Na Revolução de 32 eu ajudei a fazer as fardas dos soldados. Fiz muitas e muitas fardas, enquanto o Dr. Paulo Costa escutava as notícias pelo rádio, apavorado...ele ficava o dia inteiro com o rádio ligado, até o final da Revolução, então a gente sabia de tudo o que estava acontecendo em São Paulo e nas cidades vizinhas. Eu trazia costura para fazer em casa, porque era muita gente pra poucas máquinas. Eu pegava meu pacote e costurava em casa. Fazia a blusa, o boné, caseava, pregava os botões, fazia a polaina de crochê, meia de crochê, o Ivanhoé, boné, gorro, tudinho! Meu enteado lutava no túnel e era geladíssimo! Quando veio o batalhão de nortistas à Jacareí, meu Deus! Como foi triste! Uma vez eu saí à janela do Cartório de Registro de Imóveis e um nortista viu um sapo na rua e pisando nele, esmagando o sapo falou: “Foi assim que a gente fez com os paulistas!” Nós tivemos que receber e acomodar as tropas nortistas, mais centenas de retirantes, famílias inteiras que vieram pra Jacareí, descendo das cidades ocupadas: Cruzeiro, Lorena, Guaratinguetá. Eles saíram de suas casas, com medo das forças do Getúlio. Aliás, eu nunca gostei do Getúlio. Ele foi um mau presidente. Foi ele quem começou a pôr o Brasil pra baixo. Mas, lá na casa de Dr. Mendonça foi organizada uma cozinha, e no Educandário, outra. Foram recrutados muitos voluntários para ajudar a alimentar esse povo todo. As ruas viviam cheias de soldados. A gente tinha medo de andar pelas ruas, porque no meio dos retirantes vieram também muitos desocupados, bandidos mesmo. O que se dizia era que os militares foram soltando os presos das cadeias para eles participarem das batalhas. Eu não tenho boas lembranças desse tempo. Foi de muita preocupação. (
Memórias de dona Rafaela Mercadante de Azevedo)
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