terça-feira, 30 de julho de 2013


Lobisomem? Também temos!




A história do Lobisomem de Jacareí

 Início do século.
Jacareí era uma pequena cidade perdida no Vale do Paraíba.
Em meio ao enfado da vida demasiadamente calma, do imaginário popular brotavam causos que, no boca a boca, percorriam o lugar e tornavam-se alvo de muitos comentários e discussões.
Com que então, o Lobisomem tornara a aparecer lá pros lados do São João?
“Mas, é verdade, cumadre? E como sabe que era mesmo o Cão?”
“Pois eu vou lhe contar. Eu já andava desconfiada... em todo dia de primeira lua cheia, as minha galinha dava de diminuí. Eu saía caçando pra lá, chamando pra cá...e nada delas aparecê!
Até que, na terça feira, contando de hoje pra trás, dá quinze dia, o Veludo farejou alguma coisa lá no mato e começou a latir. Latia, latia que não parava mais! Eu inté achei que ele tinha achado um furão e fui espiá. E não é que lá pros meio do bambuzal achei uns pedaço da minha carijó, só pena e osso?”
“Mas cumadre, pode ter sido uma raposa, ou inté um cachorro mal acostumado.”
“Pois sei que o meu Veludo havia de deixar cachorro de vizinho chegar perto! “
“Foi ele, o tar do lobisome, mas eu vou entocaiá ele e pego esse coisa ruim! Ah se pego!”
“Cruz em credo, cumadre, deixa disso...Afinal o que são umas galinha pra quem tá com o terreiro cheio delas?”
“Terreiro cheio... maizi são minha!"

quinta-feira, 25 de julho de 2013


O milagre da multiplicação dos peixes




Era o ano de 1717.
O Conde de Assumar, governador da Província de São Paulo, viajava pelo Vale do Paraíba, e seria recebido com um banquete na Vila de Guaratinguetá.
A população entrou em alvoroço. Era tão raro receberem uma visita naqueles tempos, e visita importante, era um acontecimento!
O que serviriam no banquete para o ilustre representante da Coroa Portuguesa e toda a sua comitiva? Resolveram que iriam preparar um jantar à base de peixe. A comissão que organizava os preparativos chamou então os pescadores e lhes pediu que trouxessem todo o pecado que conseguissem na Vila. Mas, o peixe parece que tinha sumido do rio Paraíba. O que se pescava, mal e mal dava para alimentar a família dos pescadores da região!
Preocupados com a situação, três amigos puseram suas canoas na água: Domingos Garcia, Felipe Pedroso e João Alves. Haveriam de pescar, pouco que fosse, mas já ajudaria no banquete. Jogaram suas redes muitas vezes no rio, e, para seu desencanto, elas insistiam em voltar vazias.“Vamos à última tentativa”, deliberaram e, desta vez, a rede de João Alves apanhou algo. Ele a trouxe com cuidado, mas, em vez de peixe, o que encontrou foi  um objeto parecido com o corpo de uma santa. Olhou bem para ele: a veste longa, os anjinhos na volta do globo que seus pés pisavam e a lua crescente: Nossa Senhora da Conceição, ele reconheceu. Já tinha visto várias vezes essa imagem no altar, mas, onde estava a cabeça? Ele colocou  o corpo da imagem no fundo do barco, e, cheio de esperança, lançou novamente sua rede na água. E, novamente a rede não voltou vazia. Desta vez, trouxe em sua malha a pequenina cabeça da santa, que encaixou no corpo feito uma luva. Os três pescadores, entenderam aquilo como um sinal  dos céus. Depois de reverenciarem a Santa,deixaram-na no fundo da canoa de João. Confiantes, lançaram novamente suas redes ao rio, e, desta vez, veio tanto peixe que mal coube nas canoas: estavam presenciando um milagre!O pescado foidistribuído em todas as casas, e sobrou muito, ainda,para o banquete para o Conde de Assumar.
Claro que a notícia correu de boca em boca e espalhou-se não apenas pela vila, mas por toda a região.Vinha gente de todo o Vale querendo ver a imagem da Santa que provocou aquele milagre. Por devoção e gratidão, ergueram na beira do rio uma capela, que transformou-se em igreja, que transformou-se em catedral, que transformou-se em basílica e que tornou  a Santa padroeira do Brasil. Salve Nossa Senhora Aparecida! Salve! Salve!
Mas...não foi essa mesma que lançaram nas águas lá em Jacareí?
Vai saber...assim contam os antigos...
(Ludmila Saharovsky)


