quarta-feira, 30 de abril de 2014


Memórias do Tenente Octávio Pereira da Costa (parte final)


General Octavio Pereira da Costa em foto de Evelson de Fritas para o Estadão

“A FEB vinha na hora crítica, na hora da fome de gente, uma Divisão chegando do lá longe, da zona do interior, para estancar a sangria de  dois Corpos na luta consagrados. Ao V Exército Americano dessangrado e ao VIII Exército Britânico – do lado do Adriático -  cumpria fixar as forças alemãs, quase iguais na península, impedi-las de reforçar as frentes principais, manter o espírito ofensivo, não ceder terreno. A compreensão deste quadro estratégico explica a onipresença, a partir de então, da FEB na frente de combate. Uma Divisão permanentemente empenhada, sem um só dia de descanso, para manter o Brasil sempre na luta. Daí a enormidade dos setores, para defender, para atacar. Daí as missões de sacrifício, daí os ataques que se sucediam, para aliviar outras frentes mais ameaçadas. Daí por que jamais atacamos com uma Divisão inteira, na potencialidade de seus três regimentos, antes fazendo prodígios, economizando os atacantes com o sacrifício e o risco dos defensores.”(Costa, O. 1976, pág.39)

Tropas brasileiras, a caminho da praia numa barcaça britânica de desembarque, acenam adeus para seus amigos ainda a bordo do navio que os trouxe para a Itália. V Exército-Leghorn, Itália – 06/10/44 Foto do Portal da FEB
“Ao tempo da Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro não primava pela boa apresentação do uniforme de seus soldados, fosse pela qualidade dos tecidos, fosse pela natureza da confecção. Não dispúnhamos ainda de uma indústria de roupas suficientemente aparelhada para assegurar ao exército uniformidade de cores e padrões, e qualidade dos tecidos para proteger o soldado e resistir às exigências do adestramento  e do combate. O calçado preto, de má qualidade, e as polainas verde-olivas, de pano impróprio – que haviam substituído as velhas perneiras pretas dos “pés de poeira” da infantaria brasileira e que, assim distinguiam, ainda no Brasil, o “pracinha” do soldado tradicional – não suportando o esforço, a lama e o frio, foram substituídas, na Itália, pelos combat boot americanos, mais resistentes e apresentáveis.”
O uniforme de lã verde-cinza, fabricado para a FEB às carreiras e de carregação, além de não assegurar a necessária proteção contra o frio, era grotescamente mal-amanhado, e as túnicas verde-olivas, de passeio, fechadas até a gola, por uma longa fileira de botões, tinha o inconveniente maior de assemelhar-se ao uniforme alemão. E como as chuvas do outono europeu houvessem provado a vulnerabilidade das capas tidas como impermeáveis, os blusões americanos, forrados de lã, muito cedo vestiram o homem brasileiro.” (Costa.O. 1976, pág.32)

Acampamento Brasileiro próximo à Pisa, Itália em 16/10/44 (Foto portal da FEB)
“Não escapou à FEB o hábito acentuadamente americano de cobrir o uniforme de insígnias e distintivos, símbolos de unidades, de cursos realizados, de tempo de serviço, de campanhas e de ações, apelos coloridos à coragem, ao desprendimento, ao espírito de corpo e ao orgulho militar.”
“Cada unidade ou grande-unidade americana tinha o seu distintivo de braço, que assinalava seus integrantes sempre que se encontrassem longe da frente de combate. Como membros do 50. Exército Americano, podíamos usar a divisa V e do A, em vistosas cores azul e vermelho. Terminada a guerra e de volta a seus aquartelamentos de tempo de paz, cada unidade da FEB ganhou seu nome e símbolo, que os conscritos de hoje dizem e ostentam com orgulho e emoção.” (Costa O.,  1976, págs. 32 e 33)


“Perdemos 451 combatentes e tivemos 1.577 feridos e 1.145 acidentados, além de 58 extraviados; dos quais 35 caíram prisioneiros dos alemãs. As unidades que mais sofreram foram os regimentos de infantaria – o Primeiro, o Onze e o Sexto – nesta ordem, com, 144, 124 e 103 mortos. Dos 239 dias de sua presença na frente de combate, de 6 de setembro de 1944 a 2 de maio de 1945, a FEB defrontou-se com treze grandes unidades inimigas: três fascistas e dez nazistas. Capturamos 20.573 prisioneiros de guerra, dos quais 892 oficiais e 2 generais. Caíram em poder de nossos pracinhas 80 canhões de diversos calibres, 1.500 viaturas e 4.000 cavalos. (Costa, O.1976, pág. 76)

Cemitério onde foram sepultados os pracinhas brasileiros mortos, em Pistóia, Itália (Foto Internet)


Um comentário:

  1. Durante o tempo em que a cobra fumava na Itália, por dia, quase dois pracinhas morriam e mais de seis se feriam em combate mas, enquanto isso acontecia, cerca de 86 soldados alemães e italianos eram capturados diariamente, fora os mortos.
    Certo estava o Osório Duque Estrada: Verás que um filho teu não foge à luta.

    Não só não fugiram como se fizeram presentes e cumpriram com seu dever, não é Almirante. Barroso?

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