quinta-feira, 2 de janeiro de 2014


Jacareí em 1906

Rua do Carmo, atual Pompílio Mercadante
1906 – Informações sobre a cidade no Anuário Histórico literário de Jacareí de Theófilo de Almeida e Costa Braga

“Limites: O município de Jacarehy, confina, ao Norte e a Leste, com o de São José dos Campos, pelo ribeirão denominado Rio Comprido; a Sudeste, com o de Santa Branca, pelo rio Parahyba; ao sul e sudeste, com o de Mogy das Cruzes, pelo rio Goiabal; a Oeste, com os de Santa Izabel e Patrocínio de Santa Izabel, pelo morro da Samambaia, Estrada do Funil. Rio Jaguary e Ribeirão de Santo Ângelo; a Noroeste ainda com o município de Patrocínio, pelo rio Jaguary, que também traça divisas com São José dos Campos.”
“Posição astronômica: A situação astronômica de Jacarehy é de 23 graus e 19’ latitude sul e de 2graus e 56’ longitude oeste do Rio de Janeiro. Está a 562 metros sobre o mar.”
“População: A população actual do município, calculadamente, porque não temos um recenseamento preciso que nos pudesse fornecer dados exactos, é de cerca de 15.000 habitantes, sendo que a população da cidade fornece para este total cerca de 5.000 almas.”
“Aspecto geral e clima: O município é geralmente ondulado e banhado pelo rio Parahyba, que o corta em duas partes eguaes, formando um valle fertilíssimo. Há poucas mattas, mas muito terreno inculto, próprio para diversas espécies de culturas. Não existem serras no município; há alguns contrafortes da Serra da Mantiqueira. Em rios, além do Parahyba, temos, também, o Jaguary, em cujo leito consta existir ouro, o do Peixe, o Rio Comprido, o Goiabal, os Quatro Ribeiros e alguns outros de menor importância.”
“Quanto ao clima e à salubridade nenhum outro o excede. Apezar de ter muitos terrenos alagadiços, mesmo perto da cidade, não há casos de moléstias de fundo palustre, senão excepcionalmente. As moléstias contagiosas e infecciosas, em geral importadas, morrem com os casos que aparecem, sem transmissão. Não se desenvolvem, atribuindo-se isto à influência dos ventos que, salutar e livremente, circulam em todo o município. As chuvas são abundantes e a temperatura nem desce de 16 graus, nem excede 25 graus à sombra, salvo casos raríssimos.” (Costa Braga, 1906, págs. 138/139)

Producção, commercio e indústria
“A principal produção do município é a de café e cereais. Ultimamente tem se desenvolvido muito, de modo animador e com optimos resultados para os cultivadores, a indústria açucareira. Entretanto, ao que nos consta, sem que saiba porque motivo, vae-se observando certo arrefecimento injustificável, o que, aliás, muito lastimamos. É uma triste e perigosa obsessão, que tem avassalado os nossos agricultores, a da monocultura do café; emtanto que é uma das taboas de salvação da lavoura paulista, inquestionavelmente, a polycultura. Ocioso seria expormos, aqui, os desastrosos efeitos deste pernicioso processo que, entre outros factores, tantos males tem causado a todas as classes, principalmente à classe agrícola do estado de S. Paulo. É preciso que se proclame, alto e bom som, trombeteando por todas as bocas, que o tal processo de plantar café, somente café, sempre café, muito e exclusivamente café...já deixou de ser fonte de riqueza fuctura, para tornar-se symptoma de... anomalia mental! Que o diga o Dr. Pereira Barreto.”
“Há diversas fabricas de aguardente, no município, produzindo grande numero de pipas anualmente.”
“O commercio de Jacarehy, que muitíssimo abatido se tornou depois de 1888, assim permaneceu durante alguns anos. Hoje, porém, por força de muitos elementos novos e cheios de seiva que entraram na corrente circulatória da vida Jacarehyense, facilmente se observa a sua notável animação, havendo numerosas casas commerciaes relativamente opulentas e notoriamente prosperas”
“A indústria, com as suas fabricas e com a turba edificante, barulhenta e numerosa dos seus operários (que tanto respeito e sympathia sóem inspirar-me!) constitue para esta nobre filha de Antonio Affonso, um dos seus mais formosos apanágios! De facto, entre outros institutos industriaes que confirmam o que foi, acima, enunciado, temos, ahi, as fabricas de meias dos Srs. Hoffman& Comp, do Sr. João Ferraz e do Sr. Julio Briant. Trez fabricas, sendo que só as duas primeiras podem, cada uma de per si, produzir diariamente 250 duzias de meias e ocupar 90 operários.”
“Instrucção. Vamos agora justificar porque, dentre as suas irmãs do chamado “Norte de São Paulo”, é a cidade de Jacarehy cognominada “a cidade Luz, “a Athenas Paulista”. E para maior clareza, devemos considerar a instrucção sob o seu duplo modo de ser ministrada: a instrucção publica e instucção particular. Tanto uma como outra têm, em Jacarehy, verdadeiros templos e sacerdotes. A instrucção pública, que chamaremos extensiva, é ministrada em numerosas escolas isoladas, distribuídas por todo o municipio, a centenares de creanças de ambos os sexos, e regidas por hábeis professores. A instrucção publica que, em oposição àquella, denominaremos intensiva, é magistralmente provida por um inteligente e dedicado corpo docente, que faz honra ao magistério paulista, tendo por officina, desse formoso e santo labor de trabalhar cérebros e corações infantis, o bello instituto que todos nós já aprendemos a amar – pelos fructos que tem produzido – o “Grupo Escolar Carlos Porto”, cuja direção, em boa hora, foi confiada à larga pratica, à inteligência culta e à notória competência de Costa Braga, um professor na altura de seu tempo. E aquella como esta, quer a das escolas isoladas, quer a do Grupo Escolar, devemol-as ao esforço, ao desvelo e ao constante zelo do Exmo. Sr. Coronel Carlos Porto, cujos traços inapagáveis de sua passagem pelo Congresso Paulista, de que é digno par, têm sido e serão os de sua defesa à instrucção publica, os de seu devotamento ao magistério publico do Estado.”
“A instrucção particular está instituída e personificada: está instituída no “Gymnasio Nogueira da Gama”, e está personificada no emérito educador Exmo. Sr. Dr. Lamartine Delamare.”
Jacarehy, 22-12-1905
ass: Oliveira Ramos (Costa Braga, 1906  págs. 139 a 144)