Imagem Original de Nossa Senhora  da Conceição, encontrada
nas águas do Paraíba, sem o manto que a caracteriza, hoje, como Aparecida




segunda-feira, 15 de julho de 2013


Jacareí também tem Saci!



Muito se conta sobre o serzinho lendário conhecido como Saci. Todos já ouvimos sua história e conhecemos as suas estripulias.
No Vale do Paraíba, porém, ele adquiriu um novo visual, e existe até em versão feminina, em Canas:  a Sacizinha, conforme nos conta Sonia Gabriel em seu livro Mistérios do Vale.
Essa historia do saci de Jacareí foi contada por dona Zulmira, que sabia de muitas lendas e de muitos causos.
Vamos à sua versão:
“A historia do saci aconteceu aqui, na esquina de minha rua (hoje Av. faria Lima) Foi mais ou menos em 1945, porque a rua ainda não tinha luz elétrica. As crianças estava brincando, daí vieram correndo e falaram: “Mãe, olha aquele menino!” O menino não andava no chão. O menino era só vento. E assoviava : fifififififififi. Eu estranhei e disse:  Isso não é menino nada! Daí nói fiquemo duro e ele ali: fififififififi. Assim ó: ele é um vurto preto e solta um assovio ardido.
Então eu comecei a rezar. Ele desviou de mim e entrou no meio de uma ramada grande de cipó.
“Mãe, ele entrou lá, meu filho disse. Nesse momento eu pedi a ajuda de Deus pra eu chegar na minha casa com as crianças. Ele atravessou a estrada e entrou na bananeira lá do quintal.
Nói  entremo  no terreiro e ele ficou zanzando no quintal. A vizinha me chamou e perguntou: Você não viu nada? Eu disse: Fique quieta, que ele veio com nói. Daí ele deu de novo aquele assovio ardido, ardido e as criança tudo veio dormi comigo no quarto. Às 3 horas da manhã o meu marido chegou e ele sabia uma oração que era pra atropelar esse povo, daí o coisinha foi pro meio dos bambús da Escola Profissional, que é onde ele morava. Ali do lado da escola era um cafezeiro. Do lado de cá era um bambueiro. A gente morava no meio do mato. Aqui era tudo caminho. Tinha gabriela  pra cá, gabriela pra lá no meio das picadas. Quando eu tinha que levar marmita pro meu marido na Estação. Eu tinha que passar por aqui. Saia lá no mata burro e do mata burro na linha. Meu marido não podia ensinar a oração pra mim, que era serviço da família dele, mas como eu disse que não ia ficar com os meus filho no meio do bambual cheio de saci, ele me ensinou, mas eu nunca que passei ela pra ninguém. A gente tem de cumprir as promessa, não é mesmo?

