domingo, 15 de dezembro de 2013


Jacareí: Tempo e Memória - Noite de Lançamento

Museu de Antropologia na noite mágica de 11/12/13


Pessoas queridas!
Escrevo , hoje, ainda sob o impacto das emoções que me tomaram na noite mágica do lançamento de meu livro: Jacareí: Tempo e Memória.
O átrio de nosso Museu de Antropologia tornou-se pequeno para a quantidade de amigos que compareceram, interessados em ter seu exemplar. Foram distribuídos, nesta noite, oito caixas contendo 48 volumes em cada uma.
Para mim, que aguardei ansiosamente por este evento, escrevendo o livro, depois aguardando todo o processo que antecedeu a sua publicação, foi um fechamento com chave de ouro. Assim, foi uma noite de agradecimentos a todos, por tudo!
Publico para vocês, as fotos que os amigos me enviaram, materializando todas as emoções.
Agora, vou me permitir um breve descanso para curtir minha família neste Natal e Ano Novo, e, em 2014 volto a publicar no blog trechos do livro e fotos inéditas, que nele não couberam.
Aos que não conseguiram um exemplar, peço desculpas.
Livros estarão à disposição dos leitores na Biblioteca Pública de nossa cidade e da região, e também serão encaminhados para as bibliotecas das escolas e das universidades.
Um abraço carinhoso a cada um de vocês que acreditou no meu trabalho e que me presenteou nesta noite tão linda, com o calor de sua amizade e de seu carinho. A todos vocês, a minha eterna gratidão! Feliz Natal!
Ludmila

Lendo meu discurso de agradecimento, ladeada pelos amigos queridos: Sônia Ferraz, Presidente da Fundação Cultural de Jacarehy e Alberto Capucci, Diretor do MAV Museu de Antropologia do Vale do Paraiba

Minha amiga e revisora, a escritora Dyrce Araújo, lendo a carta enviada pela Prof. PHd Elaine Rocha
O átrio do Museu de Antropologia tomado por amigos

Outro ângulo com mais amigos

Autografando o livro
A emoção diante da presença de Ocílio Ferraz, que veio do fundo do Vale me trazer seu abraço
Para cada amigo, uma dedicatória especial. Vocês me deixaram muito feliz nesta noite de festa e de reencontros
Com Jussara Gehrke, neta de nossa querida Vó Nicota, dona da receita mais famosa do vale, dos nossos deliciosos bolinhos caipiras, hoje, Patrimônio Imaterial de Jacareí
Os queridos amigos Eliana Fonsi, Eloisa Nascimento e Thom Woods, oficial administrativo da Sutaco: Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades, que veio de São Paulo me trazer seu abraço  
Meu amigo desde que participou de meu último curso de folclore, "Seu" Carlos Leite Soares

Os amigos Dr. Celso Abrahão e sua esposa Valéria Oliveira
Obrigada por aguardar pacientemente na fila, meu querido Dr. Izaías Santana.

Dannyel Leite, Fernando Romero Prado, Renata Sanchez Baptista, Nanci Prado e Andrea Capucci
Minhas queridas escritoras Sônia Gabriel e Zenilda Lua, tomando a fresca no jardim do MAV
A Familia Leitão, encenada pelos amigos queridos: Marilda Carvalho, Mara Lucia Esteves e Guto Pellogia, recepcionou os convidados. Vocês estavam maravilhosos! Obrigada!
Obrigada, amigos pela paciência de aguardar pela minha dedicatória. Alguns enfrentaram estoicamente duas horas de fila!
Minha eterna editora do Diário de Jacareí, Eloisa Nascimento, autora do prefácio
O abraço carinhoso de Roseny Cambusano, filha de Roberto Cambusano, nosso pracinha querido da Segunda Guerra Mundial

As valsinhas e modinhas que enfeitaram a noite ficaram por conta das queridas Marly Ferreira e Raquel Bigareli (foto)
Abraço da querida atriz Bernadette Siqueira
Uma pose com minha filha número 1: Marcia Saharovsky Muxagata, a primeira jacareiense da família

Uma das lindas mesas preparadas para o coquetel, por Olga Mesquita e Célia Rizzo. As comidinhas estavam deliciosas...


Jacareí : Tempo e Memória - Carta de Elaine Rocha


 A cidade ganha, com a publicação do trabalho de Ludmila Saharovsky, Jacareí :Tempo e Memória, os registros de algo maior do que a história local, que é esta junção de memórias pessoais e fatos históricos, instigados pela fotografia.
Este livro, que acompanho aos poucos, de longe, através do blog – outro feito brilhante e generoso da autora, que repartiu a pesquisa com seus leitores sem o ciúme e a avidez da maioria dos autores – é uma composição histórica.
Só quem já se dedicou à pesquisa histórica sabe como é um trabalho exaustivo e arrastado, só que já se aventurou a escrever pode apreciar o ofício apurado da busca das palavras exatas para exprimir o pensamento.  Ludmila tem trabalhado incessantemente, e hoje presenteia Jacareí com uma história narrativa, a mais antiga forma de transmissão do passado, já presente no que chamamos “proto-história”, e que precede todas as tentativas de delimitar, conformar  e enquadrar a ciência histórica de acordo com padrões filosóficos de diversas naturezas.
Nas mãos de Ludmila, a narrativa histórica se torna uma composição, no sentido mesmo da composição musical, na qual diferentes elementos e instrumentos se unem para dar forma e ritmo à obra que transmite uma mensagem.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013


Fiat Lux!

Cia de Força e Luz de Jacarehy

1895 - Surge em Jacareí a luz elétrica!

