sábado, 31 de maio de 2014


Memórias da Imigração Japonesa em Jacareí (parte 3)

Fábrica de tijolo de Santoro Namoto
Foto do livro Caminhos da Imigração Japonesa em Jacareí, pag.24
Familia Horigomi no Rio Abaixo na dácada de 30.
Foto do livro Caminhos da Imigração Japonesa em Jacareí, pag.24

“Em 1933, existiam 13 famílias de imigrantes japoneses em Jacareí. Entre as décadas de 40 e 50, diversas famílias chegaram à região do Rio Abaixo, dedicando-se à agricultura, principalmente a do tomate. Foram as famílias Tsukada, Misawa, Hamazoki, Demizu, Noda, Nagima, Tanigawa, Maki, Kazuo Tanaka, Massachi Tanaka, Suzuki, Yura, Yoshitomi, Okuda, Mizoguchi, Ishikawa, Tojo, Miyazaki, Horigomi, Hiay, Sato, Nakano, Suguimoto, Nishio, Jimbo e outras.A maioria dessas famílias, inicialmente, veio na condição de arrendatários e, somente mais tarde, puderam adquirir suas próprias propriedades.
Sitio Murakawa em Jacareí .
Foto do livro Caminhos da Imigração Japonesa em Jacareí, pag.24
Era comum as famílias se ajudarem no trabalho agrícola, no sistema de mutirão.
A produção agrícola dessas famílias era vendida para São Paulo e Rio de Janeiro e para aqueles que se tornaram associados, para a Cooperativa. Parte dela era comercializada no mercado local, que se tornou também um ponto de encontro desses imigrantes. O transporte desses produtos era feito em carroça, carro de boi, carrinho de mão, barco, bicicleta ou cestos.



Armazem da Cooperativa Agrícola de Cotia na década de 40.
Á direita o gerente Yoshimasa Ohata e à esquerda o Sr. Kunitoshi Misawa.
Foto do livro Caminhos da Imigração Japonesa em Jacareí, pag.25
As famílias que moravam do lado direito do rio, atravessavam a barco para ir à cidade.
À cidade chegaram famílias que se dedicaram também às atividades comerciais e de serviços, como bares, lavanderias e hotelaria. Foi o caso das famílias Iwamoto, Maekawa, Narita, Nagata, Tanisho e Tominaga.
A família Tanisho tornou-se proprietária do antigo Bar Brasil, ponto de encontro da população local e também uma referência para os imigrantes japoneses que aqui chegavam.

Bar Brasil, década de 40. Foto do livro Caminhos da Imigração Japonesa em Jacareí, pag.24
Em agosto de 1949, José Quiotaque Tanisho instalou um botequim e uma fábrica de balas na rua Dr. Lúcio Malta. As balas, conhecidas como balas “japonesas” tornaram-se produto de referência para a cidade, assim como o biscoito. A receita da bala, retirada do livro de culinárias de dona Benta pela senhora Murakawa, foi aperfeiçoada pela senhora Hideko Seki Tanisho e, dessa forma, produzida artesanalmente, em larga escala, pela fábrica.” (Kanazawa , J.N  2004, págs. 15 e 16)

Lembrança da Comemoração dos 40 anos da Colonização Japonesa em Jacareí em dezembro de 1968.
Atrás, da esquerda para a direita: Moriaki Ueno, Gerente da Cooperativa, Karazawa, Iwamura e Noda.
Sentados, da esquerda para a direita: Tsuruichi Yamaguchi, Santaro Namoto, o casal Nagata e Kimura
Foto do livro Caminhos da Imigração Japonesa em Jacareí, pag.20:
“Uma das formas de lazer, a partir da década de 30, foram os cinemas ambulantes, que desempenharam uma importante função de entretenimento para os japoneses e seus descendentes do interior, amenizando a dura vida que levavam.
As projeções dos filmes eram feitas em uma tela de pano branco, somente com a sonorização do narrador. Com o tempo, tornaram-se falados e também coloridos.
O dia do cinema em Jacareí era esperado com grande ansiedade pela comunidade japonesa. Era uma oportunidade de lazer, além de encontrarem amigos e conversarem.
No começo, os filmes eram projetados no Kaikan  do Rio Abaixo, depois na sede da Associação, na estrada do Meia Lua. Além desses locais, foram projetados também na Cooperativa e nos kaikans das colônias de JAMIC e Santana.” (Kanazawa, J.N. 2004, pág. 27)

Foto do livro Caminhos da Imigração Japonesa em Jacareí, pag.25
Grupo de moças e de idosos em homenagem aos idosos (keirokai) dácada de 50.
Foto do livro Caminhos da Imigração Japonesa em Jacareí, pag.26
Sede da Associação Japonesa em Jacareí em sede de sapê)
Foto do livro Caminhos da Imigração Japonesa em Jacareí, pag.19

quinta-feira, 29 de maio de 2014


Memórias da imigração japonesa em Jacareí: os primeiros tempos


(Foto Internet)
Segundo informações contidas no livro: Caminhos da Imigração Japonesa em Jacareí, organizado por Julia Naomi Kanazawa, editado em 2004, conseguimos resgatar um pouco mais da memória dos primeiros imigrantes japoneses que vieram para Jacareí.