quinta-feira, 11 de julho de 2013


Fantasmas no Museu

escadaria no MAV: Museu de Antropologia de Jacareí
Que o Coronel Leitão era um homem danado de ruim, todos nós já sabemos!
Ruim e sem fé! Pois, onde já se viu atirar de espingarda para o Céu, ameaçando de matar todos os santos, se a chuva não parasse?
É de dar dó, não é mesmo?
Pois, lá no Museu de Antropologia, antiga residência do Coronel, dizem, até hoje, que todas as noites, os guardas que cuidam da segurança, veem uma linda moça subindo e descendo as escadarias, trajando um luxuoso vestido de renda, longo, e segurando um castiçal com três velas acesas. Ela não incomoda ninguém. Apenas passeia pelas salas enormes e vazias, o olhar vagando pelas paredes. E, porque ela anda por lá? Sua alma não encontrou o descanso eterno até agora? Existem várias versões para o fato. Os mais antigos dizem que o Coronel, enraivecido porque a filha cuidava muito dos escravos, acabou por emparedá-la, por alguns dias, num dos inúmeros nichos existentes nas paredes falsas da mansão, onde deixava seus escravos para engorda, antes de vende-los. A moça nunca mais foi a mesma, e pouco tempo depois, adoeceu e morreu numa das alcovas.  O Coronel, então, para não gastar com o enterro, acabou emparedando o corpo da pobre coitada numa daquelas paredonas enormes de taipa. Pelo sim, pelo não, quando eu trabalhei no Museu, durante quase um ano, sempre que chegava, acendia uma vela no pátio, para o descanso de sua alma. Para mim, ela nunca apareceu, já para os guardas...
Contam os antigos, também, que lá no casarão do Coronel Leitão, existe uma túnel escavado que atravessa a rua e vai dar atrás do altar da igreja da matriz. Quando o Museu passou por seu último restauro, eu cheguei a ver essa passagem, mas não me atrevi a caminhar por ela. Se alguém foi, pode confirmar essa história, que fica para uma outra vez!
(Ludmila)
Afrescos nas paredes de taipa do MAV  de Jacareí


terça-feira, 9 de julho de 2013


Revolução de 32: Memórias de dona Bolívia Zonzini Carderelli

Passeata em São Paulo: 1932
Meu pai morreu em 32, ano da Revolução. A gente sentia muito medo dos nortistas que tomaram conta da cidade. As mulheres se trancavam em casa.
Eles andavam em bandos. O Virgílio ia fazer guarda no túnel da Estrada de Ferro de Guararema. Nós fazíamos roupas, uniformes para doar aos soldados.
Os dois automóveis de papai foram requisitados. Na época, ele disse: “os carros, tudo bem, mas meus filhos vocês não vão levar nenhum"! (trecho do depoimento de dona Bolívia Zonzini Carderelli)


“ Os interventores dos estados nortistas eram, então, nomeados por Vargas, sob forte influência do tenente Juarez Távora,  principal líder civil e militar da região durante a tomada de poder por parte dos revolucionários de 1930 e durante os primeiros anos do Governo Provisório. Essas novas lideranças, tão logo souberam que a grave crise política entre São Paulo e o Governo Provisório tomara o caminho das armas, passaram a se mobilizar, mostrando ao presidente que ele não estava só, e que esperavam recolocar o “Norte” no mapa político do país. Afinal, a Primeira República significara um período de distanciamento da região do centro político do poder”. (Lopes,R.H. 2009)

Revolução de 32: Sra. Rafaela Mercadante Azevedo

foto do blog www.tudoporsaopaulo1932.blogspot.com.br
Na Revolução de 32 eu ajudei a fazer as fardas dos soldados. Fiz muitas e muitas fardas, enquanto o Dr. Paulo Costa escutava as notícias pelo rádio, apavorado...ele ficava o dia inteiro com o rádio ligado, até o final da Revolução, então  a gente sabia de tudo o que estava acontecendo em São Paulo e nas cidades vizinhas. Eu trazia costura para fazer em casa, porque era muita gente pra poucas máquinas. Eu pegava meu pacote e costurava em casa. Fazia a blusa, o boné, caseava, pregava os botões,  fazia a polaina de crochê, meia de crochê, o Ivanhoé, boné, gorro, tudinho!  Meu enteado lutava no túnel e era geladíssimo! Quando veio o batalhão de nortistas à Jacareí, meu Deus! Como foi triste! Uma vez eu saí à janela do Cartório de Registro de Imóveis e um nortista viu um sapo na rua e pisando nele, esmagando o sapo falou:  “Foi assim que a gente fez com os paulistas!” Nós tivemos que receber e acomodar as tropas nortistas,  mais centenas de retirantes,  famílias inteiras que vieram pra Jacareí, descendo das cidades ocupadas: Cruzeiro, Lorena, Guaratinguetá. Eles saíram de suas casas, com medo  das forças do Getúlio. Aliás, eu nunca gostei do Getúlio. Ele foi um mau presidente. Foi ele quem começou a pôr o Brasil pra baixo.  Mas, lá na casa de Dr. Mendonça foi organizada uma cozinha, e no Educandário, outra. Foram recrutados muitos voluntários para ajudar a alimentar esse povo todo. As ruas viviam cheias de soldados. A gente tinha medo de andar pelas ruas, porque no meio dos retirantes vieram também muitos  desocupados, bandidos mesmo. O que se dizia era  que  os militares foram soltando os presos das cadeias para eles participarem das batalhas. Eu não tenho boas lembranças desse tempo. Foi de muita preocupação. (Memórias de dona Rafaela Mercadante de Azevedo)