Corria o ano de 1884 e Jacareí era, então, uma cidade próspera e atuante. A riqueza trazida pelo cultivo e venda do café logo se fez sentir na arquitetura, na ostentação de títulos de nobreza e no aumento do número de escravos.Os ricos fazendeiros, para demonstrar seu poder começaram a construir casas assobradadas, com muitas janelas e até palacetes que se destacavam na fisionomia urbana. Logo tornou-se necessária a criação de um Código de Posturas a fim de traçar diretrizes que disciplinassem a vida na cidade.
“O Código, publicado em 18 de junho de 1884, no seu capítulo VIII, tratava da iluminação pública e dizia:
Artigo 110 – A cidade será iluminada todas as noites escuras por 100 lampiões, postados e distribuídos em lugares e em conveniente distância que projete luzdentro do espaço que mediar de um para outro. Esta iluminação será feita aquerosene, começando ao fechar da noite até as 4 horas da manhã seguinte.
Artigo 111 – O encargo de iluminação será feito por arrematação ou arremate, ou sob imediato cargo da Câmara por um agente ou preposto seu.
 Parágrafo 1: Sendo feito por arrematante, será preferido aquele que mais barato fizer, as melhores vantagens oferecer, e a estes incumbe:
1. A trazer sempre limpos e asseados os lampiões
2. A substituir a sua custa os lampiões, vidros e lamparinas quebrados ou estragados por outros novos.
3. A servir a iluminação com querosene de 1ª. Qualidade e não falhar em tempo algum com a iluminação nas noites que a isso for obrigado a fazê-la,
4. Finalmente a ter constantemente um vigilante para acender os lampiões quando se apagarem por qualquer incidente. O arrematante que não cumprir estas disposições será punido com 30$000 de multa cada vez que for encontrado em omissão.

domingo, 8 de dezembro de 2013


No tempo das diligências II

Construção da Estrada de ferro Santos Jundiaí
 1876 -   Jacareí recebe a Estação Ferroviária

A ligação por Estrada de Ferro entre os estados do Rio e de São Paulo foi feita por duas empresas. A Estrada de Ferro Dom Pedro II, cujas obras começaram em maio de 1855, com dinheiro do Tesouro Imperial, e que foi oficialmente inaugurada em 8 de julho de 1877, com uma comitiva de personalidades ilustres liderada pelo Conde D’Eu e pelo conselheiro Homem de Mello, e que terminava em Cachoeira Paulista.  E a Estrada de Ferro do Norte, fundada por capitalistas e fazendeiros paulistas em 1869. Ela teve, no Vale do Paraíba, como um dos principais articuladores e acionistas, o Coronel João da Costa Gomes Leitão, de Jacareí.
A construção da Estação Ferroviária de Jacareí iniciou-se em 1875. Sua inauguração oficial, em Jacareí, foi em 2 de julho de 1876 e a linha férrea, de bitola estreita, até a Capital, em 3 de julho do mesmo ano. Em 1877, a Estrada de Ferro do Norte alcança a ponta da D. Pedro II ficando, no entanto, as duas ferrovias separadas pelo Rio Paraíba. A junção era feita por balsa. Após a Proclamação da República em 1889 as duas estradas de ferro foram unificadas, formando a Central do Brasil., bem como ligadas por uma ponte que foi construída sobre o Rio Paraíba.
Na época, a maior riqueza deste Vale era o café, conhecido como o nosso ouro verde. A necessidade da construção de uma ferrovia para escoar com maior rapidez toda a produção cafeeira do Vale do Paraíba era premente. Os meios de transporte à época eram rudimentares. As estradas, em sua maioria, de terra, além de não oferecerem nenhuma segurança e nem conforto permitiam um trânsito extremamente lento. Com o advento das Estradas de Ferro, elas passaram a ser utilizadas como meio de transporte, inclusive, pela Família Real, em suas viagens de lazer, de compromissos sociais e políticos. Em 11 de setembro de 1878, passaram por Jacareí, em comboio especial, com destino a São Paulo, Sua Majestade D. Pedro II e sua esposa D. Tereza Cristina, acompanhados por grande comitiva. Muita alegria e grandes festas saudaram na região a chegada da primeira locomotiva. Em Pindamonhangaba, as comemorações culminaram com majestoso baile no palacete do Barão de Palmeira. Em Lorena, o trem foi recebido com banda de música, coretos enfeitados, meninas lançando flores desfolhadas à sua passagem. Em Jacareí, a maioria dos habitantes postou-se no Pátio da Estação e a chegada da locomotiva também foi saudada com muitos discursos, vivas, banda de música, aplausos e festejos que adentraram pela noite. O trem de ferro foi ainda motivo para outorga de títulos aos fazendeiros mais generosos em suas contribuições financeiras, para que a estrada se transformasse em realidade e trouxesse o progresso que rapidamente espalhou-se por toda a região. Em volta da Estação Ferroviária das várias cidades do Vale, e também em Jacareí, estabeleceram-se inúmeros pontos comerciais.

No tempo das diligências!