5 comentários:

  1. Foi-se o café e vieram as indústrias, que ficaram, e os biscoitos... que também se foram.
    Mas, fica um dúvida: 5.000 almas que a população da cidade fornece - os 10 mil restantes eram no campo ou o quê? Não me preocupo se alguém vai achar que a pergunta é idiota (acho que não existe isso) - o importante é ter qualquer dúvida dirimida e não ter receio de perguntar.
    Abraço!

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    1. O restante era, como vc mesmo concluiu, Carlos, a população rural.

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  2. Consta ai que a divisa de Jacareí com Santa Branca era o rio Paraiba, o que não ocorre nos tempos atuais, em que a divisa foi recuada alguns metros para dentro de Jacareí. Me recordo de comentários de quando ainda era jovem, que a alteração tenha ocorrido para que a barragem e a fábrica da então Inbrac passassem a pertencer a Santa Branca. Alguém sabe alguma coisa mais concreta a respeito?

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    1. Em seu livro 'Jacareí e as questões controvertidas', Claudio, O prof Benedicto Sergio Lencioni escreve um capitulo inteiro sobre os limites de Jacareí e Santa Branca. Diz ele:
      "O município der Santa Branca destacou-se do território de Jacareí pelas mesmas razões históricas que Jacareí se destacou das terras de Mogi das Cruzes.
      "Em 1852 o dr. Nabuco de Araújo apresentou relatório sobre as divisas de Santa Branca que eram as seguintes: Divide com Paraibuna pelo ribeirão do Salto - 4 léguas; com Jacareí, pelo Paraiba abaixo, 2 e meia láguas; com Mogi das Cruzes, prosseguindo até enconbtrar o ribeirão do Putim - 2 e meia léguas; com São José do Paraitinga, seguindo o SAerote acima - 3 léguas até encontrar as cxabeceiras do ribeirão do salto."
      "Um confronto das divisas de Jacareí, em 1844, com Paraibuna demonstra que Santa Branca conservou-a, isto é, a antiga divisa entre Jacareí e Paraibuna passou a ser a de santa Branca com Paraibuna. Em 1853 Santa Branca foi elevada a categoria de vila, conservando as mesmas divisas." "Em 1964 a divisa entre Jacareí e Santa Branca sofreu alteração pela lei 8092 de 28 de fevereiro de 1964. Por esta lei, Jacareí perdeu uma parte de seu território para Santa Branca. A divisa que era o rio Paraíba passou a ser a seguinte: começa no Rio Paraiba, na foz do rio Varador; desce por aquele até a foz do córrego da margem direita que desemboca junto à ponte da estrada de rodagem Santa Branca/Jacareí; sobe por esse córrego até sua cabeceira; alcança na contravertente a cabeceira de um córrego, pelo qual desce até a sua foz no rio Paraiba, no ponto onde o rio faz uma deflexão para passar junto à cidade de Santa Branca; desce pelo rio Paraíba até a foz do Ribeirão Putim." A partir de então as divisas não sofreram mais alterações.

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    2. Essa alteração de 64 foi feita porque um industrial, Dr. Roberto Ugolini, construiu à margem direita do Paraíba uma indústria chamada "Couraça" que produzia utensílios de alumínio. A indústria ficava em terras d Jacareí, mas empregava em sua totalidade mão de obra de santa Branca. Pela carência de indústrias em santa Branca, surgiu um movimento para anexar este pedaço de área, onde se situava a empresa, não havendo nenhum objeção de Jacareí. Esta área corresponde ao local onde está o River's mais toda a fazenda Jacira, onde se encontra a indústria. Não houve oposição das autoridades de Jacareí, e os novos limites foram demarcados sem problemas. É o que BSL nos conta.

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