Revolução de 32: Odilon Siqueira

Missa no túnel da Mantiqueira,
 foto do blog www. tudoporsaopaulo1932.blogspot.com.br
Em 1932 eu fui convocado pelo Sales Gomes, não sei qual era o cargo dele no departamento de Saúde, mas fui convocado como farmacêutico para prestar serviço inerente ao meu diploma na cidade. Nós tivemos vários problemas durante a revolução, aqui. O primeiro deles foi a saída da rapaziada, e muitos deixaram a família. Então na cidade foi feito um ponto de convergência, sob o comando  de um major, o Heitor Portugal. A sede era onde foi o Ginásio Antonio Afonso, naquele casarão que o Candongueiro  mandou derrubar. Ali, então, ficou a Delegacia Técnica comandada por esse Heitor Portugal, e também ficou a Prefeitura. O prefeito, na época, era o Francisco Antunes da Costa. Lá nós recebemos umas quatro mil pessoas: mulheres, crianças, e tivemos que arranjar alojamento para todas elas. Foram usadas fábricas, clubes, casas de família para abrigar toda essa gente. E para alimentar? Nós tínhamos duas cozinhas que funcionavam, uma  ali, na esquina, onde hoje é o prédio Mansão do Vale, que era a casa do Dr. Mendonça. Onde era o Educandário era outra cozinha. Eu e mais dois ou três rapazes; O Biroca, o Otávio Maia superintendíamos essa parte. Eu era o chefe da distribuição. Então nós tínhamos senhoras voluntárias, damas voluntárias que, com o dinheiro dado pelo estado, tinham que cuidar desse pessoal, e tudo, tudo deu certo.  Naquele tempo nós tivemos sérios problemas porque, no meio desses retirantes que tivemos que acolher, tinha muita gente boa, mas tinha também muito bandido, porque os militares, por onde iam passando, iam abrindo as cadeias e botando os presos pra frente de combate. Jacareí era um ponto estratégico por causa da ponte sobre o rio e o túnel de Guararema. Ludmila, você precisava ver o que acontecia em Jacareí nessa época. Porque as famílias, as pessoas de mais idade debandavam, saíam de suas casas sem levar nada. Fugiam pra roça como se foge de uma enchente, de um temporal enorme. Fugiam de medo dos soldados de Getúlio.
Aí, essa turma de militares carregaram tudo o que tinha aqui, quando saíram. Limparam tudo! Levaram até um vagão cheio de pneus que estava na Estação... (resumo do relato do Sr. Odilon Siqueira)

