segunda-feira, 6 de janeiro de 2014


Jacareí e a pandemia da Gripe Espanhola


A seguir, relatos de alguns jacareienses que presenciaram o caos que foi a pandemia da Gripe Espanhola em Jacareí:
Relato de Ubirajara Mercadante Loureiro:
"Em 1918, Jacareí sofreu muito com a epidemia da gripe espanhola. O Dr. Melo, que era o médico na cidade, ficou doente. Naquele tempo, eu trabalhava na farmácia do meu tio e fiquei como o farmacêutico da cidade. Eu não podia sair da farmácia. Eu, o Cândido de Mendonça, o Renato Egydio aplicávamos injeções e, à noite, levávamos os defuntos para o cemitério na carroça. Morriam 15, 20 pessoas por dia. As famílias deixavam os cadáveres nas calçadas que eram recolhidos sem documentos, sem uma identificação, sem nada. A mortalidade era tão grande que muitas famílias sepultavam os mortos na calçada mesmo. O caminhão passava apanhando os mortos que eram enterrados em valetas comuns, mas não dava conta. A medida de se enterrar na rua foi tomada porque muitas vezes demoravam-se três ou quatro dias para enterrar. Nas valetas, eram enterrados sem saber quem era quem. Essa gente simplesmente desapareceu. Foi uma coisa horrível!"
Relato de Dona Rafaela Mercadante de Azevedo:
"Em 1918, eu apanhei a famosa gripe espanhola e tive muitos problemas na garganta. Quase morri. A gripe espanhola matou muita gente em todo lugar e também em nossa cidade. Ela foi fulminante. Uma coisa horrível. A cidade ficava deserta não havia quem cuidasse dos doentes. Nas casas, famílias inteiras caíam de cama. Não dava tempo de enterrar os mortos que ficavam nas calçadas. Uma visão muito triste! Felizmente, quando o Dr. Pompilio ia lancetar minha garganta, não precisou, eu sarei."
Relato do Sr. Lauro Martins:
"No ano de 1918, que foi batizado como o ano dos quatro “G”, ou seja, da guerra, da geada, da gripe e dos gafanhotos, Jacareí presenciou fatos inusitados. A guerra estava, felizmente, lá bem longe, na Europa. Mas, a gripe, aqui, fez a sua mortandade impiedosa. A geada foi a maior de que se tem notícia. Geou tanto que, no meio do dia, ainda havia restos de geada nos quintais, e, para complementar, a nuvem de gafanhotos que, aos bilhões, escureceram os céus da cidade, devastando tudo que era plantação ou lavoura com sua fome voraz."

4 comentários:

  1. Como espiritualista, o que mais choca é o enterro sem qualquer referência.
    Como estariam esses espíritos hoje? Tenham eles muita Luz, alcancem a paz e possam trabalhar em prol da obra Divina.
    Não sei da fé de você, caro(a) leitor (a), mas...Eu acredito!

    ResponderExcluir
  2. Carlos, eu há muito que me desliguei das crenças de que entra no céu apenas aquele que tiver um enterro cristão. E os inúmeros mortos nas guerras, nas catástrofes, nas epidemias? E os mortos que não professam a religião cristã? E os índios massacrados pelos colonizadores? E os pagãos que habitavam a terra desde o seu início? Esta é uma discussão pra lá de interessante! Grande abraço!

    ResponderExcluir
  3. Os corpos largados na calçada lembram as cenas que vemos da peste negra durante a Idade Média, a epidemia devasta a população dos lugares por onde passa...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cara Patrícia. Pelo relato de meus entrevistados, e pelas pesquisas que fiz, essa endemia realmente deixou centenas de mortos por onde quer que tenha passado.Á época, ainda não tínhamos a medicina tão avançada para nos proteger. Realmente, se nos reportarmos para aqueles tempos, parece que entramos num filme de horror! Grande abraço!

      Excluir

Este comentário será exibido após aprovação do proprietário.