segunda-feira, 31 de março de 2014


Memória dos pracinhas de Jacareí na Itália parte IV


Artilharia da FEB na Itália em treinamento. 1944/1945 foto escaneada do livro Cincoenta Anos depois da volta de Octávio Costa

24 de novembro de 1944: atacávamos o Monte Castelo*,depois de atingir o objetivo, fomos obrigados a retroceder às posições anteriores em virtude do forte ataque alemão.

* “O primeiro desses ataques envolvia o complexo Belvedere-Castelo e se deu a partir do dia 24 de novembro de 1944, sob a responsabilidade da Força-Tarefa 45, do Exército Americano, com a participação de dois batalhões brasileiros a ela agregados. Foram três dias de insucessos e pesadas baixas, quando o poderoso contra-ataque germânico obrigou as tropas aliadas a recuar ao ponto de origem.O general Crittenberguer, decidiu, então pelo deslocamento da FEB mais para o oeste, de maneira que a tomada do Monte Castelo passou, a partir daquele momento, a ser responsabilidade da nossa força expedicionária, com o apoio da aviação e de tanques americanos.” (Os pracinhas na guerra, A cobra fumou na Itália, capítulo 11)

12 de dezembro de 1944: lançamos outro ataque a Monte Castelo*, desta vez por outras unidades, sem êxito. O nosso batalhão não chegou a ser empenhado, pois estávamos em 2º Escalão.

*No segundo ataque ao Monte Castelo, que começou na manhã de 28 de novembro, tudo conspirou contra os brasileiros. Na noite passada, as tropas americanas foram rechaçadas do Monte Belvedere, ao lado, deixando aquele flanco a descoberto, em poder dos alemães, o que tornava mais arriscada a aventuraO avanço malsucedido deixou um triste resultado: 34 mortos e 133 feridos. A operação toda fora planejada pelo tenente-coronel Castelo Branco, ao qual foram debitados os resultados.” (Os pracinhas na Guerra, A cobra fumou na Itália, capítulo 11)


09 de janeiro de 1945: na madrugada, os alemães, aproveitando a escuridão e o frio que fazia, lançaram um ataque às nossas posições com uns 50 soldados da tropa especializada de montanha, sob a região de Monte Africo, defendida pela 8ª. Companhia e foram repelidos à pequena distância, sem êxito. Graças a Deus, se não me falha a memória, mais um bravo de Jacareí participou dessa operação defensiva: o soldado Pedro Corteli, que ficou cercado pelos alemães por duas vezes e conseguiu sobreviver.
Meados de fevereiro a março de 1945: nesse período, é feita a ofensiva do IV Corpo de Exército: Ofensiva de Primavera. Trata-se de conquistar melhores posições para atacar as posições fortificadas alemãs. Daí a vitória de Monte Castelo* e Castelnuovo di Vergato.

avanço ao Monte Castelo
*“Uma outra data foi marcada para a tomada do Monte Castelo: 21 de fevereiro de 1945. Nas primeiras horas da manhã, a Divisão da Montanha (americana) marchou sobre o Monte della Torraccia, ao norte do Monte Castelo, depois de guarnecido o Monte Belvedere e montanhas próximas a ele. Às quatro horas da tarde, o posto de observação do general Mascarenhas recebeu uma visita em peso do comando americano, incluindo o comandante do 4º Corpo, general Crittenberg e o próprio comandante do 5º Exército, general Mark Clark. Além de seu apoio moral, estes deixaram a recomendação para que o ataque fosse intensificado, evitando serem apanhados de surpresa com a chegada da noite, que favoreceria mais aos alemães, familiarizados com o local.

No segundo ataque ao Monte Castelo, que começou na manhã de 28 de novembro, tudo conspirou contra os brasileiros. Na noite passada, as tropas americanas foram rechaçadas do Monte Belvedere, ao lado, deixando aquele flanco a descoberto, em poder dos alemães, o que tornava mais arriscada a aventuraO avanço malsucedido deixou um triste resultado: 34 mortos e 133 feridos. A operação toda fora planejada pelo tenente-coronel Castelo Branco, ao qual foram debitados os resultados.” (Os pracinhas na Guerra, A cobra fumou na Itália, capítulo 11)


07 de fevereiro de 1945: na madrugada, nova tentativa de ataque realizada pelos alemães, desta vez no Setor guarnecido pela nossa Companhia, que era a 7ª. Tratava-se de tropa armada com uma metralhadora, 15 submetralhadoras, bazucas e granadas de mão. Não obtiveram êxito.
De março a meados de abril de 1945: um período pouco marcante e pouco movimentado. Faziam-se patrulhas durante a noite e à luz do dia, a título de informações das posições inimigas.