Inauguração do Tunel da Mantiqueira, com a presença da Familia Real

 1855-  Início da Construção da Companhia de Estrada de Ferro D. Pedro II
Segundo nos relata David, E.G. no texto "A ferrovia e sua história: Estrada de Ferro Central do Brasil"  o Vale do Paraíba prosperava  rapidamente graças à cultura do café, enriquecendo sobremaneira a região e os ricos fazendeiros que se tornaram barões.
 “Em vinte anos, a produção subira de meio milhão para cerca de três milhões de arrobas de café. Queluz, São José do Barreiro, Bananal, Guaratinguetá, Pindamonhangaba, e até Cunha e São Luís do Paraitinga encravados em plena Serra do Mar, cresciam em população e ficavam cada vez mais ricos.” (David E.G)
A riqueza era tão grande que vários desses barões chamavam professores europeus para ensinar seus filhos. Jacareí também era grande produtora de café e, juntamente com Pindamonhangaba, figurava entre os municípios mais ricos de São Paulo.
Era tempo de muitos escravos e opulência. Essa produção toda escoava em parte muito pequena, pelo Rio Paraíba, mas o maior movimento ia em direção ao Atlântico, descendo a encosta da serra no lombo das mulas.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013


A primeira ponte sobre o Rio Paraíba

“A ligação por ponte das duas margens do rio efetivou-se com a construção de uma obra contratada pelo Presidente da Província com o Sr. Marcelino Gerard e a ela faz alusão os anais da Assembleia de 1854-1855. Desse mesmo período é o discurso do Presidente da Província que assim relatava em prestação de contas à Assembleia, suas realizações, mencionando em certo trecho: ‘foi contratada com Marcelino Gerard a nova ponte com cabeceira e pilares de pedra sobre o rio Parahyba, na cidade de Jacarehy, por 70:000$000 tendo começado a obra logo que o rio baixar”. ( Annaes da Assembleia  Provincial de São Paulo 1855-1858, apud Lencioni, B.S.)

sábado, 30 de novembro de 2013


Memórias do Sr. Lubiz Natan

Fabrica de macarrão
“Eu nasci em Jacareí no dia 7 de abril de 1901.Morava na Rua do Carmo. Meu pai era engenheiro mecânico e eletricista. Foi ele quem instalou o primeiro cinema de Jacareí, o Ideal, lá na Rua Lúcio Malta, em 1908 ou 1909. O cinema era do José Bonifácio de Mattos.A projeção era assim: a máquina ficava atrás e o pano ficava entre a plateia e a máquina. Antes de começar a projeção, devia-se molhar o pano que esquentava muito. A sonoplastia era feita por quem projetava o filme.Meu pai veio para instalar e trabalhar na Usina Elétrica. Antes da Usina Elétrica, a luz era gerada por uma que era de vapor à lenha, conhecida como termoelétrica. Essa Usina foi comprada pelo José Bonifácio de Mattos que, em 1912, montou uma usina hidroelétrica lá na Cachoeira do Putim, em Guararema. A iluminação ligava às 6, 7 horas da noite e apagava as 10. A usina movida à lenha era lá na Rua Lúcio Malta, onde depois se instalou a Fábrica de Macarrão da família Scavone.

terça-feira, 26 de novembro de 2013


1850 – Muda o leito do rio Paraíba


João da Costa Gomes Leitão
O Rio Paraíba mudou de leito!
Ele passava, numa acentuada curva, nos fundos da Santa Casa de Misericórdia, banhando antes o leito da Estrada de Ferro Central do Brasil no Cassununga e completando-se além da Rua 15 de Novembro, passando pelos fundos da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.
A maior parte dos habitantes de Jacareí, que entrevistei, relatou que ouviram de seus pais a história de que o Coronel Leitão desviara o curso do Rio Paraíba, valendo-se do trabalho de seus escravos, no período de uma noite. Por que o fizera? Cada qual chegou às suas próprias conclusões, conforme poderá ser confirmado nos depoimentos publicados. Essa história, de tão repetida, virou uma lenda que todos conhecem. O real motivo, porém, diverge desse entendimento popular.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013


Convite Lançamento


Queridos amigos!
Finalmente está se aproximando o dia de mostrar o meu trabalho para vocês!
O livro não será vendido, pois foi patrocinado pela LIC de Jacareí, assim, que não vier apanhar o seu exemplar no dia 11 de dezembro, ficará sem. Após o lançamento os livros seguirão para as escolas de Jacareí e Bibliotecas Públicas de Jacareí e de cidades do Vale do Paraíba.
Conto com vocês!
Grande abraço e até lá!

sexta-feira, 15 de novembro de 2013


João Américo da Silva


"João Américo da Silva, nasceu em Jacareí, na Rua 7 de Abril, hoje Vicente Scherma. Era filho de José Benedito, conhecido como José Benedito Carroceiro. Depois sua família mudou-se da Rua 7 de Abril para a Rua da Liberdade, 208, casa onde existia uma biquinha de água muito boa. Em razão dela, a Rua da Liberdade foi conhecida por muito tempo como Rua da Biquinha."
(Jobanito no livro Pelas Ruas da Cidade)
"João Américo foi voluntário na prestação do serviço militar, apresentando-se no 6º.R.I. de Caçapava, em 1935, aos 18 anos, onde recebeu seu certificado de primeira categoria ao terminar um ano e meio de serviço. Regressando a Jacareí trabalhou como servidor municipal no Matadouro. Com a formação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) João Américo foi convocado junto com milhares de outros brasileiros e designado para o mesmo 6º.R.I. de Caçapava, onde havia servido. Seu regimento seguiu para o Rio de Janeiro, mas João Américo nele não se encontrava, pois estava visitando seus pais em Jacareí. No dia seguinte, apresentou-se em Caçapava e foi enviado para o Rio de Janeiro. Designado para o 1º.R.I. (Regimento Sampaio) seguiu com o 2º. Escalão em outubro de 1944 para a Itália. Ele faleceu em combate, em 29 de novembro de 1944, na tomada de Monte Castelo. Com o recuo das tropas foi considerado desaparecido, uma vez que só em 21 de fevereiro de 1945 a 10ª. Divisão de Montanha, uma unidade de elite do exército americano conseguiu capturar Monte Castelo, encontrando o corpo do soldado João Américo conservado nas neves dos Apeninos".
(Benedicto Sergio Lencione em O negro na História de Jacareí)
Em 1946, o prefeito Antonio Alves de Carvalho Rosa deu seu nome à antiga Rua da Liberdade, que passou a chamar-se Rua João Américo da Silva, mandando também afixar uma pequena placa de bronze na fachada de sua casa, com os dizeres: Desta casa partiu João Américo da Silva para ser herói em Monte Castelo.
Na mesma ocasião foi colocado na Praça Conde Frontim um belo monumento em homenagem ao expedicionário de Jacareí, esculpido em bronze pelo artista plástico Luiz Morroni. A estátua foi doada pelo embaixador José Carlos Macedo Soares, na época interventor em São Paulo.