segunda-feira, 8 de julho de 2013


Memórias dos combatentes de 32

Sexto RI de Caçapava: 1932
Na revolução de 32 eu sofri bastante. Entrei como voluntário no Batalhão Santos Dumont, em São Paulo, e dez dias depois me mandaram Cruzeiro. Fui engajado no Batalhão Bahia e no dia seguinte já nos mandaram para defender o túnel. Descarrilhamos uma máquina para o inimigo não passar para o lado de cá, e lá ficamos. No dia que aqui cheguei, às duas horas da manhã, ninguém me reconheceu. Eu estava coberto de carvão. Estava preto da cabeça aos pés.
Carlos Gomes tinha um cargo na Secretaria da Saúde, então ele me convocou por eu ser farmacêutico, e eu fiquei em Jacareí.
Jacareí sofreu muito. Primeiro a saída dos jovens. Muitos deixaram a família.
Foi criado um ponto de convergência, onde um major, o Heitor Portugal, tomava conta da sede. Onde está o Ginásio Antonio Afonso, lá ficou a delegacia técnica. Nós recebemos durante a Revolução, mais ou menos 4.000 pessoas. Alojamos as pessoas nas fábricas, clubes, casas vazias... Tínhamos duas cozinhas. Eu, o Odilon e o Otávio Maia supervisionávamos esta parte.
O major Heitor Portugal me fez responsável pala distribuição de comida.
Como eu disse, havia duas cozinhas: uma onde hoje se encontra o Edifício Mansão do Vale, era a casa do Dr. Mendonça, e a outra lá no Educandário. As senhoras da cidade se voluntariaram  no serviço. De cozinha. Os alimentos eram dados pelo Governo e doados também pelos particulares. Os retirantes eram tratados da melhor forma possível. As gestantes tinham um local próprio. Os retirantes eram os moradores das cidades localizadas nas zonas de batalha, que vinham junto com os soldados, alarmados com o que as tropas federais poderiam fazer com eles.
O major, uma vez, mandou suspender o jantar. Fui até ele e lhe disse: “Vou entregar as minhas ordens. Acredito que os adultos possam passar fome, mas as crianças precisam ser alimentadas. Normalmente são famílias acostumadas a passar bem e que não podem ficar sem o jantar. Já estão dormindo em esteiras...” Ele acabou concordando comigo e o jantar foi restabelecido. (Memórias de Ubirajara Mercadante Loureiro: Seu Biróca)

domingo, 7 de julho de 2013


Relação dos Soldados de Jacareí

Soldados constitucionalistas "guardando" o túnel da Mantiqueira
*Relação dos ex-combatentes da Revolução de 32 em Jacareí:

Abílio de Oliveira/ Adhaias Xavier de Oliveira/ Alziro de Oliveira Santos/ Antonio de Almeida Ramos/Antonio José dos Santos/ Ana Rosa da Costa/ Ataliba A.C. Júnior/ Augusto Rodrigues/ Belmiro de Oliveira Santos/ Benedito de Souza/ Benedito Guedes Filho/ Benedito Pires/ Bertolino batista de Morais/ Carlos Loureiro/ Celisa Mercadante Faria/ Edmundo Pereira/ Eneias Mesquita/  Eunice de Barros Garcia/ Fernão Paes Zanith/ Henrique de Araújo/ Inocêncio de Souza/ Joaquim Freire Neto/ Joaquim Gabriel/ João Carlos de Toledo Guedes/ oão José de Andrade/ João Leite de Oliveira/ João Marcondes/ José Antonio Guedes/ José Cândido Cappelli/ José Cândido Porto/ José Bonifácio dos Santos/ José Marcelino dos Santos/ Juvenal Soares/ Leopoldo Alves Carneiro/  Luiz Gonzaga da Silva/ Luiz G. de Nogueira Macedo/ Luiz Magno Portela Passos/ Manoel Roca da Silva/ Maurílio dos Santos/ Messias dos Santos/ Miguel Faria/ Nadir José Nadir/ Nicolau Prianti/ Odilon Augusto de Siqueira/ Oscar Ramos/ Orestes Januzzi/ Pedro Claudiano/ Pedro Leite de Aquino/ Rafaela Mercadante de Azevedo/ Ramon Ortiz/ Rubem Silvio Prado/ Saturnino Montemor/ Sergio Justino Ferreira/ Sival Neves/ Tarcílio Paes da Silveira Waldomiro Dantas Cortez/ Ubirajara Mercadante Loureiro/ Ulderico Mega/ Zenaide de Barros Nascimento.