15, 16 e 17 de abril de 1945: o 2º. Regimento de Infantaria de São João del Rei, em ação conjunta com o 3º. Batalhão do 6º Regimento atacam Montese e conquistam a cidade. A 7ª Companhia mais a 8ª Companhia do 3º Batalhão comandada pelo major Silvino Costa da Nóbrega, foi designada para atingir a Cota 927 em Primeiro Escalão, sem êxito, na região de Montese e La Torre. Às 14 h uma nova tentativa feita pela 7ª Companhia pra atingir a referida Cota 927 é desfeita pelos bravos alemães. Nós permanecemos nas posições conquistadas nas barbas dos alemães, debaixo de tremendo bombardeio de 72 horas. Foram centenas de granadas remetidas pelos morteiros e canhões que explodiam num raio de ação de uns 50 metros uma da outra, desorganizando toda a nossa Companhia. Ela operou com 180 soldados e ficou reduzida a uns 60 em condições de combate. Nessa batalha, foi ferido o nosso Capitão Comandante Porto Carreiro, sendo removido para a retaguarda. Assumiu o comando da Companhia o capitão Eter Niton, subcomandante.
Eu tive o privilégio de assumir o subcomando da Companhia em difíceis condições, conforme elogio ou citação militar a que fiz jus.
17 de abril de 1945: por volta das 16h, recebi ordens do Comando do 3º Batalhão para que cessassem as tentativas de progressão, mas que mantivéssemos as posições conquistadas. Ordens que retransmiti pelo nosso mensageiro, soldado Lucio de Piquete, ao Capitão mais à frente.
18 de abril de 1945: o nosso batalhão foi substituído pelo 2º Batalhão, sob intenso bombardeio inimigo, ainda em Montese.
22 de abril de 1945: foi constituído um Agrupamento. Nelson de Mello, comandante do 6º. Regimento uniu-se ao 3º Batalhão do 6º Regimento de Infantaria, uma Companhia de Reconhecimento Blindada comandada pelo capitão Pitaluga, uma Companhia de Obuzes (Canhões) do 6º Regimento de Infantaria, além de elementos de outras unidades, com destino para as posições de La Torre.
23 de abril de 1945: desse momento em diante, no meu entender, foi dado o golpe final. Em toda a frente italiana, nós atacávamos os alemães, que estavam em retirada. Foram ataques sucessivos passando por várias cidades italianas: Dezano, Lorenzo, Escotena e outras.
27 de abril de 1945: ocupamos a cidade de Basconcelo, de onde partimos para Formoso di Taro.
28 de abril de 1945: ocupamos a cidade de Collechio, até que veio a rendição da 148ª. Divisão alemã que operava na nossa frente Italiana. Região de Collechio e Fornovo. Este foi o mais sensacional feito da Força Expedicionária Brasileira, que, no meu entender, terminava a guerra com a galhardia e a coragem do Infante brasileiro.
29 de abril de 1945: permanecemos nas posições conquistadas, enquanto se processavam as medidas da rendição da Divisão Alemã.
06 de maio de 1945: o 3º. Batalhão se desloca para a cidade de Tortona, Alta Itália, onde ficamos aguardando dias melhores, tomando um bom vinho. 
07 de maio de 1945: rendem-se, incondicionalmente, todas as tropas alemãs na Europa, terminando assim a II Guerra Mundial.



06 de junho de 1945: Embarcamos no navio de guerra americano, General Meigs, num total de 3.400 soldados, cabos, sargentos e oficiais, que, às 18 h deixava o Porto de Nápoles com destino breve e vindouro que seria o Brasil.
18 de junho de 1945:desembarcamos, vitoriosos, no Porto do Rio de Janeiro[1], o 1º Escalão Divisionário que operou na Itália. Na longa viagem de volta, entre comemorações carnavalescas ao mesmo tempo cheias de lágrimas, de sorrisos e até mesmo desmaios, trouxemos conosco a Cruz da Vitória: nossas feridas, nossas medalhas de campanha. E uma das melhores medalhas foi a de estarmos vivos, graças a Deus e às promessas feitas a Nossa Senhora Aparecida que nos compreendeu. A vitória da Força Expedicionária Brasileira ficou oficializada e comemorada no dia 8 de maio de 1945, quando cessaram os compromissos de participação dos Praças Brasileiros com os nossos aliados. Estes continuaram na luta até o dia 15 de agosto de 1945, data da queda do Japão.