Monumento ao Expedicionário, foto de Marta Pinto, internet 


quinta-feira, 14 de novembro de 2013


Corneteiro Jesus


Herói negro de Jacareí
O Vale do Paraiba possuía um desusado interesse na breve solução da Guerra do Paraguai, pois a sua continuidade traria a desorganização total na economia cafeeira, no âmbito internacional, além de ser um grande sorvedouro da mão de obra escrava, recrutada nas lavouras. Os senhores de escravos, ricos cafeicultores, não mediram esforços em fornecer braço escravo para empunhar o fuzil. Recursos econômicos não faltaram. O café era moeda forte para comprar armas no estrangeiro [...] No furor da insana Guerra do Paraguai morreram mais de 90.000 negros, jogados à frente da batalha para amaciar a contenda
(Benedicto Sergio Lencioni em O negro na história de Jacareí.)

Júlio José Chiavenato, em “O Negro no Brasil” com muita propriedade, afirma:
Há tanto heroísmo negro na Guerra do Paraguai que os fatos passam a lenda” e mais adiante acrescenta: “das lendas destaca-se o estoicismo do negro Jesus, que executou o toque de avançar com sua corneta apenas presa aos lábios, pois seus braços foram decepados - naturalmente é um exagero, mas que só é possível pela fama heroica dos negros transformando-se em mito” (Idem)

E Lencioni pergunta: O negro Jesus, o famoso Corneteiro Jesus, de Jacareí, é um fato ou uma lenda? Teria mesmo existido o negro herói Jesus, que teria participado do 42º Corpo de Voluntários da Pátria, na Batalha de Tuiuti?

Fato ou lenda, não se nega a bravura do povo negro, que, de forma sempre anônima, engrandeceu a historia de nossa cidade e de nosso País.
Termino, com trecho do poema épico de José Bonifácio, o Moço, na ode “O Corneteiro da Morte” que retrata a bravura de nosso herói.
Quando o toque da corneta é sacudido pelo arrancar dos braços de Jesus, o poeta escreve:
“Pouco importa! Avante; avante!...
Crioulo d’alma viril,
Pigmeu, faze-te gigante,
Tu é filho do Brasil!
Oh! Toca, toca a investida!
Sobre a hoste embravecida,
Jesus, um passo, inda um passo!
Há gritos, pragas e ais!
Sobe o horror cada vez mais...
E lá vai o outro braço!...
E termina:
“Tua glória vaga no ar
É quase um sagrado mito;
O mármore pode quebrar,
Não dura sempre o granito,
Na solidão esquecido,
Pobre, sem túmulo, perdido,
Sem pedra, sinal da cruz,
Tu simbolizas o povo,
Tu és quase um Cristo novo
Tens o seu nome - Jesus!”

Fato ou lenda, honra e Glória ao Corneteiro Jesus!

Não deixem de ler a linda crônica de Lizete Mercadante: Corneteiro Jesus, publicada na revista virtual O Caixotehttp://www.ocaixote.com.br/caixote01/corneteiro.htm

quarta-feira, 13 de novembro de 2013


1932 - Legião Negra

Foto gentilmente cedida pela historiadora Maria Antonieta Pereira de Almeida Figueiredo Mello, juntamente com outras fotos da Revolução de 32, que publico no livro, e que pertecem ao álbum de sua família 

Vocês sabiam que em 1932, houve um batalhão formado somente por negros?
Descobri o fato durante as minhas pesquisas sobre a revolução constitucionalista

"Os homens de cor e a causa sagrada do Brasil
Os patriotas pretos estão se arregimentando - Já seguiram vários batalhões - O entusiasmo na Chácara Carvalho - Exercícios dia e noite - As mulheres de cor dedicam-se à grande causa. Também
os negros de todos os Estados, que vivem em São Paulo, quando o clarim vibrou chamando para a defesa da causa sagrada os brasileiros dignos, formaram logo na linha de frente das tropas constitucionalistas. A epopéia gloriosa de Henrique Dias vai ser revivida na luta contra a ditadura. Patriotas, fortes e confiantes
na grandeza do ideal por que se batem São Paulo e Mato Grosso, os negros, sob a direção do Dr. Joaquim Guaraná Sant´Anna, tenente Arlindo, do Corpo de Bombeiro, tenente Ivo e outros, uniram-se, formando batalhões que, adestrados no manejo das armas e na disciplina vão levar, nas trincheiras extremas, desprendidos e leais, a sua bravura, conscientes de que se batem pela grandeza do Brasil que seus irmãos de raça, Rebouças, Patrocínio, Gama e outros muitos tanto dignificaram. Os nossos irmãos de cor, cujos ancestrais ajudaram a formar este Brasil grandioso, entrelaçando os pavilhões auri-verde e Paulista, garbosos, ao som dos hinos e marchas militares, seguem cheios de fé, ao nosso lado, ao lado de todos os brasileiros que levantaram alto a bandeira do ideal da constitucionalização, para a cruzada cívica, sagrada, da união de todos os Estados sob o lábaro sacrossanto da pátria estremecida."
(Jornal A Gazeta, 23 de Julho de 1932)

