|
Entrevistas publicadas no Diário de Jacareí, anos atrás |
Na segunda parte do livro, publico as entrevistas de todos que me ditaram suas memórias, sem editá-las, simplesmente ao sabor da conversa que se iniciava à tarde e, muitas vezes, prosseguia noite adentro e até em outros encontros. Nela os personagens se inserem na história oficial através do testemunho de sua própria vivência e apreensão dos fatos. Às vezes, os corroboram. Outras, narram a sua variante particular, com detalhes surpreendentes, de acordo com sua visão e interpretação do mundo. Nisso está a grande força dos relatos verbais e a grande dificuldade em estabelecer versões históricas e passá-las adiante, enfocando a ótica e a compreensão de um único autor. A história tem várias faces!
A narrativa oral é muito diferente da escrita.
A escrita permite-nos idas e vindas, acertos, ajustes, intervenções póstumas, pesquisas. A narrativa oral não! Falar flui através do retorno a vivências, sentimentos, emoções. É a delicada revisão de etapas de nossa vida que já foram vencidas. No caso particular de meus entrevistados, todos septuagenários, o diálogo esbarrava também na dificuldade de trazer alguns fatos, de imediato, à memória. Tropeçava na voz trêmula, na vista frágil, no coração acelerado pelas recordações, pela saudade dos que já se foram; pelas cicatrizes muitas vezes reabertas. Apoiava-se na necessidade de momentos de silêncio e, muitas vezes, na interrupção do relato, pelas lágrimas involuntárias derramadas: deles e minhas! Muitas histórias não foram registradas. Eu as ouvi em confiança, como confidências. Essas eu guardei só para mim: privilégio de quem escuta!
O que lhes apresento, pois, nesta segunda parte do livro, é o que de melhor e mais verdadeiro pude apurar desses encontros permeados por lembranças vivas. Muitos dos depoimentos foram publicados em jornais da região, porém, de forma editada. Seria impossível publicá-los na íntegra, por problema de espaço. Mas, aqui no livro, eles estão completos. Tenho certeza de que essa leitura irá remetê-los, cada qual à sua maneira, às suas próprias viagens por uma Jacareí que já não existe mais. Essa, exatamente, foi a intenção que me inspirou a torná-los públicos. Vamos, pois, juntos, empreender esse retorno prazeroso ao passado.
Dizem que uma pessoa sem passado, sem história, sem o conhecimento de suas raízes, é uma pessoa de presente muito pobre. Que este não seja, nunca, o nosso caso!
(Ludmila Saharovsky - trecho do livro Jacareí tempo e memória)