terça-feira, 28 de janeiro de 2014


1932: A Revolução Constitucionalista (segunda parte)

Getúlio embarca no trem com seu Estado Maior durante a Revolução de 32
Miguel Costa, Getúlio Vargas, Goes Monteiro e Francisco Morato

De novembro de 1933 a julho de 1934, o país viveu sob a égide da Assembleia Nacional Constituinte encarregada de elaborar a nova Constituição brasileira que iria substituir a Constituição de 1891. Após oito meses de discussões, finalmente, no dia 16 de julho de 1934, foi promulgada a nova Constituição, que, no entanto, teve vida curta. Ao mesmo tempo em que tentou estabelecer uma ordem liberal e moderna, buscou fortalecer o Estado e seu papel diretor na esfera econômico-social. O resultado não agradou a Vargas, que se sentiu tolhido em seu raio de ação pela nova carta.  Em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas anunciou a quarta Constituição da história do Brasil – mesma data da implantação do Estado Novo, por meio de um golpe de Estado. Com o final do Estado Novo, em 1945, a Assembleia Constituinte reuniu-se para formular uma nova Constituição, proclamada em 1946.

Em 9 de julho de 1932, não só a população de São Paulo entrou em clima de tensão pelo prenúncio da guerra civil que se anunciava. Todo o Brasil passou a viver, a partir desse dia, a mesma atmosfera de desassossego. A Imprensa noticiava, diariamente, os combates realizados dentro das fronteiras paulistas, provocando uma tomada de atitude de chefes militares e governadores estaduais, que se posicionaram na defesa de Getúlio e de seu Governo Provisório.

“Os interventores dos estados nortistas eram, então, nomeados por Vargas, sob forte influência do tenente Juarez Távora, principal líder civil e militar da região, durante a tomada de poder por parte dos revolucionários de 1930 e durante os primeiros anos do Governo Provisório. Essas novas lideranças, tão logo souberam que a grave crise política entre São Paulo e o Governo Provisório tomara o caminho das armas, passaram a se mobilizar, mostrando ao presidente que ele não estava só, e que esperavam recolocar o “Norte” no mapa político do país. Afinal, a Primeira República significara um período de distanciamento da região do centro político do poder.” (Lopes, R.H. 2009).
“Os interventores do Norte deixam claro em seus telegramas que, se para os paulistas a “Revolução Constitucionalista” era justa e necessária, para o Norte a “Guerra Paulista” tinha outros significados”. O conflito, nas palavras desses novos líderes estaduais, era uma “obra impatriótica”, uma “onda de anarquia que tenta aniquilar o país”, uma “masorca levantada pela ambição de politiqueiros”, articulada e liderada por “rebeldes de São Paulo, armados pelas mãos criminosas de políticos eivados de ambição”, que deveriam ser “execrados [na] opinião nacional”. (Lopes, R.H., 2009).
“O envio de tropas do Norte aconteceu com uma frequência impressionante. As primeiras tropas que partiram para o Rio de Janeiro – onde eram incorporadas às forças organizadas pelo Quartel-General, para só depois serem enviadas aos campos de batalha – saíram da Bahia e de Pernambuco ainda no dia 12 de julho de 1932. A última, formada por soldados cearenses, partiu em 30 de setembro. Os números desses embarques evidenciam o envolvimento do Norte na Guerra Paulista: ao todo, durante os 86 dias de conflito, partiram 58 tropas, o que correspondeu a um embarque de forças militares a cada um dia e meio! Tendo como base apenas os telegramas dos interventores que apresentam o número de soldados e oficiais enviados – já que nem todos têm essa informação –, encontram-se tropas compostas de apenas 100 soldados – sendo uma amazonense e outra sergipana – até 1.258 soldados pernambucanos, enviados no dia 6 de agosto. Numa avaliação preliminar, o Norte mandou para a guerra civil pelo menos 19.554 soldados, o que não é pouco. Se as tropas governistas envolvidas no conflito contaram com 55.000 soldados, conforme alguns autores, quase metade desse contingente foi de soldados nortistas mobilizados pelos interventores.” (Lopes, R. H., 2009)


6 comentários:

  1. Jose Alcides Porto Rossi via Facebook - Ludmila: Em Campinas, as tropas do Getúlio vindas do Nordeste, ficaram "guardadas" confinadas no Bosque dos Jequetibás por mais de trinta dias, lá comeram os aminais enjaulados e eram proibidos de sairem por ordem dos seus próprios comandantes, em face a sua periculosidade.Tudo isto porque o Gov Federal inventou um monte de histórias mentirosas a respeito da população paulista. Eles foram denominados de " Jagunços"e eram temidos pelos próprios comandantes, no que eles poderiam fazer a população local. Nada aconteceu e eles foram embora sem entrar em combate.

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  2. Jose Alcides Porto Rossi via Facebook - Ludmila: E de grande importância saber que em Campinas, nas estações da Paulista e Mogiana foram construídos os famosos TRENS BLINDADOS os quais, em combate, no inicio dizimaram as tropas federais em face a seu poder de fogo devastador.

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  3. Olá Jose Alcides Porto Rossi. O capítulo sobre a Revolução Constitucionalista, no livro, ocupa 15 páginas. Este é apenas o introito. Temos o depoimento do Gal. Zerbini que é fantástico e que publicarei na sequencia. Aprecio muito as suas intervenções, sempre tão oportunas. Não poderia escrevê-las diretamente no Blog, para que novas informações fizessem parte dessa história? Grande abraço da Ludmila

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  4. Elaine Rocha (Via Facebook) Meu bisavô foi um desses "nortistas".

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  5. Ô Elaine Rocha, e como foi essa história? Seu avô veio com as tropas nortistas e acabou fixando-se em São Paulo? Em que cidade? Os nortistas não foram hostilizados por conta de terem apoiado Getúlio? Interessante saber como foi a Revolução Constitucionalista para os que estavam do "outro lado". Beijos!

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  6. Elaine Rocha (via Facebook) Eu convivi com o meu bisavô, que morou conosco, quando ele morreu eu tinha uns 20 anos. Ele me disse que veio pra São Paulo pra defender São Paulo dos italianos que estavam querendo tirar São Paulo do Brasil. Aparentemente esta era uma versão corrente na época, entre os populares. Para os "nortistas" a forma de falar dos soldados paulistas era um "falar estrangeiro", ate' porque muitos deles eram filhos de italianos e também por isso a cor do cabelo, olhos e pele claros, tudo diferenciava dos "nortistas". Depois da Revolução meu bisavô ficou por ali, vivendo de biscates... Para a família, em Pernambuco ele estava desaparecido, o encontraram no inicio da década de 50, em Paratei do Meio onde tinha uma pequena venda de sitio.

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