*Relação  que consta dos arquivos do MMDC de Jacareí

Revolução de 32: Nossos heróis


Soldados embarcando para as frentes de batalha para defender São Paulo em 32
Se a Revolução de 32 acabou sendo vitoriosa ou não, é muito discutível, mas  é certo que muitas vidas tombaram em favor do ideal do movimento. À exemplo de muitas cidades paulistas, Jacareí também viu caírem sem vida, alguns de seus filhos:

Sargento Acrísio  Sant’Ana: nascido em 2 de setembro de 1902, em Jacareí, combateu desde os primeiros dias da revolução, pelo 6º R.I. No dia 7 de agosto foi atingido  por uma granada que dilacerou suas pernas e o braço esquerdo, e mesmo assim, mortalmente ferido, animou suas tropas a lutarem. Faleceu no mesmo dia no hospital de Silveiras, onde foi sepultado, e posteriormente teve seu corpo transladado para Jacareí.
Voluntário Gabriel Soares: nasceu em 18/07/1904. Combateu no 4º B.C.R. – Batalhão Piracicabano. Teve posição de destaque em vários combates. Foi morto por uma bala de fuzil. Está sepultado em Jacareí.
Soldado Pedro de Souza Ramos: nasceu em Jacareí em 1913. Pertencia ao 1º Batalhão do 6º R.I. Combateu desde o primeiro dia. Sua bravura, no entanto, foi demonstrada por poucos dias, pois em 15/07 foi atingido por uma rajada de metralhadora. Foi sepultado em São José dos Campos e posteriormente transladado para Jacareí.
Benoni Cardoso, Venâncio Ramos e José Amaral Palmeira, nascidos em Jacareí, também deram suas vidas, assim como outros tantos brasileiros, na defesa do ideal que São Paulo, tão nobremente, se fez de porta voz, a fim de assegurar a cada um de nós o direito de ter um governo legítimo, regido por uma constituição igualmente legítima e que corresponda às aspirações nacionais.

sábado, 6 de julho de 2013


Revolução de 32: Jacareí

Damas voluntárias confeccionando os uniformes para os soldados constitucionalistas em Jacareí

A notícia da Revolução Constitucionalista, iniciada em São Paulo, espalha-se  rapidamente por todo o país. Jacareí também se prepara. Francisco Antunes da Costa, prefeito municipal, tão logo recebe a confirmação da notícia, reúne-se com o comandante da Força Pública para tomar as primeiras providências:  alistamento de voluntários para as Forças Constitucionalistas e instalação de postos sanitários e de abastecimento para o exército paulista.
Presidem o movimento o Dr. Paulo de Oliveira Costa (Juiz de Direito), Francisco Antunes da Costa (Prefeito Municipal), Dr. Armando Azevedo (Promotor Público), Dr. Luís Tavares da Cunha (Delegado de Polícia), Antonio Martins de Oliveira e Pedro Ribeiro Moreira. No primeiro mês alistam-se 174
 (cento e setenta e quatro) voluntários, dos quais 104 são enviados, imediatamente, para a frente de batalha. A população também se mobiliza: os alfaiates, liderados por Romeu de Barros passam a reunir-se nos grupos escolares para a confecção de fardas. Criam-se as Ligas Pró Soldados que recebem da população e enviam para as frentes de batalha os donativos recebidos: alimentos, agasalhos, medicamentos, munição e armas.
Apesar de todos os esforços, São Paulo começa a perder terreno. Em 18 de setembro, a “Folha do Povo” destaca a triste manchete: “A agonia”-  São Paulo agora não lutava mais pela vitória mas sim para evitar uma invasão de seu território. E, São Paulo perde a luta! Dia 2 de  outubro d 32, às 16 hs o General Góes Monteiro fala , pelo rádio à Nação: “Pode São Paulo estar certo de que o governo não o tratará em desigualdade e inferioridade em relação aos outros Estados.” 
Inicia-se a retirada das tropas. 
Jacareí  precisa providenciar toda a infraestrutura para receber soldados e os refugiados, oferecendo roupas, alojamento, remédios e alimentos. o Sr. Odilon Siqueira e Sr. Ubirajara Mercadante Loureiro, farmacêuticos, são convocados pela Delegacia Técnica para prestar assistência aos feridos. Uma cozinha coletiva é montada no Educandário, e até o prédio da Família Mendonça (hoje Mansão do Vale) é requisitado pelo Exército. (trecho do livro: Jacareí:Tempo e Memória de Ludmila Saharovsky)