“Os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao Brasil em junho de 1908 a bordo do navio Kasato-maru. Estes, assim como todos os outros que aqui vieram, não imaginavam se fixar ou recriar o mundo ao qual estavam habituados em terras estranhas. Saíam pensando em conseguir algum dinheiro e voltar ao país de origem.
(Foto Internet)


As listas completas de passageiros deste navio podem ser encontradas no site:http://www.arquivoestado.sp.gov.br/kasatomaru.php

O Brasil, por sua vez, através dos cafeicultores paulistas, não mediu esforços para estimular o processo migratório. Organizou uma infraestrutura que envolvia passagens gratuitas e a construção de uma hospedaria em São Paulo para abrigar os recém-chegados, até a sua ida para as plantações de café. Por outro lado, o governo japonês, a partir de 1925, também começou a custear a viagem de todos imigrantes japoneses que vinham para o Brasil. A propaganda divulgada pelo governo japonês no Japão veiculava que o Brasil era um país abundante, cheio de riquezas e que em pouco tempo poderia se acumular muito dinheiro. Segundo o relato da senhora Koto Murata Misawa, que chegou ao Brasil em 1933, eram mostradas fotos do Brasil no Japão. A sua mãe, vendo as fotos, imaginou que o fruto do café tinha o tamanho de uma laranja. Quanta decepção quando aqui aportou!

Hospedaria do Imigrante, em Santos (foto Internet)


Chegando ao porto de Santos, depois de uma viagem que durava cerca de 50 a 60 dias, os imigrantes seguiam de trem para a Hospedaria dos Imigrantes, localizada no Bairro do Brás, beirando a linha de estrada de ferro São Paulo Railway. Essa hospedaria estava encarregada de recebê-los, hospedá-los e encaminhá-los para o trabalho nas fazendas de café e núcleos coloniais.” (Kanazawa, J.N. 2004, p7 e 8)
(Foto Internet)
“Desde que chegaram à cidade de Jacareí, os imigrantes foram se concentrando em determinadas regiões e/ou bairros, formando, dessa forma, núcleos coloniais. Inicialmente, a maioria concentrou-se na região do Rio Abaixo. Mais tarde foram também se fixando em outros bairros como Tanquinho, lambari, Figueira, Santana, Jamic e Takamori II. Os primeiros imigrantes japoneses chegaram em Jacareí, no início do séc. XX, na década de 20.
A família Shoji instalou-se no bairro Bom Jesus, em junho de 1927. Em seguida, seis meses depois, os Murakawa, chegaram ao bairro Campo Grande; mais tarde, mudaram-se para o Rio Abaixo e depois para o bairro Bom Jesus.
Em maio de 1929, a família Nomoto, vinda de Pindamonhangaba, instalou-se na região do Rio Abaixo. Em julho desse mesmo ano, chegaram os irmãos Yamaguchi, também se fixando na região. Essas famílias dedicaram-se, principalmente, à lavoura de arroz e do tomate.” (Kanazawa, J.N. 2004, pág. 15).

quarta-feira, 28 de maio de 2014


Memórias da Imigração Japonesa em Jacareí: Tsuruiti Yamaguchi

Sr.Tsuruiti Yamaguchi

Navio Manila Maru

Tsuruiti Yamaguchi

“Viemos ao Brasil em setembro de 1925, no navio Manila-maru.
Viemos para Jacareí, em agosto de 1929, de uma cidade do Sul do Japão, de nome Saga-ken.
Viemos em seis pessoas: meu avô, meu pai, meu tio, minha mãe e um irmão. Eu tinha 15 anos de idade.
Saímos do Japão porque meu pai ficou muito apertado na vida. Pensou em emigrar para o Brasil porque o pai ouvia falar muito que em dois, três anos as pessoas ficavam milionárias aqui.
Chegamos primeiro no Paraná, onde ficamos mais ou menos dois anos. No Paraná, vida muito difícil para nós, não deu certo, então viemos para São Paulo. Em São Paulo, também muitas dificuldades, então meu pai quis vir para Jacareí.
Viemos para plantar arroz, então ficamos na fazenda de Cândido Porto.
Quando viemos, tinha já três famílias japonesas em Jacareí: família Murakawa morava no bairro Campo Grande, família Shoji, morava no bairro Bom Jesus, e família Nomoto, no Rio Abaixo.
A família Shoji foi a primeira que chegou, em 1928. Eles também vieram do Paraná. Vieram Harumoru Shoji, sua esposa Hideo Shoji e Mabito Shoji, bebê, pequeno.
Aqui, tudo era plantação de café. No Japão, café era usado como planta para enfeitar jardim.
Foto do Acervo do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil (Internet)
A alimentação nossa não tinha carne. A gente comia os peixes que caçava na valeta. Quando vinha na cidade, comprava bacalhau. Bacalhau era muito caro, mas nós comprava. Nós comia arroz, muito arroz e também tomate que nós plantava. Tomate com arroz. Tomate como salada, temperado com shoyu. O shoyu nós mesmo preparava com feijão e milho. Não era igual do Japão, mas quebrava o galho.
No Rio Paraíba, tinha muito peixe, mas a gente morava 9 km longe da cidade, e não tinha condução. Nós  tinha que vir andando. Era duro fazer compras.
No domingo, a gente mandava carro de boi para vender coisas no mercado.
Então, nós juntamos dinheiro e arrendamos uma chácara bem pequena, lá na estrada do Rio Abaixo. Nós  tinha lavoura de arroz e de tomate.
A gente era pouca gente, então uns ajudava os outros quando dava, né!
Lá, sempre o rio Paraíba enchia muito. Plantação tudo ficava debaixo da água! Às vezes, rio demorava, três, quatro dias pra baixar a enchente, e nós perdia tudo. Às vezes muita seca, precisava carregar água para regar plantação. Vida muito difícil, muito trabalho, pouco dinheiro...
Fabricação da famosa bala japonesa, criada pela Sra. Murakawa e aperfeiçoada pela Sra. Hideko Seki Tanisho
Foram chegando mais famílias. Em 1933 já tinha 12, 13 famílias, então em1938 meu pai, meu irmão e mais um grupo de japoneses fundaram a Cooperativa de Jacareí. Os produtores mandavam a safra para Cooperativa e ela vendia tudo: arroz, tomate, batata, ovos, A Cooperativa foi uma coisa muito boa, porque ela facilitava muito a vida da colônia japonesa: escolhia a terra melhor para a cultura, orientava o que a família tinha que plantar.
Em 1936, eu casei com esta senhora aqui do meu lado: dona Maria Yamaguchi. Nós se conheceu porque a família dela morava pertinho lá de onde nós arrendamos o terreno pra plantar.
Dona Maria, presente ao nosso encontro, disse que se adaptou sem problemas à cultura do marido. Ela fala japonês, “melhor do que ele fala o português”, cozinha as comidas típicas: arroz, missô, missoshiru, os doces de feijão. A festa de casamento foi simples, mas muito bonita. Toda a colônia compareceu. Teve muita fartura de comida, japonesa e brasileira, né!
E essa história de que os japoneses não recebem bem na família genros e noras que não são da raça deles? perguntei.
Comigo não teve problema, ela respondeu.”

