quarta-feira, 8 de janeiro de 2014


A moda no Brasil Colônia


A primeira peça de roupa que os indígenas recebiam dos padres da Companhia de Jesus era uma camisa, depois de haverem sido batizados. Segundo queixas dos jesuítas, muitos se deixavam batizar para só receber camisas. Sabe-se também que os jesuítas de São Paulo, certa feita, mandaram confeccionar camisas com as lonas gastas das velas dos navios para cobrir a nudez de seus indinhos. Na verdade, grande parte dos homens pobres contentava-se em viver com simples roupas de baixo feitas de algodão, camisa de fraldas soltas e ceroulas, largas e curtas, sempre as mesmas até se transformarem em frangalhos.
E nunca usavam nem meias nem sapatos, andando sempre de pernas nuas e pés descalços. Em inventários e testamentos seiscentistas achamos por vezes essa situação: famílias paulistas que produziam algodão de maneira doméstica só tinham como peças de roupa camisas e ceroulas. Estas afinal eram as roupas típicas do camponês europeu medieval, quando trabalhava no campo durante os dias quentes de verão. No Brasil, em razão do clima ameno do País, foi o traje que coube ao tropeiro, ao escravo negro e ao índio aculturado e ao branco pobre até meados do século XIX, suficientemente documentada por meio das descrições dos viajantes e da arte dos pintores e desenhistas estrangeiros que então nos visitavam.

Com relação às primeiras mulheres portuguesas moradoras em São Paulo, deveriam elas se vestir da mesma maneira que as escravas vistas na Capital da Metrópole, sem tirar nem pôr. Talvez em Piratininga o uso do sapato fosse ainda menos frequente do que em Portugal, país em que, como é sabido, as pessoas mais desfavorecidas do povo, até meados do século XX, ainda andavam sem sapatos  No planalto paulista, o contato com a cultura indígena deve sem dúvida ter reforçado essa tradição do campônio português. E não eram só campônios que andavam descalços no Brasil, o Padre José de Anchieta (1534-1597) garantiu que também “os mui ricos e honrados da terra” o faziam, pois esse era “o uso da terra". O historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), aliás, discorreu magistralmente sobre esse aspecto da cultura mameluca paulista em sua obra Caminhos e fronteiras (1957), chamando a atenção para o fato de que até os jesuítas dos primeiros tempos preferiam andar descalços.
CAMPOS, Eudes. Pequena contribuição para o estudo da indumentária dos primeiros paulistanos. INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO, 5 (27): out.2010. <http://www.arquivohistorico.sp.gov.br> 

Um comentário:

  1. Quando vemos as imagens de Bandeirantes calçando longas botas podemos dar asas à imaginação para tentar adivinhar o que realmente estavam em seus pés.
    No máximo, sandálias, creio eu.
    O calor no Brasil, contrastando com o frio europeu, teria mesmo de fazer abandonar as ceroulas e deixar as pernas nuas.
    Penso em uma mãe dando a ordem:
    - Menino, vá vestir sua camisa, hoje é domingo.

    ResponderExcluir

Este comentário será exibido após aprovação do proprietário.