de pesquisa começou a ser utilizada nos anos 1950, após a invenção do gravador, nos Estados Unidos, na Europa e no México, e, desde então, difundiu-se bastante. Ganhou cada vez mais adeptos, ampliando-se o intercâmbio entre os que a praticam, dentre os quais destacamos: historiadores, antropólogos, cientistas políticos, sociólogos, pedagogos, psicólogos e teóricos da literatura.
No Brasil, a metodologia foi introduzida na década de 70, quando foi criado o Programa de História Oral do CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil - Fundação Getúlio Vargas. A partir dos anos 90, o movimento em torno da história oral cresceu muito. No mundo inteiro, é intensa a publicação de livros, revistas especializadas e artigos sobre história oral. Há inúmeros programas e pesquisas que utilizam os relatos pessoais sobre o passado, para o estudo dos mais variados temas.
As entrevistas de história oral são tomadas como fontes para a compreensão do passado, ao lado de documentos escritos, imagens e outros tipos de registro. Caracterizam-se por serem produzidas a partir de um estímulo, pois o pesquisador procura o entrevistado e lhe faz perguntas. Além disso, fazem parte de todo um conjunto de documentos de tipo biográfico, ao lado de memórias e autobiografias, que permitem compreender como indivíduos experimentaram e interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de um grupo ou da sociedade em geral. Isso torna o estudo da história mais concreto e próximo, facilitando a apreensão do passado pelas gerações futuras e a compreensão das experiências vividas por outros.
A memória em debate
O aprofundamento das discussões sobre as relações entre passado e presente na história, e o rompimento com a ideia que identificava objeto histórico e passado, como algo totalmente morto e incapaz de ser reinterpretado em função do presente, abriram novos caminhos para o estudo da história do século XX.
Segundo Patrick Hutton (1993), o interesse dos historiadores pela memória foi em grande medida inspirado pela historiografia francesa, sobretudo a história das mentalidades coletivas que emergiu na década de 60. Nesses estudos, que focalizavam principalmente a cultura popular, a vida familiar, os hábitos locais, a religiosidade etc., a questão da memória coletiva já estava implícita, embora não fosse abordada diretamente.
A valorização de uma história das representações, do imaginário social e da compreensão dos usos políticos do passado pelo presente promoveu uma reavaliação das relações entre história e memória e permitiu repensar as relações entre passado e presente e definir para a história do tempo presente o estudo dos usos do passado.
A força das tradições
A coleta de depoimentos, mediante a utilização de um gravador, iniciou-se na década de 40 com o jornalista Allan Nevins, que desenvolveu um programa de entrevistas voltado para a recuperação de informações acerca da atuação dos grupos dominantes norte-americanos. Esse programa veio a constituir o Columbia Oral History Office, organismo que serviu de modelo para outros centros criados nos anos 50, em bibliotecas e arquivos no Texas, Berkeley e Los Angeles. Esse primeiro ciclo de expansão do que se chamou de história oral privilegiou o estudo das elites e se atribuiu a tarefa de preencher as lacunas do registro escrito, por meio da formação de arquivos com fitas transcritas.
A plena expansão desse processo, que constituiu um verdadeiro boom, teve lugar apenas na segunda metade dos anos 60, prolongando-se pela década de 1970, especialmente nos EUA. As lutas pelos direitos civis, travadas pelas minorias de negros, mulheres, imigrantes, entre outros, seriam agora as principais responsáveis pela afirmação da história oral, que procurava dar voz aos excluídos, recuperar as trajetórias dos grupos dominados, tirar do esquecimento o que a história oficial sufocara durante tanto tempo.
A história oral se afirmava, assim, como instrumento de construção de identidade de grupos e de transformação social — uma história oral militante que colocava em evidência a construção dos atores de sua própria identidade e reequacionava as relações entre passado e presente, ao reconhecer claramente que o passado é construído segundo as necessidades do presente.
Sempre preocupada e atenta com sua história e a história dos povos, Ludmila Saharovsky pesquisou, estudou e registrou a memória oral de Jacareí desde os anos 1970 - início da pesquisa em história oral no Brasil. Suas entrevistas aconteceram de 1978 a 2000. Vinte e dois anos de encontros e bate-papos com moradores mais antigos e representativos da nossa comunidade.  O método usado foi o de gravador de fita cassete e transcrição do texto em estado bruto/escrita. Foram registradas cerca de 2 horas de entrevista com cada um dos cerca de trinta entrevistados, somando-se, aproximadamente, 60 horas de gravações.
Este livro é o resultado desses registros: um estudo sobre a memória de pessoas que aqui viveram, pensaram, sonharam e trabalharam por seus contemporâneos e por nós. Sua memória pessoal é também uma memória social, familiar e grupal. Suas lembranças são a nossa herança e nosso bem comum e colaboram para que todos possamos entender melhor a cidade que construímos.
                                                                            Beatriz Borrego

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