Família Japonesa em Jacareí
Bar Brasil, da família Tanisho

A familia Tanisho tornou-se proprietária do antigo Bar Brasil, ponto de encontro da população local e também uma referência para os imigrantes japoneses que aqui chegavam. Em agosto de 1949, José Quiotaque Tanisho instalou um botequim e uma fábrica de balas na rua Dr. Lúcio Malta. As balas, conhecidas como "bala japonesa", tornaram-se produto de referência para a cidade, assim como o biscoito e a cerveja. A receita da bala, retirada do livro de culinária de dona Benta pela senhora Murakawa, foi aperfeiçoada pela senhora Hideko Seki Tanisho e, dessa forma, produzida em larga escala, na fábrica. (fonte: Caminhos da Imigração Japonesa em Jacareí, Kanazawa, Júlia Naomi, 2004)

sábado, 10 de maio de 2014


Rosália de Oliveira Branco, memórias

Rosália de Oliveira Branco
“A minha ascendência é toda de Jacareí.
Os pais de meu pai e de minha mãe eram nascidos aqui.
Meu pai chamava-se Salvador de Oliveira Branco, mais conhecido na cidade como Vadô Branco. Ele era filho de José Branco de Oliveira e de Joana Maria da Conceição.
O meu avô era muito bonito, claro, de olhos azuis. Ele faleceu com 126 anos, lá nas terras dele, onde era a fábrica da Lavalpa. Antes disso, ele morava no Bairro do Poço.
 A minha avó chamava-se Joana Maria da Conceição. Meu pai era um homem forte, muito bonito e trabalhador. Ele era muito simples, analfabeto, mas tinha boas amizades, era muito querido. Ele morreu com 82 anos. Não lembro a data em que ele nasceu, mas sei que ainda tinha os escravos.
Minha mãe chamava-se Virgilina Maria da Conceição. O pai dela era José Bertolino de Morais e a mãe era Francisca da Conceição.
Minha avó Francisca casou com um homem muito ruim, que foi pra guerra do Paraguai e não voltou mais.

A Guerra do Paraguai foi o mais longo e sangrento conflito ocorrido na América do Sul. Durante 5 anos, o Brasil, a Argentina e o Paraguai, apoiados financeiramente pela Inglaterra, travaram esta batalha que traria sérias consequências. Ao final do conflito, o Paraguai estava destruído. A guerra também trouxe conseqüências para o Brasil: a popularidade de D. Pedro II caiu e a oposição aumentou com os movimentos abolicionistas e republicanos ganhando as ruas. Estava preparado o terreno para o fim da monarquia. Durante a Guerra do Paraguai, o Brasil viveu uma política de Conciliação (entre 1853 e 1868), que consistiu numa alternância entre liberais e conservadores no poder. Porém vários fatores, dentre eles, a própria Guerra contribuíram para o término dessa política.
Então ela foi morar com um escravo do Dr. Virgílio, casado com a D. Edwiges, que eram donos do Colégio Cônego José Bento, atual Escola Profissional, lá no Avareí. Com esse escravo, minha avó teve seis filhos: João, Bertolino, José, Belmiro, Francisco e a minha mãe, Virgilina. Como seu pai era negro, ela saiu uma morena muito bonita, de olhos muito azuis. Minha mãe morreu com 102 anos. Era uma mulher muito decidida, valentona, trabalhadeira. Teve onze filhos, nove mulheres e dois homens: Cesario, Valentino, Basilisa, Juventina, eu, Clarinda, Cecilia, Florisa e Idalina...Ela criou uma porção de sobrinhos, uma enteada, a Joaninha e muitos netos.