Revolução de 32 - Início

Após a Revolução de 1930, golpe de Estado que levou Getúlio Vargas ao poder, aumentou muito a insatisfação no estado de São Paulo. Vargas concentrou poder e nomeou interventores nos estados.
Os paulistas esperavam a convocação de eleições, mas dois anos se passaram e o governo provisório se mantinha. Os fazendeiros paulistas, que tinham perdido o poder após a revolução de 1930, eram os mais insatisfeitos e encabeçaram uma forte oposição ao governo Vargas. Houve também grande participação de estudantes universitários, comerciários e profissionais liberais.
Os paulistas exigiam do governo provisório a elaboração de uma nova Constituição e a convocação de eleições para presidentes. Exigiam também, de imediato, a saída do interventor pernambucano João Alberto e a nomeação de um interventor paulista.
Como Vargas não atendeu as reivindicações dos paulistas, em maio de 1932 começaram uma série de manifestações de rua contrárias ao seu governo. Numa destas manifestações, no dia 23 de maio, houve forte reação policial, ocasionando a morte de quatro estudantes (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo).. Essas mortes foram o estopim que deu início à Revolução Constitucionalista no dia 9 de julho de 1932. O movimento então, emprestando as letras dos nomes dos rapazes mortos, passou a chamar-se MMDC. Com a ajuda dos meios de comunicação em massa, o movimento ganhou apoio popular e mobilizou 35 mil homens, pelo lado dos paulistas, contra 100 mil soldados do governo Vargas. A Revolução teve apoio de amplos setores da sociedade paulista. Pegaram em armas intelectuais, industriais, estudantes, outros segmentos das camadas médias e políticos ligados à República Velha ou ao Partido Democrático. No dia 9 de julho de 1932, o conflito armado organizou seus primeiros passos sob a liderança dos generais: Euclides de Figueiredo, Isidoro Dias Lopes e Bertoldo Klinger. O plano dos revolucionários era empreender um rápido ataque à sede do governo federal, no Rio de Janeiro, forçando Getúlio a deixar o cargo. No entanto, a ampla participação popular e militar não foi suficiente para fazer frente ao governo central. Na retaguarda, o povo se uniu para ajudar em tudo que era necessário: surgiram voluntários civis aviadores, para pilotar aviões, outros para lutar como soldados ou como padioleiros, que recolhiam feridos levando-os da frente de batalha para a retaguarda, mulheres costuravam uniformes, faziam pães e preparavam os alimentos para serem enviados aos combatentes.

Mobilização em S.Paulo pela Revolução



Salve 9 de julho!



"Tais foram os fatos que eu vi; os fatos em que tomei parte; os fatos que por meu comando se realizaram; os fatos de que participei como chefe e como testemunha; os fatos que me conduziram à luta, à prisão, ao exílio, á perda de amigos, de posições e de bens; os fatos de que me recordo como os melhores de minha vida. Se eu pudesse muda-los, não os alteraria em nada, e os sofreria de novo; se pudesse, novamente os provocaria. Porque só com este exemplo, renovado e muitas vezes renovado, até o sacrifício final, teria dado ao meu país o que de melhor resta de mim :o amor a seu povo e à liberdade a que ele tem direito” (Gal. Euclydes Figueiredo)

1932 – A Revolução Constitucionalista  no Vale do Paraíba

“Cachoeira Paulista foi o ponto de concentração de tropas da frente norte, e dali partiam os soldados para as diversas cidades onde havia combates: Areias, Bananal, Silveiras, Queluz, Cruzeiro. Em Cachoeira instalou-se o quartel general da 2ª.D.I.O Divisão de Infantaria em Operações, sob o comando do então coronel Euclydes Figueiredo. A primeira tropa chegou A Cachoeira às 8:30 da manhã de 10 de junho. Era o destacamento policial de Guaratinguetá. Às nove horas começaram a chegar os destacamentos das cidades vizinhas e uma hora depois já havia um total de 86 praças agrupados no pátio da cadeia. Ao meio dia chega o tenente Belmiro, da Força Pública, que se reúne com o prefeito e o delegado, explicando o que estava acontecendo na capital; ”tratava-se  de um levante militar apoiado pelo povo contra a ditadura”. Simultaneamente desembarcava na estação ferroviária de Cachoeira uma força do 6º.Regimento de Infantaria de Caçapava.” (Costa, Joaquim 1981, pág.3 Jornal Valeparaibano VP Documento Revolução de 32:A participação do Vale)


