quinta-feira, 31 de outubro de 2013


Ritos de passagem

Cemitério novo, em Petrópolis, foto de Pedro Hees (c.1870). Na primeira metade do século XIX, os enterros no interior dos templos foram proibidos em várias cidades brasileiras.
Com a proximidade da comemoração do Dia de Finados, posto aqui, para vocês, algumas curiosidades sobre como eram feitos os enterros no Brasil colônia, e também em Jacareí.
Reis (1991, pág.178*) afirma que havia uma divisão socioespacial que definia onde cada indivíduo deveria ser sepultado. O adro (área em volta da igreja), por ser gratuito e mais distante dos santos, era o local reservado para escravos e pessoas livres pobres. Já o corpo (parte interna da igreja) era o espaço onde eram enterrados indivíduos de mais prestígio e quanto mais importante, mais próximo do altar e, consequentemente, da salvação na vida eterna. No Brasil colonial, os sepultamentos  nas igrejas existiram até 1820, quando foram proibidos e começaram a se construir os primeiros cemitérios. Até então, somente negros e indigentes eram enterrados no chão.
Em seu artigo “A Morte no Brasil Colônia” Viviane Galvão  (JC on-line) escreve que:
"Durante toda a sua existência, o católico preparava-se para a morte deixando relatado em seu testamento as estratégias imaginadas para a salvação de sua alma.”... “As missas para os defuntos tinham o poder de abreviar o tempo passado no purgatório, trazendo grandes benefícios para a alma. Em Pernambuco, no século 18, um rico comerciante português tornou sua alma herdeira de todos seus bens; sua fortuna foi convertida em cento e vinte mil missas em intenção de sua alma.” (Galvão, V.JC on-line)

“Nos velórios coloniais, predominavam inúmeras crenças populares. O corpo era exposto, arrumado em cima de um estrado alto chamado de "tarimba" ou "essa", estando seus pés voltados para a rua. Quem chegava cumprimentava o defunto, saudando-o com água benta e tomando cuidado para não pronunciar o nome do falecido, pois poderia evocar sua alma, prendendo-a aqui. Esses velórios eram alegres e animados, contando com comidas e bebidas e, muitas vezes, com música.” (Galvão, V. JC on-line)

* J.J. Reis:  "A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do sec XIX"

"Porém, antes do sepultamento, merece menção o cerimonial e a simbologia para dar baixa à sepultura.
No caso das pessoas com maior posse, todas as formalidades eram estabelecidas antes da morte do defunto, que designava em testamento o local onde gostaria de ter sepultura, se numa tumba própria de sua irmandade ou em outro local privilegiado. Designava a quantidade de missas que deveria ter com o corpo presente; para quais pessoas e santos se diriam as missas (de acordo com a devoção do testador), pagando para tanto um valor ao padre vigário apenas quando se processava o inventário dos bens do defunto. Indicava, também, missas em intenção de sua alma e das almas do purgatório, de amigos e parentes, e o valor das esmolas a serem distribuídas para os pobres em sufrágio de sua alma. E, mais, solicitava o acompanhamento do corpo por vários padres residentes na paróquia, das cruzes das fábricas (estandarte da administração da igreja) e determinava a quantidade de mementos (música) a serem cantados na rua durante o deslocamento do corpo e qual a mortalha que cobriria o corpo."
Joaquim Roberto Fagundes, no blog www.valedoparaibaarquivoshistoricos.blogspot.com.br


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