Largo do Avareí
Eu sou de 1.900. Nasci em 11 de novembro de 1.900. Sou a quinta filha. Nasci na fazenda de meus pais, no Rio Abaixo, onde hoje é a fábrica da SAADE, além da Dutra. A casa onde eu nasci ainda existe. Meu pai vivia da lavoura: feijão, milho, arroz. Tinha também muito gado. A fazenda era muito grande. Papai tinha colonos. Ele beneficiava arroz, fubá, socava café, destilava pinga. O alambique fabricava dois barris de pinga por dia. Na roça, todo mundo trabalhava, até as crianças, com a vassoura, puxando arroz, estendendo arroz. Na época não havia luz elétrica. Depois nós fomos morar na Fazenda Quatro Palmeiras, atual Cidade Jardim.
Ele vendeu a fazenda e viemos para a cidade, morar na Rua de Baixo (hoje Luiz Simon). Nossa casa era de esquina, muito grande, tinha uma porção de quartos e uma sala enorme. Moramos lá alguns anos, depois, mais ou menos em 1918, 1919, papai vendeu a casa e comprou uma chácara onde hoje é o bairro Jardim Leonídia. Tinha o Rio Paraíba de um lado, e de resto, era tudo pasto. A casa ficava na esquina oposta ao Hotel Piaza. Papai criava muito gado ali.
o "Esmaga Sapo"
Naquela época, as enchentes inundavam tudo. A gente ficava ilhada. Uma vez chegou a verter água até na cozinha de mamãe. Lembro-me das boiadas enormes que passavam em frente da chácara e atravessavam a cidade até o Mercado, que era muito sortido, mas a construção era muito feia, toda de tábuas. Atravessando o Rio Paraíba, indo para o São João, tinha algumas casas muito bonitas. Lembro-me da casa do Alfredo Schurig, que era muito rico, tinha um pesqueiro na beira do rio e uma porção de barcos. Do outro lado, também tinha uma casa muito boa, dos parentes do Seu Aníbal Paiva.

residencia do Sr. Agostinho Paiva, tio de Dr. Celso Paiva
O cinema tinha nos Quatro Cantos, no lugar que hoje tem a farmácia. Depois foi a casa Zonzini. Às vezes, a gente ia no cinema, que era mudo. O filme passava enquanto a Elisita Mercadante tocava piano. A imagem do filme era muito ruim, mas a música era muito boa!
A ponte era muito feia, de metal e o resto do bairro era só pastos.
As recordações de minha infância são todas tristes. A gente trabalhava muito, quase não saía pra nada. Tanto meu pai como minha mãe eram muito severos e a vida bastante sacrificada. Lembro que meu pai ia a cavalo pro litoral. Atravessava a serra a cavalo. Pousava na Serra e então descia pro
litoral. Dizia pra gente que era uma viagem muito perigosa, que não dava pra levar a família. Eu mesma só conheci a praia com seis, sete anos de casada, já com quatro, cinco filhos...


Quando eu completei 12 anos, eu entrei na escola, no grupo escolar Carlos Porto, onde eu aprendi um pouco. O nome de minha professora era D. Cássia. Nessa época, a gente morava na Rua Luiz Simon, no fim dessa rua, perto do Santo Cruzeiro. Eu passava todos os dias pela casa de comércio do Mercadante. Lembro muito da Bolívia Zonzini, que foi amiga de minha irmã, da Clarinda. Eu lembro que as duas puxavam junto a fila da escola. Eram tão bonitinhas! A Bolívia era branquinha, branquinha, magrelinha, tinha o cabelo liso, cortado na altura do queixo. O pai dela colocou o nome dos estados da América nos filhos todos.
Eu não tinha amigas, não saía. O passeio era ir até a missa e da missa voltar pra casa. O serviço de casa era muito. A gente socava café, canjica, naquele pilãozinho (aponta o pilão no canto da sala). A gente tinha que buscar água no Rio Paraíba. Muitas pessoas também tinham poço em suas casas.

Grupo de cavaleiros no início do séc passado
Meu pai tinha muita amizade com um homem muito rico, o Chico Leitão. Eles saíam para fazer caçadas. Saíam 8, 10 dias pro mato, caçando paca, capivara, enquanto as mulheres ficavam em casa cuidando da criançada, enxugando arroz, enxugando café, fazendo aqueles tachos enormes de rapadura. Eu ficava olhando o melado engrossando. Era duro!
Eu tinha uma amiguinha que se chamava Cotinha. Ela morava no Avareí e era um pouco mais nova do que eu. Aí, quando ela tinha 14 pra 15 anos, ela começou a gostar do Zé Theodoro de Siqueira. Ela namorou um pouco com ele, mas não queria casar. Naquele tempo, as moças casavam com 15, 16 anos. Era costume. Foi quando eu o conheci. Nós namoramos só três meses e já casamos. Foi em 1920, no dia 1º de maio. Meu casamento foi igual a um batizado. Não teve festa nenhuma, porque minha sogra tinha morrido 15 dias antes e os convites do casamento já estavam todos distribuídos. O José Theodoro era de uma família de Salesópolis. Era de uma família muito grande também.