“Em 1945, emocionante mesmo foi a chegada da FEB da Itália. O Rio tinha menos de 2 milhões de habitantes, os cálculos davam 800 mil pessoas no Centro da cidade. Não havia televisão, e ninguém podia andar na Cinelândia, Avenida Rio Branco, ou nas ruas por perto. De cada 2 habitantes, 1 foi homenagear os "pracinhas" que combateram o nazifascismo. Consagração.”
(Hélio Fernandes - Tribuna da Imprensa - 15/06/2004)






segunda-feira, 24 de março de 2014


Memórias dos pracinhas de Jacareí na Itália - parte III



Tomei a liberdade de intercalar algumas de suas anotações, com breves trechos, que constam do site: “Os pracinhas na guerra - A cobra fumou na Itália capítulo onze”, que pode ser lido, na íntegra, no blog http://www.pitoresco.com/historia/republ211.htm. Estes textos destinam-se, exclusivamente, para complementar as informações do diário e são marcadas com um asterisco antes de cada capítulo.

29 de junho de 1944: embarcamos no Porto do Rio de Janeiro.  Às 22h embarcou 1º. Batalhão e, às 23h, embarcaram o 2º. e o 3º Batalhões do 6º. Regimento de Infantaria. Junto embarcou também um Grupo de Artilharia, uma Companhia de Engenharia e um Pelotão de Transmissões, perfazendo um total de 5.075 soldados e oficiais.*

*“O embarque do 1º Escalão se faz no mais absoluto segredo. As janelas dos vagões ferroviários são vedadas para isolar o contato com o mundo exterior e os soldados recebem a informação de que estão sendo transferidos para outro campo de treinamento. Tudo era disfarce. Quando se deram pela conta, estavam no porto do Rio de Janeiro, embarcando no navio-transporte americano "General Mann". Antes da partida, Getúlio Vargas vai a bordo para deixar-lhes uma palavra de despedida. E só. Não houve sequer oportunidade de se despedir dos parentes, que só souberam da viagem quando o navio já ia em mar alto. A bordo, para surpresa geral, ia também o comandante da 1ª Divisão de Infantaria, general Mascarenhas de Morais, com seu estado maior. Na prática, era ele o comandante efetivo, dono da situação e senhor único de um segredo, que lhe fora passado pelo general Kroner, adido militar americano. Só ele, e mais ninguém, nem o general Zenóbio, que comandava o escalão embarcado, sabia qual o porto de destino da embarcação.” (Os pracinhas na Guerra, A cobra fumou na Itália – capítulo 11)


02 de julho de 1944: Entre as 6h e 6h30, o navio americano General Mann com o nº 112 na proa deixava o Porto do Rio de Janeiro com destino ignorado. Em águas brasileiras, fomos patrulhados por uma escolta brasileira composta pelos navios destróieres Marcelino Dias, o Greenhalgh e o Tamandaré, pois operavam no Oceano Atlântico vários submarinos alemães.
05 de julhos de 1944: Foi anunciado um exercício para abandono do navio. Após esse treinamento de meia hora, a escolta brasileira foi substituída por outra, americana, composta por um cruzador e dois destróieres. Ao anoitecer viam-se luzes ao longe: era Las Palmas, nas Canárias.
13 de julho de 1944: por volta das 16h, atravessamos o célebre Estreito de Gibraltar, saindo do Oceano Atlântico para o Mar Mediterrâneo. Desse ponto em diante, fomos patrulhados por uma esquadrilha de aviões de caça dois nossos aliados até o Porto de Nápoles, totalmente destruído. Desembarcamos e fomos acampar numa pequena aldeia nas imediações de Nápoles, com o nome de Bagnoli,  onde ficamos vários dias. De lá saímos para Toscana  em caminhões, para a região de Vada, Staffoli e Livorno.