Se quiserem saber mais sobre o assunto, acessem o Texto
 Os Pérolas Negras : A participação do negro na Revolução constitucionalista de 1932, de
Petrônio José Domingues através do link:

http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia_n29_30_p199.pdf

Legião Negra: Soldados e enfermeiras
"Como em muitos episódios marcantes que fizeram a história do Brasil, os negros ficaram esquecidos, pois quase nada se falou da Legião Negra depois da Revolução de 1932 e de praticamente 1/3 dos soldados constitucionalistas negros que, há poucas décadas, haviam saído da escravidão. Do conflito, ficaram várias lições: quando pensamos que perdemos a guerra, estamos perdendo apenas uma batalha, porque todo o movimento foi fundamental para a redemocratização do Brasil. A outra lição é que não existe história, luta por liberdade e justiça neste país que não tenha a participação efetiva dos negros brasileiros." (André Rezende)

um excelente endereço para quem gosta do assunto é o blog do Ricardo 32. ACESSEM! Vão gostar muito!

www.tudoporsaopaulo.com.br    ou  www.tudoporsaopaulo1932.com.br




terça-feira, 12 de novembro de 2013


José Perfeito ou Mestre Zezinho


Mestre Zezinho
Fui procurar Seu Zezinho, por indicação de meu amigo Odilon de Siqueira, que o mencionara algumas vezes durante nossos encontros: “Ludmila, você precisa entrevistar este moço, um dos últimos descendentes de escravos que mora em Jacareí. Vou procurar saber onde encontra-lo e marcamos uma entrevista.”
E lá fomos nós, gravador em punho, conversar com o Seu Zezinho.
Infelizmente, a fita desta entrevista foi uma que se perdeu, e a transcrição, eu havia postergado, porque Seu Zezinho falava muito, recitava no meio da entrevista (contou uma longa história chamada Boi Pintado, que ocupou um lado inteiro da fita) iniciava novo assunto antes de terminar o primeiro, enfim, seria uma transcrição que levaria um bom tempo. Então, eu entreguei a fita para que uma pessoa me auxiliasse neste mister e nunca mais consegui reavê-la...

domingo, 10 de novembro de 2013


O livro de Azevedo Sampaio

Rugendas: Porão de Navio Negreiro
Jacareí foi uma das cidades do Vale com maior número de escravos da região, mas foi também palco de um movimento abolicionista muito bem organizado, conforme podemos verificar na obra de Azevedo Sampaio (1980).  Azevedo Sampaio, farmacêutico, nasceu em 13 de agosto de 1839, em Portugal, e chegou ao Brasil em 1854, instalando-se no Rio de Janeiro. Em 1868, transferiu-se para Jacareí. Homem culto e inconformado com a situação do negro em nossa cidade, logo abraçou a causa abolicionista, tornando-se seu líder. Agregando simpatizantes à causa, formou o Clube dos Abolicionistas, sendo muito perseguido pelos escravocratas da região.

Jacareí e a abolição da escravatura

Possivelmente a única fotografia de um navio negreiro, feita por Marc Ferrez, em 1882. O navio que transportava as vítimas da escravidão era francês e a foto foi produzida de forma clandestina.
“Jacareí, disse Azevedo Sampaio, “tinha na História do escravagismo o seu nome gravado em caracteres indeléveis desde tempos remotos.” Sua posição geográfica privilegiada também favorecia a interligação da Capital do Império e da Província de São Paulo. O intercâmbio do comércio escravagista era, pois, intenso e aqui surgiram grandes fazendeiros e escravocratas. Os primeiros amealharam fortuna com suas lavouras de café, apoiando-se no braço escravo. Os segundos, apoiando-se no café, formaram um império com o comércio do braço escravo. Entre estes, destacou-se João da Costa Gomes Leitão, negociante, cafeicultor, capitalista, que construiu uma fortuna invejável capaz de financiar os voluntários da Guerra do Paraguai, de Jacareí e do Vale, um dos acionistas da Estrada de Ferro São Paulo- Rio e que emprestava dinheiro a inúmeros fazendeiros de Jacareí, mediante a hipoteca de terras e escravos.” (Lencioni, B.S. )

quinta-feira, 7 de novembro de 2013


Viagens de Tropeiros entre Serras



Antiga foto com tropeiros saindo em viagens com as mulas carregadas
“Em 1733, o coronel português, Cristóvão Pereira de Abreu partiu por conta própria, depois de em vão pedir apoio aos governos de São Paulo e Curitiba, traçou e percorreu com sua tropa aproximadamente 1.500 km, o caminho que veio a ser conhecido como Caminho do Viamão, que saía dos Campos de Viamão (RS) e ligava Curitiba a Sorocaba.
 "Estrada Real", “Estrada das Tropas", "Estrada do Sul", "Estrada do Viamão-Sorocaba", "Estrada do Sertão" e "Estrada da Mata", também foram denominações dadas à estrada do Viamão.
 Neste trajeto, a tropa construiu mais de 200 pontes, levou mais de 2000 animais e fez de Sorocaba mais do que uma parada obrigatória para descanso de homens e animais; transformou Sorocaba no principal centro mercador de tropas do estado de São Paulo... Durante anos, o País dependeu economicamente do caminho do Viamão. Os animais trouxeram a prosperidade e a riqueza, principalmente para os gaúchos que se dedicavam à sua criação. Enriqueceram também os grandes homens das tropas, que por vezes iniciavam com dois ou três animais e ao longo do tempo acabavam por montar sua própria tropa com mais de 250 mulas, tornando-se ilustres e abastados donos de terras. Todos se beneficiavam com a passagem das tropas cargueiras. Os ranchos surgiam e ao seu redor o comércio se formava, dando origem a vilas e povoados. Era preciso receber e alimentar tanto os animais quanto os tropeiros... Todos eram beneficiados com a passagem das tropas. Homens enriqueceram e modestos pousos tornaram-se animadas vilas e povoados."