Rua Rui Barbosa
Se eu me casei apaixonada?
E dá para apaixonar em três meses? Naquele tempo não tinha disso de as pessoas se apaixonarem. A moça olhava o rapaz duas, três vezes e já era pedida em casamento e logo já ia pro altar. Eu casei mesmo por influência da minha mãe. Ela preocupava-se demais com aquele monte de filhas...que podia morrer antes de meu pai, que ele ia colocar outra mulher em casa, que podia não ter paciência com a gente. Então queria nos ver todas casadas, logo, logo!
Bom, a gente se casou e fomos morar lá onde hoje é o Banco Real. A casinha era feinha, tinha um portãozinho todo cheio de mato em volta, e aquela terra mole, afundando. Os terrenos lá não tinham nenhum valor!  Moramos ali até 1925, 1926. Com muito trabalho e as economias, compramos uma chácara muito bonita, cheia de morros, na casa onde ainda eu moro.
Beco do Caranguejo ou do Marreli. As terras da chácara de Dona Rosália ficavam atrás
O Zé Theodoro comprou a chácara de um padre de São Paulo, o padre Nicola. Ela era toda plantada de uvas de várias qualidades, tinha muitos pés de ameixa, abacate, manga. Nossos vizinhos de terra eram Manoel Teixeira, que morava do lado de lá (perto da Caixa D’água) e o Joaquim Cachuté. Passados alguns anos, o Joaquim resolveu lotear o terreno dele. Aí começaram nossos problemas. O pessoal começou a invadir nossas terras, roubar frutas. O Zé ficou desgostoso e loteou também, no ano de 1940. Essas ruas aqui do bairro são todas dos parentes do José: João Theodoro foi seu irmão, Francisco Theodoro foi seu pai e Rosalina de Siqueira, sua mãe. Eu me casei e comecei a ter filhos. Tive onze, como minha mãe, e, como minha mãe, nove mulheres e dois homens: Otília, Odila, Virgínia, Amasilis, Dinorá, Manoel, Roberto, Mercedes, Eunice, Dora e Rosilene. Todos os meus filhos nasceram em casa, com parteira, inclusive, duas meninas, eu tive sozinha.
Quando as crianças ficavam doentes, a gente levava para a farmácia do seu Rodolfo de Siqueira, pai do Américo e do Odilon. Era uma farmácia muito boa, grande, e era o seu Rodolfo que receitava os remédios. Tinha um médico, o Dr. Novaes, que já era velho, meio careca, e morava na esquina da Lúcio Malta, onde depois morou o Dr. Vergueiro, mas quem resolvia os problemas das crianças era mesmo o seu Rodolfo.
Eu me lembro muito bem da gripe espanhola aqui em Jacareí. Foi um horror! Morria tanta gente que nem dava tempo de enterrar.


 A gente ficava tudo dentro de casa, com medo de sair para a rua e pegar a doença. Tudo era passado na água fervendo: as roupas, os pratos, os talheres. Água também a gente fervia pra beber. Sei que teve outra epidemia que matou muita gente, que o povo comentava. Diziam que era a bixiga. A doença dava umas feridas feias, que marcavam as pessoas, que chamavam de bexiguentos, mas dessa não tenho muitas lembranças, não. Acho que essa foi nos tempos de minha mãe, ela que comentava com a gente.
Minha vida de casada também foi muito dura, tão dura quanto a de solteira. Criei meus onze filhos sem a ajuda de ninguém. Levantava às 4 horas da madrugada, fizesse chuva ou sol, para tirar leite. Um pouco antes, dava de mamar para a criança. Quantas vezes não encontrei meus filhos debaixo da cama, cansados de chorar... quantas vezes não tirei do chiqueiro, todos sujos, indo atrás de mim. Era uma vida muito triste. Só ter filhos e trabalhar. O marido não queria nem saber! Todas as mulheres levavam essa vida sacrificada: tirando leite, fazendo queijo, olhando as crianças. A mulher, na verdade, era uma empregada do marido. Eles vestiam-se bem, terno de linho bem passado, arreavam seu bonito cavalo, vinham pra cidade e só voltavam no dia seguinte...
E o que eles faziam? Perguntei.  Sabe lá Deus! foi a resposta.
Eu tive um irmão, o Cesário de Oliveira Branco, que foi um homem muito rico. Ele teve um enorme depósito de madeira e uma serraria ali onde hoje é a Rua Ramira Cabral. A central (Estrada de Ferro) entrava na serraria dele para descarregar aquelas toras imensas de madeira. Ele teve fábrica de meias, várias casas. Depois, deu um revertério na vida dele e acabou na miséria. Perdeu tudo.