desembarque dos soldados brasileiros do navio General Mann
11 de setembro de 1944: o general Mark Clark, comandante do 5º. Exército Americano visita nossas tropas acompanhado do general Crittenberg, comandante do 4º. Corpo de Exército do qual fazíamos parte.
16 de setembro de 1944: o 6º. Regimento substitui o 334º. Regimento Americano, do Neros, passando a primeira linha e ocupando um setor de 4.000metros aproximadamente.
17 de setembro de 1944: ocupamos as primeiras localidades italianas: Massarosa e Bozzano. Este era o destacamento do General Zenóbio da Costa em operações de marcha para o combate com a Linha Gótica, a oeste da
Península.
18 de setembro de 1944: ocupamos, sem baixas, a cidade de Camaiore.
30 de setembro de 1944: a 8ª. Companhia ocupa as cidades de Borga, Manzano e uma aldeia de nome Formole.                          
01 de outubro de 1944: o soldado Aguiar, após ser ferido, vai em frente em direção à arma que o atingira e morre no local, recebendo uma rajada de metralhadora.
05 de outubro de 1944: o 2º e o 3º. Batalhões ocupam as posições na região de Polazzo, Torre de Nerone, Volpara e Castelacio, estabelecendo novo contato com o inimigo e sofrendo várias baixas.
06 de outubro de 1944: no vale do Rio Serchio, a 7ª. Companhia ocupa as localidades de Formachi e Barga. Nessa missão, eu tive participação direta: nosso Capitão, perdendo contato com o 1º, 2º e 3º pelotões avançados, me ordenou que eu entrasse nessa cidade com uma patrulha. Lancei mão dos elementos de que dispunha com a Seção de Comando e tive o privilégio de ser um dos primeiros a entrar na cidade de Formachi, enquanto parte dela estava ocupada por tropas alemãs.
07 de outubro de 1944: uma patrulha alemã fortemente armada entrou na cidade de Formachi com as armas a tiracolo, cantando a canção alemã “Lili Marlene”, quando foi surpreendida pela Seção de Comando e o 3º Pelotão. Abrimos fogo e eles se dispersaram, sendo que uma parte conseguiu fugir. Nessa operação, foram presos 4 soldados alemães e 2 russos, com suas armas, sendo uma submetralhadora e uma pistola automática P.38. Depois de uma hora de represálias, recebíamos uma carga de granadas do famoso morteiro 88. Essas não assobiavam. Elas faziam o famoso cha,cha,cha.... Um estilhaço feriu-me a perna esquerda e um de meus remuniciadores teve ferimento no ombro. Fomos medicados no Posto de Padioleiros avançado.
11 de outubro de 1944: continuamos a nossa progressão para o Norte. Tomamos a cidade de Barga, onde morreu o 2º Tenente Osvaldo Pinheiro de Mendonça, comandante do pelotão, que pisou num campo minado, segundo depoimento do 3º. Sargento Francisco Leite de Morais, de Santa Branca, que apanhou parte de seu corpo e enrolou num cobertor, na Província de Gallicano.
22 de outubro de 1944: uma patrulha brasileira constituída por uns 20 soldados, sob o comando do 2º. Tenente Manoel Barbosa, chocou-se com o inimigo, e, submetida a intenso fogo, refugiou-se numa casa. Algumas granadas incendiárias foram lançadas sob a casa, tendo desaparecido o 2º Tenente Manoel Barbosa, o 3º Sargento José de Barros Filho, o Cabo Amintas Peres de Carvalho e os soldados Mario Gonçalves da Silva e Guilherme Barbosa de Mello.
30 de outubro de 1944: o 6º Regimento de Infantaria ataca a leste do Rio Serchio e conquista, apesar da resistência inimiga, as regiões de Lama di Sotto e Monte San Quirico.
31 de outubro de 1944:o inimigo ataca nossas posições em Barga, onde fica ferido o 1º Tenente José Maria P. Duarte, que, devido ao intenso combate não pôde ser transportado pelos seus colegas, que o escondem, com a finalidade de mais tarde buscá-lo. Eu, mais uma vez, guarnecia, com a Seção de Comando um entroncamento estratégico, com uma metralhadora P50, bazucas e outras armas. Fui notificado e vi partir uma patrulha com alguns soldados, sendo um deles de Jacareí: Luis Antonio da Silva, ou Guandu, comandados pelo capitão Altatino Cortes Coutinho, com a missão de trazer o tenente José Maria. Sem êxito. Não mais o encontraram.
08 de novembro de 1944: o sargento Onofre Rodrigues de Aguiar, natural de Mogi das Cruzes, se infiltrou em uma posição alemã e aprisionou 2 soldados e suas metralhadoras. Por esse ato de bravura, foi promovido a 2º Tenente.
Meados de novembro de 1944: no início de novembro de 1944 a meados de fevereiro, sofremos o inverno. Nesse período, fomos às margens do Rio Reno, ao norte e a oeste de Porreta Termas. Aí a FEBE passou a atuar com uma divisão inteira sob o comando do General Mascarenhas de Moraes.* Desta feita, foram executados ataques malogrados a Monte Castelo. Fase de heroísmo dos Pracinhas em território de ninguém.
General Mark Clark, Mascarenhas de Morais e Zenóbio da Costa, entre outros
* “ Não obstante as chuvas que não paravam de cair, as tropas avançaram em direção ao alvo proposto, conquistando pequenos pontos, como Lama di Soto, Monte San Quirico e Somocolonia.  Isso foi a 30 de outubro de 1944. Os sucessos deram ânimo para o ataque maior e fulminante a Castelnuovo, que deveria ser realizado no dia seguinte. Mas, antes disso, os alemães contra-atacaram com todo seu poder de fogo, obrigando os brasileiros a recuar a Somocolonia.  Depois desse insucesso, Zenóbio permanece com a Infantaria, mas sob as ordens de Mascarenhas de Morais, que assume em definitivo o comando da 1ª Divisão. Os brasileiros foram transferidos, então, para o vale do rio Reno a 120 quilômetros do vale do Serchio. A essa altura, tínhamos feito 208 prisioneiros e os alemães aprisionaram 10 dos nossos. Mas o insucesso da última batalha nos custou 13 mortos e, desde o início de nossa participação, contabilizávamos 183 feridos em acidentes e 87 em combate. A guerra começava a pesar, e não era nem uma amostra do que estava por acontecer.”(Os pracinhas na Guerra, A cobra fumou na Itália,capítulo 11)  continua...