Os Tropeiros e o povoamento do Brasil



 “A partir da chegada dos espanhóis na Cordilheira dos Andes e a identificação do
 monumental volume de minerais preciosos, ocorre o início de um fenômeno socio  econômico com repercussão em toda América Latina - o Tropeirismo 
Era o século XVII e o envolvimento atinge também o Brasil.” (Ocílio José de Azevedo Ferraz)

Os espanhóis, para transportar o imenso volume de minerais preciosos através do grande e acidentado trecho da Cordilheira dos Andes, traziam nos porões de seus navios burros e mulas para a execução desse trabalho, pois eram animais dóceis e extremamente resistentes.  A produção dos jumentos e éguas (muares) era mantida na Europa. Com o crescimento do volume de negócios, os espanhóis resolveram implantar um criatório de muares na América Latina, mais exatamente na região dos pampas, onde nasceu a cultura missioneira (hoje território da Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil). Nessa vasta planície, a parceria entre jesuítas e índios Guarani frutificou e a criação de burros e mulas, animais estéreis resultantes do cruzamento de jumentos com éguas, obteve êxito.
Da região missioneira, os animais seguiam para a cidade de Salto, na Argentina, aos pés da Cordilheira Andina, guiados pelos “tropeiros” que os negociavam nas feiras.
Perto de 1693, foram descobertas as primeiras minas de ouro em Minas Gerais, provocando uma verdadeira corrida a essa região. O ciclo do ouro iniciou o movimento tropeirista no Brasil, atividade que determinou o povoamento de nosso País em todos os seus quadrantes.  Diz Ocílio Ferraz: ”O tropeirismo uniu territórios; conduziu o gado; escoou a produção econômica. Criou a identidade brasileira - fruto da miscigenação de raças, culturas, crenças e tradições - entre indígenas, africanos e europeus.”  

segunda-feira, 4 de novembro de 2013


Jacareí e seus cemitérios

Gravura de Debret dominio público
Os ritos de passagem, dentre os quais o sepultamento dos mortos, foi questão de ordem religiosa, antes de se tornar um problema social. Os povos greco romanos enterravam seus mortos fora das cidades. O culto aos mártires, introduzido pelo cristianismo, fomentou a ideia de que a colocação dos mortos em lugares santos, "traria vida eterna e ressurreição para a alma e segurança para o corpo"  (Ana Luiza do Patrocínio, citando Luiz de Camargo)*
Isso explica o costume de se enterrar os mortos dentro de igrejas e ao seu derredor,  praticado no Brasil Colônia.
Com base no Relatório Provincial de 1852, que traz os dados sobre Irmandades e Cemitérios presentes nas diversas Matrizes da Província, ficamos sabendo, dentre outras cidades, que “Bananal possuía na época 4 Irmandades e 15 cemitérios, Pindamonhangaba tinha 3 irmandades e 6 cemitérios, Taubaté 7 Irmandades e 6 cemitérios, São José dos Campos 2 Irmandades e 1 cemitério e Jacareí 4 Irmandades e 2 cemitérios.” ( Ana Luiza do Patrocínio)
Em ofício de 16 de março de 1852, temos a informação de que a renda da Matriz era de $640 por pessoa enterrada, existindo enterramentos nos cemitérios do Bom Sucesso, do Rosário, e nas igrejas, sem especificar quais.
"A presença de vivos cada vez maior perto dos mortos deve ter acirrado  antigos debates e feito surgir novos, pois em ofício de 18/08/1858, a Câmara Municipal alegou que recebeu uma 
informação de que havia 4.000$ destinados à construção de um cemitério, por conta das necessidades públicas." [...] Porém a década de 1860 passou em branco, até que em 5 de agosto de 1870, o pároco de Jacareí, José Bento de Andrade, pediu permissão para benzer o cemitério municipal de Jacarehy, da região do Aterrado do mesmo nome."  (Ana Luiza do Patrocínio) 


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Dados retirados do livro Jacareí: Quotidiano & Sociedade, de 1840 a 1870, de Ana Luiza do Patrocínio, Editora Scortecci, 2012.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013


Ritos de passagem

Cemitério novo, em Petrópolis, foto de Pedro Hees (c.1870). Na primeira metade do século XIX, os enterros no interior dos templos foram proibidos em várias cidades brasileiras.
Com a proximidade da comemoração do Dia de Finados, posto aqui, para vocês, algumas curiosidades sobre como eram feitos os enterros no Brasil colônia, e também em Jacareí.
Reis (1991, pág.178*) afirma que havia uma divisão socioespacial que definia onde cada indivíduo deveria ser sepultado. O adro (área em volta da igreja), por ser gratuito e mais distante dos santos, era o local reservado para escravos e pessoas livres pobres. Já o corpo (parte interna da igreja) era o espaço onde eram enterrados indivíduos de mais prestígio e quanto mais importante, mais próximo do altar e, consequentemente, da salvação na vida eterna. No Brasil colonial, os sepultamentos  nas igrejas existiram até 1820, quando foram proibidos e começaram a se construir os primeiros cemitérios. Até então, somente negros e indigentes eram enterrados no chão.
Em seu artigo “A Morte no Brasil Colônia” Viviane Galvão  (JC on-line) escreve que:
"Durante toda a sua existência, o católico preparava-se para a morte deixando relatado em seu testamento as estratégias imaginadas para a salvação de sua alma.”... “As missas para os defuntos tinham o poder de abreviar o tempo passado no purgatório, trazendo grandes benefícios para a alma. Em Pernambuco, no século 18, um rico comerciante português tornou sua alma herdeira de todos seus bens; sua fortuna foi convertida em cento e vinte mil missas em intenção de sua alma.” (Galvão, V.JC on-line)

quarta-feira, 30 de outubro de 2013


Muda o leito do Rio Paraíba (2)