Serraria Conceição
Na época, quem guardava dinheiro aqui era o Nicolau Mercadante. Todos os nossos amigos guardavam dinheiro com ele, sem recibo, sem documentos, na confiança. Ele era o Banco da época. Meu marido nunca guardou.  Ele emprestava, cobrando um jurinho de nada. As lembranças boas que eu tenho são das festas religiosas. As do Divino Espírito Santo duravam oito dias. Os festeiros davam comida para o povo até o último dia. Era armada uma mesa que pegava desde a esquina, onde era a casa do Dr. Marrelli, até a porta do Cinema Rio Branco. Serviam arroz, feijão, um mundo de carne... Vinha aquele povaréu com os filhos, avançava na comida que acabava num instante! A festa da Nossa Senhora da Conceição também durava oito dias. Queimavam fogos no meio do povo. Tinha música, serviam biscoitos, aqueles biscoitos de rodela com café.
Rua Alfredo Schurig enfeitada para a Festa da Conceição
Outra festa que vinha muita gente era a da Carpição. Era uma festa religiosa com procissão que acontecia sempre no mês de agosto. Era uma festa para a Nossa Senhora. As pessoas faziam piquenique, iam namorar. Uma festa muito alegre que durava o dia inteiro.
Tinha o Carnaval também. No Carnaval as festas aconteciam no Largo da Matriz. Era uma brincadeira com muita lama, perfume e confete. Mamãe não deixava a gente ir, não. Era muita confusão! Sabe, minha filha, eu não tenho saudade nenhuma daqueles tempos! Prefiro a vida como ela é agora!”

segunda-feira, 5 de maio de 2014


Informações complementares - Jacareí na II Guerra Mundial

Foto do acervo da Sra. Nair D'Á'vila
"Esta imagem de N. Senhora acompanhou as familias que ficaram sem seus filhos para irem a guerra. a N Sra continua na Sede da FEB. Era costume as familias montarem altar na sala para receberem esta imagem e orarem pelos pracinhas." ( informação prestada por Rosalina Ramalho, que enviou também a foto de seu avô Sebastião Alves de Campos, à direita.


Fico muito feliz e emocionada com a repercussão que o Blog vem alcançando entre os leitores virtuais. Esta postagem tão recente (foi colocada nesta magrugada) já recebeu mais de 200 leituras até agora. Recebo informações complementares, fotos, mensagens de agradecimento e de incentivo. Sou eu quem deve agradecer a todos vocês, pela receptividade que o assunto merece. Esta página é dedicada à memória de nossos heróis. Que descansem em paz!


Ex combatentes de Jacareí comemorando a vitória em Caçapava. Foto enviada por Rosalina Ramalho

Oi Lud... Aí vai minha homenagem a todos os Febianos. Na foto temos Raul Kodama (SP) e José Antonio Marson de JACAREÍ! (Foto feita ano passado nas dependências da 12ª BIL em Caçapava) Moraes Faria

domingo, 4 de maio de 2014


Relação dos Sodados Expedicionários de Jacareí na II Guerra Mundial


Soldados da FEB antes do embarque para a Itália . Foto do acervo da família do Expedicionário Luis Antonio da Silva (Luis Guandú).  
O expedicionário Luis Antonio da Silva segurando a imagem de N.S. Aparecida, após a missa de ação de graças pelo  retorno dos pracinhas ao Brasil (foto acervo da família)


Antonio Nunes de Moraes Junior, Ary Ferreira, Armando de Melo, Armando Cavalcanti, Armando Marson, Aurisol de Souza, Antonio Paulista, Arminio Rost Machado, Antonio Sanches Palma, Antonio de Almeida Ramos, Antonio da Cunha Pinto, Antonio Jordão, Antonio de Lima, Antonio Candido dos Santos, Alfredo Manoel Francisco, Américo Pereira da Silva, Antonio de Paula, Álvaro  Lourenço, Alceu Pinto Magalhães, Aércio Ferreira, Acácio Jose de Oliveira, Adolfo Jose de Souza, Benedito Oswaldo Cancio, Benedito Eleutério dos Santos, Benedito de Siqueira Martins, Benedito Carneiro, Benedito Lourenço, Benedito Ovideo Bonilha, Brasilio Ramalho, Bruno de Caria, Caetano de Faria Leite, Carlos de Oliveira Saldão, Carlos de Freitas, Donato de Moura, Domingos dos Santos, Durval Bicudo, Domingos Italo Bruno,  Edio Pinto Cepinho, Elpidio Silva, Euclides Marques, Evaristo do Prado, Eliezer Viera Freitas, Ernani Lippi, Eduardo Alves dos Santos, Francisco Aparecido de Oliveira, Francisco Leite de Moraes,  Francisco de Assis Varela, Francisco Moreira de Almeida, Francisco Arthur Gomes, Gumercindo Monteiro, Geraldo Golotti, Geraldo Soares Lemes, Geraldo Leite do Amparo, Herminio Theodoro de Lima, Heitor Armando Bagattini, Henrique Soares, Henrique Martins de Siqueira, Jose Pereira da Silva, Jose Generoso de Souza, Jose Soares de Siqueira, Joao Theodoro, Joao Machado, Jose Paulo de Lima, Jubis da Silva, Jose de Oliveira Ramos, Jose Pires de Oliveira, Jose Maria Ferreira, Jose Roberto Martins, Jose D´avila, Jose de Matos Stock, Jose Dimas Marcondes Cabral, João de Oliveira, Jose dos Santos, Jose Benedito, João Americo da Silva, Jaime de Lima, João Rosa da Silva Junior, Jose Antonio Gonçalves, Jose Matta, Jose Domingos Martins, João Pedro da Silva, Joaquim Monteiro, Jose Pacheco João Santana, Joaquim Antonio Nunes, Jose Antonio Marçon, Jose Pereira da Silva, Jose de Oliveira, Jurandir Coimbra, Luiz Antonio da Silva, Laudelino Faria Claro, Leoni Fortunato, Luiz Tolosa, Laurentino Francisco de Siqueira, Lourenço Benedito do AmaraL Manoel Vitorino, Marcilio de Faria, Marcilio Nascimento, Moribe Fuzio, Mario Cordeiro, Milton Scherma, Mario Baccaro, Nelson Pinto da Cunha, Nelson Guedes, Nazareno Domingos Xavier, Olivio Leite Soares, Olivio Ramos da Silva, Oscar Bagatini, Oscar Palmeira de Abreu, Ondino Silva, Oscarlino dos Santos, Octavio Landim Cassal, Osmanio Ribeiro Alves, Oswaldo Zozimo de Almeida, Paraguai  Zonzini, Paulo de Moraes Pereira, Paulo Afondo de Siqueira, Paulo de Oliveira Branco, Ponciano de Andrade, Pedro Leonardo da Silva, Pedro Corteli Filho, Pedro Paulo Moreira, Quirino Batista Chaves, Ricardo Vinhas, Roberto Bonocchi, Roberto Cambusano, Salvador Nunes de Souza,  Sebastião Alves de Campos, Sebastião Antonio de Campos, Sebastião Reis Marinho, Sebastião Firmino, Silvestre de Souza Silveira,  Theodoro Coimbra, Vicente Siqueira Machado.