quarta-feira, 5 de março de 2014


Entrudo: O carnaval de antigamente

Carnaval em Jacareí (1928 ou 1931) Acervo de Vital Verdelli, onde aparece sua mãe, Maria Aparecida Verelli (a mocinha no canto direito da foto)
Enganam-se os que pensam que o carnaval é uma invenção brasileira.
Esta festa, foi sim, adotada por nós, que a tornamos mundialmente conhecida e reconhecida  como hoje se apresenta, mas ela existe a aproximadamente dez mil anos A.C. Aproximadamente dez mil anos antes de Cristo, homens, mulheres e crianças se reuniam no verão com os rostos mascarados e os corpos pintados para espantar os demônios da má colheita. Essas foram as primeiras festas de carnaval do mundo. No Egito Antigo as grandes festas eram feitas para homenagear a Deusa Isis.
Na Grécia Antiga as festas carnavalescas eram em culto a Dionísio. Conforme as plantações de parreiras se espalhavam nas Ilhas Gregas, as pessoas começaram a celebrar esta nova divindade: O deus das Colheitas, representado como uma figura humana, só que de chifres, barbas e pés de bode.
Em Roma, comemoravam-se as Saturnais, em homenagem ao deus Saturno.Essas festas eram tão importantes que tribunais e escolas fechavam as portas durante o evento. Escravos eram alforriados, as pessoas saíam às ruas para dançar, a euforia era geral. Na abertura dessas festas, “carros alegóricos” em formato de navios saíam na "avenida", com homens e mulheres nus. Estes eram chamados os carrum navalis. Foi dai que surgiu expressão carnevale, hoje carnaval.

Carnaval de rua na Rua Antonio Afonso, vendo-se ao fundo, à esquerda a lateral do antigo palacete do Barão de Santa Branca, que foi demolido (em frente ao prédio, hoje, da Padaria Paris)
Em Portugal o carnaval era conhecido como entrudo.( do latim introito, introdução à quaresma)  Nessa festa as pessoas jogavam água, ovos e farinha umas nas outras. Foi assim que o carnaval chegou ao Brasil,por volta do século XVII e foi influenciado pelas festas carnavalescas que aconteciam na Europa. Em países como Itália e França, o carnaval ocorria em formas de desfiles pelas ruas, onde as pessoas usavam máscaras e fantasias .Eram festividades licenciosas e barulhentas. Apesar destes antecedentes, o carnaval, hoje, está ligado ao calendário católico, pois é uma festa que antecede à quaresma. Quarenta dias depois dele comemora-se a Páscoa.