Foto Aérea de 1938 com curso já modificado do Rio Paraiba
“Pela leitura dos livros da Santa Casa e dos documentos que manuseamos no Arquivo do Estado, constatamos que a mudança do leito de nosso lendário rio foi feita por determinação do Presidente da Província para cortar uma grande curva que então havia entre o bairro do Cassununga e as proximidades do Matadouro Municipal. E como a Santa Casa também andou envolvida na mudança do leito do rio, vamos relatar quanto encontramos.
Em fins de 1850 ou 1851, o influente Barão de Jacareí encaminhou ao Juiz de Paz em exercício, Sr. João da Costa Gomes Leitão, o seguinte embargo:

Ilmo Sr.Juiz. Mal Supplente
Diz o barão de Jacareí, que estando presentemente o Inspetor da Estrada geral abrindo hum Furado para novo encanamento do rio Parahyba, direcção que desvia extraordinariamente o rio da povoação em reconhecido prejuízo do publico, e especialmente do supplicante, porque o seu prédio por onde passa o Parahyba perde consideravelmente de valor, como tudo se mostrará a seu tempo, vem requerer a V.Sa. Mandado de Embargo em dita obra, a fim de que esta não continue, citando-se o inspetor para a audiência deste juízo assistir aos artigos de nunciação e para todos os mais actos da cauza.
E.R.Mcê
a) Barão de Jacarehy
Despacho: Não tem lugar o que o suplente requer, visto o Inspetor da estrada Geral abrindo o dito furado por portaria do Exmo. Snr. Prezidente da Provincia e com sepção do proprietario.
Jacarehy 10 de março de 1851”
            a) Leitão. (Rodrigues, R. 1953, pág. 64).

A foto que ilustra essa matéria foi publicada originalmente na página Retratos da Cidade de Luiz José Navarro da Cruz, no Jornal Semanário de  13 de agosto de 1999

1850 – Muda o leito do rio Paraíba


Fundos da casa do Barão de Jacareí, com parte do quintal que descia até o Rio Paraíba
O Rio Paraíba mudou de leito!
Ele passava, numa acentuada curva, nos fundos da Santa Casa de Misericórdia, banhando antes o leito da Estrada de Ferro Central do Brasil no Cassununga e completando-se além da Rua 15 de Novembro, passando pelos fundos da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.
A maior parte dos habitantes de Jacareí, que entrevistei, relatou que ouviram de seus pais a história de que o Barão de Jacareí desviara o curso do Rio Paraíba, valendo-se do trabalho de seus escravos, no período de uma noite. Por que o fizera? Cada qual chegou às suas próprias conclusões, conforme poderá ser confirmado nos depoimentos publicados. Essa história, de tão repetida, virou uma lenda que todos conhecem. O real motivo, porém, diverge desse entendimento popular.Essa verdadeira novela da transposição do leito do rio durou 26 anos e teve como protagonistas dois importantes personagens da história de Jacareí. De um lado, o Cel. João da Costa Gomes Leitão, grande cafeicultor e escravagista, considerado como um dos homens mais ricos da região do Vale do Paraíba, tendo como oponente o Barão de Jacareí. O Cel. Leitão conseguiu, através de uma portaria do presidente provincial, Vicente Pires da Mota, em 1851, permissão para alterar o curso do rio Paraíba afastando-o em 160 braças, ou seja, 404 metros de seu leito natural para o lado do bairro do São João, onde os pastos eram de sua propriedade.
O Barão de Jacareí, residia num palacete que ficava na esquina da atual rua Antonio Afonso com a Rua Lamartine, e seu quintal descia até a beira do rio. Com a mudança do leito, o palacete deixou de ser à beira-rio, fato que, no entender o Barão, desvalorizara em muito sua propriedade. Inconformado ele promoveu um embargo judicial, que, no entanto, não foi à frente. O Barão de Jacareí morreu vendo o rio correr no novo traçado. Seu palacete foi destruído por um incêndio em 1944.





terça-feira, 29 de outubro de 2013


Sabão de cinza

Eu e dona Rafaela, no quintal de sua casa em  1998, durante a entrevista
No dia em que me encontrei com dona Rafaela, ela recordou-se de como via as pessoas prepararem o sabão de cinza, e contou para mim todo o processo. Aí vai a receita para vocês.

Receita de Sabão de cinza de Dona Rafaela Mercadante

 2,5 Kg de cinza, 5 Kg de sebo, 5 litros de água, ½ Kg de soda cáustica.
Modo de preparar
"Derreta o sebo em fogo brando, até obter uma massa uniforme. Em outra lata, misture a cinza com a água e leve para fervura durante quatro horas. Desligue o fogo, deixe a cinza decantar e, a essa mesma água, acrescente o sebo. Misture bem. Junte lentamente a soda e mexa até dissolver. Distribua o produto final em forminhas e embrulhe com palha de milho seca."
O produto final é o sabão de cinza, considerado ecológico por não afetar o ambiente.Este sabão é bastante antigo, mas ainda é produzido artesanalmente em diversas regiões do Brasil. É um sabão que contém menos soda cáustica porque grande parte da necessária foi substituída pela cinza. A cinza possui uma importante propriedade que é a de branquear, purificar. Se quiser clarear tecidos rústicos, coloque-os ensaboados de molho com uma trouxinha de cinza.
No dia seguinte é só enxaguar. (Ludmila)