P.S.Esta lista de 135 ex-combatentes foi composta com nomes compilados das fichas da associação de Jacareí, lista do jornal "O Combate" de abril de 1973 e da lista preparada com o auxílio do Sr. Álvaro Lourenço em 2005 e que me foi fornecida, gentilmente, por Nadi de Almeida e Silva em junho de 2013. Se algum dos leitores souber de mais nomes a acrescentar, por favor, entre em contato. Minha gratidão a todos que colaboraram com fotos, depoimentos e memórias para que estas informações permaneçam vivas na história de nossa cidade para as gerações futuras. (Ludmila Saharovsky)

P.S. 2  Recebi  de Nadi de Almeida e Silva, um e-mail com acréscimo de novos nomes à lista publicada.
Eis o e-mail : 

Ola Ludmila, Estou enviando correções na lista que foi revisada em dezembro de 2013 favor confirmar recebimento e tecer comentários 

Acrescentar os seguintes nomes à lista: 
Abel Cardoso, Augusto do Carmo, Arvanilo Dias dos Santos ,Glauco P. de Almeida, Jose Micheleti,.

Não foram por Jacareí: (retirar os seguintes nomes da lista)
Antonio de Almeida Ramos(provavelmente guerra de 32)), Elpidio Silva( foi por Mogi), Jose de Oliveira Ramos (medico que mudou para Jacarei em 1968) Jose Generoso de Souza, Jose Ramos de Siqueira, Jose Pires de Almeida (foi por S.Joao Del Rey e mudou para Jacarei em meados de 1950) Jose Maria Ferreira, Jose Marcondes Cabral (de S.Jose dos Campos) Vicente Siqueira Machado  de S.Jose dos Campos)

Está feita a correção. Obrigada Nadi!

Honra e Glória aos pracinhas brasileiros!
Honra e Glória aos pracinhas de Jacareí!

Memórias dos pracinhas de Jacareí na Itália: Mario Baccaro


Soldado Expedicionário Mario Baccaro
Mario Baccaro nasceu em Jacareí no dia 15 de abril de 1922 e faleceu no dia 7 de abril de 1999.
Era filho de Pedro Baccaro, um alfaiate italiano , e Maria Emília Baccaro, brasileira e residia na Rua XV de Novembro. Ficou órfão de mãe aos 5 anos; ele e mais 4 irmãos, sendo que o mais novo tinha 1 ano e meio  e o mais velho 10 anos. Seu pai criou todos os filhos sem se casar novamente, pois jamais se esqueceu da esposa.
Mário era aluno da primeira turma da Escola Agrícola de Jacareí e fazia o ultimo ano em Espirito Santo do Pinhal (SP) quando foi convocado para servir no 6 Batalhão Ipiranga, em Caçapava.

Pracinhas de Jacareí de volta da Itália
Essas lembranças foram relatadas por sua filha, Tereza Baccaro, que recorda-se que o pai contava que foi mascote do tiro de guerra aos 12 ou 13 anos, depois tornou-se reservista de segunda  categoria e que jamais poderia imaginar o destino que lhe estava “reservado”. Ele foi para Caçapava como reservista por excesso de contingente, e depois de muitas exigências e ausência até mesmo de alimentação e de água, o grupo todo foi enviado para o Rio de Janeiro, na Vila Militar, de onde partiram para a Itália.
Mario estava noivo e apaixonado por Alzira Fontes e casou-se com ela dia 19 de  agosto de 45, assim que voltou da guerra. A cerimônia religiosa aconteceu em Aparecida, com a presença de seus amigos pracinhas, que lhe fizeram uma surpresa, pois o combinado era que iriam comparecer apenas na festa, em Jacareí, à Rua José Bonifácio, 171. Na época de rapaz, Mario foi jogador de basquete e tocava pandeiro no famoso conjunto Fila Bóia de Jacareí. Ele sonhava em ser agricultor, até tentou, mas frente às dificuldades encontradas para sustentar a família rendeu-se e foi ser Funcionário Publico Federal, trabalhando na Agência de Correios.