 Sinfonica -  A Furiosa
Em Jacareí, o termo entrudo, designou os carnavais até a década de 30. A maioria de meus entrevistados, relatam que:
“Meu tio me levava muito nas festas de carnaval.A gente fazia corso naquele tempo, com lança perfume, confete, serpentina. As pessoas também jogavam muita água das casas, nos foliões. E farinha em cima!” (Rafaela Mercadante de Azevêdo)
“Os blocos carnavalescos mais conhecidos eram do Zezinho Mercadante, do Bebeco Oliveira, do Enneas, maquinista da Central. Agora, o carnaval daquela época era a festa da água. Saía-se com bexigas cheias de água, água com tinta e depois jogavam farinha de trigo e pó de café em cima do pessoal. Depois apareceram umas bolas de cera que enchiam de água e os esguichos de bambu que espirravam água à distância. O pessoal dos sobrados jogava bacias de água sobre as pessoas. O carnaval chamava-se entrudo e pintavam-se os canecos com lança-perfume Rodo, francês, que as pessoas ficavam cheirando a semana inteira. Proibiram o lança-perfume, em compensação, hoje, se cheiram outras coisas...” (Antonio Lemes)


Bloco Bafo da onça, fotografado na rua Dr. Lúcio Malta. No centro, Rodolfo Pinheiro
“Havia pouca distração em Jacareí. Eu gostava muito das festas de carnaval. A gente passava o carnaval nos automóveis, fazendo guerra de serpentina nos corsos. Era divertido.!” ( Maria José Egydio de Carvalho)
“O carnaval da cidade, naquela época chamado de entrudo, tinha sua maior força e todo seu entusiasmo nas ruas da cidade. Havia bailes carnavalescos, mas o que era mais animado era o carnaval de rua, onde se apresentavam tipos curiosos, como o Pascoal Viola, antigo carpinteiro da cidade, comendo macarrão dentro de um grande penico. O Nicolauzinho Mercadante saia com uma gaiola nas mãos, cheia de sapos em vez de passarinhos. O Rodolfo Pinheiro, com seu conjunto, exibia seu canhão que dava tiros de confetes dourados como munição. Naquela época usava-se jogar água e farinha, uns nos outros, que depois evoluiu para lança-perfume. Outro costume era o corso de carnaval, que era uma passeata dos carros que havia na cidade, bem enfeitados, com a capota levantada, de dentro dos quais rapazes e moças iam atirando confete e serpentina nos passantes. Houve aqui, também, na Rua Antonio Afonso, um antigo casarão que o Vicente Scherma transformou no Clube Recreativo e Carnavalesco Os Bambas. Eles se reuniam o ano inteiro para fazer as fantasias e sair no carnaval feito um cordão. Depois surgiram outros cordões: As Caprichosas, e Aí vem a Marinha, mas isso já nas décadas de 30 e 40.” (Lauro Martins)


Banda A Furiosa (1937)
“Papai gostava muito de carnaval. Ele saia sempre fantasiado de mulher.” (Mário e  Moraes)
“Em nossa cidade tem-se notícia de que um cidadão de nome Rodolfo Pinheiro foi pioneiro do carnaval de rua, quando formou junto à ponte do Paraíba, um bloco que recebeu o nome de Bafo da Onça. Sendo ele próprio um homem alto e magro, interpretava o papel de Zé Pereira, tocador de bumbo, figura típica do carnaval brasileiro, cujas origens remontam à década de 1840. Rodolfo Pinheiro, na década de 20, usava um canhão que atirava confete.” (Luiz José Navarro da Cruz)


Corso carnavalesco: (1927) Nelson e Rafael Marreli, Indalécio Villar, Otto Lehman, Alfredo de Campos e Gumercindo Quina, fantasiados de "mestres cuca"


Os Bambas (1935)  em trajes de marinheiro, quando surgiu a idéia de formar o bloco Aí vem a Marinha