Sabão de cinza caseiro

segunda-feira, 28 de outubro de 2013


Jacareí Tempo e Memória

Entrevistas publicadas no Diário de Jacareí, anos atrás

Na segunda parte do livro, publico as entrevistas de todos que me ditaram suas memórias, sem editá-las, simplesmente ao sabor da conversa que se iniciava à tarde e, muitas vezes, prosseguia noite adentro e até em outros encontros.  Nela os personagens se inserem na história oficial através do testemunho de sua própria vivência e apreensão dos fatos. Às vezes, os corroboram. Outras, narram a sua variante particular, com detalhes surpreendentes, de acordo com sua visão e interpretação do mundo. Nisso está a grande força dos relatos verbais e a grande dificuldade em estabelecer versões históricas e passá-las adiante, enfocando a ótica e a compreensão de um único autor. A história tem várias faces!

A narrativa oral é muito diferente da escrita.
A escrita permite-nos idas e vindas, acertos, ajustes, intervenções póstumas, pesquisas. A narrativa oral não! Falar flui através do retorno a vivências, sentimentos, emoções. É a delicada revisão de etapas de nossa vida que já foram vencidas. No caso particular de meus entrevistados, todos septuagenários, o diálogo esbarrava também na dificuldade de trazer alguns fatos, de imediato, à memória. Tropeçava na voz trêmula, na vista frágil, no coração acelerado pelas recordações, pela saudade dos que já se foram; pelas cicatrizes muitas vezes reabertas. Apoiava-se na necessidade de momentos de silêncio e, muitas vezes, na interrupção do relato, pelas lágrimas involuntárias derramadas: deles e minhas!  Muitas histórias não foram registradas. Eu as ouvi em confiança, como confidências. Essas eu guardei só para mim: privilégio de quem escuta!

O que lhes apresento, pois, nesta segunda parte do livro, é o que de melhor e mais verdadeiro pude apurar desses encontros permeados por lembranças vivas. Muitos dos depoimentos foram publicados em jornais da região, porém, de forma editada. Seria impossível publicá-los na íntegra, por problema de espaço. Mas, aqui no livro, eles estão completos. Tenho certeza de que essa leitura irá remetê-los, cada qual à sua maneira, às suas próprias viagens por uma Jacareí que já não existe mais. Essa, exatamente, foi a intenção que me inspirou a torná-los públicos. Vamos, pois, juntos, empreender esse retorno prazeroso ao passado.
Dizem que uma pessoa sem passado, sem história, sem o conhecimento de suas raízes, é uma pessoa de presente muito pobre. Que este não seja, nunca, o nosso caso!

(Ludmila Saharovsky - trecho do livro Jacareí tempo e memória)

quinta-feira, 24 de outubro de 2013


Sabores do Passado: Tortei


Luigi Turzi e Antonia Zgarbi, foto do acervo da família, cedida por Erica Turci
Manja che ti fa bene!
Esta história começa no norte da Itália, quando Luigi Turzi e Antonia Sgarbi conseguem, em agosto de 1887,  a permissão para imigrarem para o Brasil, junto com os tres filhos nascidos em sua pátria:  Maria, com quatro anos, Mario, com dois e Anselma com nove dias. Eles desembarcam no porto de Santos e são enviados para Sorocaba, para trabalhar na lavoura. No Brasil nascem mais cinco filhos: Cesar, Virgínia, Anselmo, Rosinha e Carlos. Em Sorocaba, ficam sabendo que o governo estava distribuindo terras em Quiririm e, desta forma, mudam-se para a nossa região. A grande e querida familia dos Turci, Tursi e Turzi de Jacareí e do Vale do Paraíba são descendentes de Luigi e Antonia.
A deliciosa receita de Tortei, que segue, me foi passada pela professora Erica Turci, tataraneta do casal, que se delicia com as receitas de família.

Tortei
Massa: 1 kg de farinha de trigo, 2 ovos, água, 2 colheres de óleo.
 Amassar com as mãos até obter uma massa macia, como massa de macarrão. Deixar descansar por alguns minutos.
 Recheio: Batata doce cozida, café coado bem forte e amargo, pimenta-do- reino, sal e açúcar (só para adocicar, não para adoçar). Fazer um purê bem firme e reservar.
Modo de preparo: Abrir a massa com rolo, em tiras estreitas e compridas. Recortar em rodelas. Colocar o recheio e fazer pasteizinhos. Cozinhar os pasteizinhos em água fervente. Assim que o pastelzinho subir, retirar e colocar numa forma.
Montagem: uma camada de pastéis, regado com manteiga derretida e queijo “de ralo”. Repetir até encher a forma e... Buon appetito!

Sabores do Passado: Gelatina de pinga


Gelatina de pinga

4 pacotes de gelatina sem sabor branca (ou 3 brancas e 1 vermelha)
1 copo americano de pinga, 2 xícaras de água, 1 colher de chá de baunilha
1 kg de açúcar, anilina em pó para dar cor
         
Colocar todos os ingredientes, menos a baunilha, numa panela alta e grossa de alumínio. Mexer e levar ao fogo brando mexendo de vez em quando.
Retirar do fogo quando levantar fervura, acrescentar a baunilha e mexer. Levar ao fogo novamente por mais 15 minutos, só que dessa vez sem mexer.
Retirar do fogo e, com uma colher, retirar aquela espuminha branca que se forma. Diluir a anilina em pó na água. Colocar a anilina aos poucos até dar o tom desejado. Untar uma forma com óleo utilizando um pincel ou untar uma assadeira de 1 cm de altura com manteiga e colocar a gelatina.
Depois de dura, cortar com tesoura e polvilhar açúcar.