Seu nome é citados no terceiro volume  da coleção Histórias da História do Brasil,  que conta "que um rapaz chamado Mário Baccaro se tornou um soldado, foi para a Itália e junto com outros colegas fez correr um grupo de 40 soldados da tropa SS, um rapaz franzino e que podia estar namorando no jardim da cidade de Jacareí, e termina dizendo que” boi manso é que fura a cerca”.
(memórias de sua filha, Tereza Báccaro)

Mario Baccaro
Honra e glória aos pracinhasjacareienses que, bravamente, lutaram na Itália e retornaram vitoriosos para o Brasil.

Memórias dos pracinhas de Jacareí na Itália: Ari Ferreira


Soldado Expedicionário Ary Ferreira
Ari Ferreira nasceu em Niterói/ RJ, em 06 de abril de 1919, filho de Alfredo Ferreira e Jovelina Ferreira, mas, menino ainda, veio com a família para Jacareí.
Pertencia ao 6º Regimento de Infantaria sediado em Caçapava. Embarcou em julho de 1944 com destino à Itália na 1ª Unidade de Infantaria escalada para atravessar o oceano. Em fevereiro de 1945 recebeu um elogio do comandante Cel . João de Segadas Viana que deixava o comando do 6º RI nos seguintes termos "Agradeço e louvo o soldado Ari Ferreira pela dedicação com que colaborou comigo, numa demonstração de sã e leal camaradagem, respeito aos superiores e compenetração de seus deveres, levado sempre pelo ardor patriótico de elevar e dignificar o nome do Brasil".

Soldados brasileiros em Montese, Itália
 Foi casado com Odila de Siqueira Ferreira e pai de duas filhas, Heloisa Ferreira e Helvetia Ferreira Caldas.
Sua filha, Helvetia, criou um grupo na Net, de nome 2ª Guerra Mundial: Honra e Glória dos Pracinhas da FEB onde publica notícias, fotos e textos sobre os Pracinhas Brasileiros, uma forma de homenagear e perpetuar a memória de todos que lutaram na Itália.
Soldados Jacareienses antes de sua partida para integrarem a FEB. Foto cedida por Rosalina Ramalho
Sobre as memórias de seu pai, Helvetia contou que ele falava muito sobre o frio que enfrentaram na Itália, e que se sentia muito grato aos americanos, por lhes fornecerem um enxoval completo, que os fez suportar o frio. Ele se recordava também do episódio sobre um colega de Jacareí que conseguiu fugir do campo de prisioneiros dos alemães sob uma saraivada de balas, e os amigos no pé do morro torcendo para que ele escapasse. Esse amigo se chamava João Santana. O expedicionário Ari Ferreira sempre comentava sobre a alegria de, no final da guerra de ser recebido pelo papa Pio XII, que presenteou todos os pracinhas brasileiros com um quadro. Infelizmente, a guerra lhe deixou como sequela um problema crônico de estômago, por conta da alimentação enlatada que eles comeram durante todo o tempo em que permaneceram na Itália. (memórias de sua filha, Helvetia Ferreira Caldas)
Cartão Postal do Papa Pio XII - acervo família expedicionário Luis Antonio da Silva (Luis Guandú)

Memórias dos pracinhas de Jacareí na Itália: Roberto Cambusano


Ex combatente da FEB  Roberto Cambusano
Nasceu em 25/04/1920 na cidade de Itu-SP. Veio morar em Jacareí-SP com um ano de idade. Foi para a guerra com mais 130 a 160 companheiros que residiam em Jacareí, em 1944, depois de um período de treinamento em Caçapava e Rio de Janeiro. Foi uma viagem de navio que durou cerca de 10 dias sem ninguém saber o destino até que desembarcaram em Nápoles, na Itália. Ele lembra que o povo italiano foi muito receptivo aos brasileiros. Lá foi um período duro de treinamento e longas caminhadas rumo ao inimigo. Ele estava num grupo de retaguarda e embora não tenha tido confronto direto, todo dia era a expectativa que mais os atormentava. Muitas vezes, nas marchas, granadas chegaram a explodir muito próximos a eles. Certa vez um  companheiro,de cujo nome não se recorda e que montava guarda à noite, foi atingido por um disparo do inimigo e faleceu no local.

Roberto Cambusano em Bologna, Itália junto a uma Estação Ferroviária destruídapor bombardeio inimigo
 Lembra-se bem do dia em que foram escalados para o ataque na batalha do Monte Castelo. Quando já estavam todos a poucos metros do inimigo, os alemães levantaram a bandeira branca em sinal de rendição. Foi uma euforia e os alemães se entregaram aos brasileiros, também felizes pelo final da guerra.
Roberto retornou são e salvo para Jacareí. Casou e teve um casal de filhos. Hoje (2013) com 92 anos, vive feliz ao lado da esposa e família. O governo brasileiro, na década de 80, destinou a ele e seus companheiros uma merecida aposentadoria equivalente ao salário de 2º tenente. (informações prestadas pelo seu genro Nadi Almeida e Silva)
Roberto Cambusano na Itália
Soldados expedicionários em Caçapava comemorando a vitória na II Guerra Mundial




Agradeço aos familiares de Roberto Cambusano pelas fotos cedidas para este Blog.
Honra e Glória aos valorosos pracinhas brasileiros!