Bateria Anti aérea em Silveiras, foto do blog: www.tudoporsaopaulo1932.blogspot.com


quinta-feira, 4 de julho de 2013


O Barqueiro Fantasma



 No início do século, em Jacareí,  as trevas dominavam as noites sem luar.
O Rio Paraiba cortava a cidade ao meio, empregando balsas e canoas para a sua travessia.
E, é neste cenário que nossa historia acontece.
Era noite de festa na roça, na casa do pai de dona Zulmira, ali no bairro do São João. Tinha sanfoneiro, tinha fogueira, tinha arrasta pé.  Os amigos reunidos comemoravam o dia do santo. E, foi dona Zulmira  quem me contou essa história, que procurei reproduzir igualzinha para vocês. O fato aconteceu em 1917:
“Menina, vá buscar água no rio, a mãe gritou lá de dentro, e eu, mais a tia Servina, a Petronilha Carneiro e dois tios meus, o João Fraudino e o João Costa, junto com os cachorros, fomos pra beira do rio, apanhar água nos baldes. A noite era de luar, e, coisa esquisita, os cães estavam agitados, os pelos arrepiados,  seguiam em bando. De repente, pararam e começaram a latir para a outra margem, de onde veio um grito:

terça-feira, 2 de julho de 2013


A virgem e a serpente.

Ilustração do Mestre Justino, feita em 1978, quando a lenda foi publicada no Jornal O Jacareiense


Esta história da serpente que quase comeu nossa cidade, não foi inventada por mim não. Ela foi ouvida por um menino que cresceu e cresceu  tanto, que se transformou num senhor de cabelos muito brancos, conhecido pelo nome de Odilon. E ele contou para mim. Então eu a guardei, bem guardadinha, na minha cabeça, e agora vou recontá-la a vocês:
Era uma vez, há muito, muito tempo, um lugar calmo, uma vila tranquila, que era cortada por um caudaloso rio.
Moravam nele muitos peixes, garças, capivaras e, contam os antigos, também muitos jacarés. Crianças brincavam em suas margens. Lavadeiras ensaboavam roupas, homens cuidavam de ceveiros, e a vida corria, devagar.
Parayba era o rio. Jacarehy a vila.
Bem, até aqui, este seria um lugar igual a muitos outros espalhados por esse extenso vale, não fosse uma cobra imensa que nele morava e que às vezes, despertava. Alguns diziam que era cobra. Outros, que era um dragão!
E nossa estória começa exatamente agora: Eis que acorda o bichão!
E ele desperta nada discreto, e, com seu bocejo forte igual trovão, o pânico se instala:
Os negros se benzem, as crianças correm, voam roupas e bacias, as mulheres gritam e a vila calma se transforma em confusão. A serpente acordou faminta e começa a devorar o que lhe aparece pela frente: roças, canoas, barrancos, animais. 

segunda-feira, 1 de julho de 2013


Memórias

Antiga foto do Gymnasio Nogueira da Gama, local onde hoje funciona a Secretaria de Educação de Jacareí, e, antes, funcionou o Educandário Margarida Galvão.

O Colégio foi inaugurado em 23 de julho de 1893 e, desta data até dezembro do mesmo ano foram admitidos 25 alunos. De 1984 em diante, a matrícula subiu sempre em progressão crescente. Conforme o colégio progredia foi se reanimando o comércio. Abriram-se oficinas. Entraram numa prosperidade as indústrias locais. Em 02 de dezembro de 1899, o Colégio Nogueira da Gama , por decreto de número 3.518, assinado por Epitácio Pessoa, foi equiparado ao Ginásio Nacional. O fato repercutiu por todos os segmentos da população como um acontecimento único. Jacareí fora elevada à categoria de uma cidade acadêmica, constituindo-se em foco de ciências e letras, onde filhos de outras terras viriam buscar a luz do conhecimento
 (Memorias do professor Mario Moraes)