Cemitério novo, em Petrópolis, foto de Pedro Hees (c.1870). Na primeira metade do século XIX, os enterros no interior dos templos foram proibidos em várias cidades brasileiras. |
Reis (1991, pág.178*) afirma que havia uma divisão socioespacial que definia onde cada indivíduo deveria ser sepultado. O adro (área em volta da igreja), por ser gratuito e mais distante dos santos, era o local reservado para escravos e pessoas livres pobres. Já o corpo (parte interna da igreja) era o espaço onde eram enterrados indivíduos de mais prestígio e quanto mais importante, mais próximo do altar e, consequentemente, da salvação na vida eterna. No Brasil colonial, os sepultamentos nas igrejas existiram até 1820, quando foram proibidos e começaram a se construir os primeiros cemitérios. Até então, somente negros e indigentes eram enterrados no chão.
Em seu artigo “A Morte no Brasil Colônia” Viviane Galvão (JC on-line) escreve que:
"Durante toda a sua existência, o católico preparava-se para a morte deixando relatado em seu testamento as estratégias imaginadas para a salvação de sua alma.”... “As missas para os defuntos tinham o poder de abreviar o tempo passado no purgatório, trazendo grandes benefícios para a alma. Em Pernambuco, no século 18, um rico comerciante português tornou sua alma herdeira de todos seus bens; sua fortuna foi convertida em cento e vinte mil missas em intenção de sua alma.” (Galvão, V.JC on-line)
“Nos velórios coloniais, predominavam inúmeras crenças populares. O corpo era exposto, arrumado em cima de um estrado alto chamado de "tarimba" ou "essa", estando seus pés voltados para a rua. Quem chegava cumprimentava o defunto, saudando-o com água benta e tomando cuidado para não pronunciar o nome do falecido, pois poderia evocar sua alma, prendendo-a aqui. Esses velórios eram alegres e animados, contando com comidas e bebidas e, muitas vezes, com música.” (Galvão, V. JC on-line)
* J.J. Reis: "A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do sec XIX"
"Porém, antes do sepultamento, merece menção o cerimonial e a simbologia para dar baixa à sepultura.
No caso das pessoas com maior posse, todas as formalidades eram estabelecidas antes da morte do defunto, que designava em testamento o local onde gostaria de ter sepultura, se numa tumba própria de sua irmandade ou em outro local privilegiado. Designava a quantidade de missas que deveria ter com o corpo presente; para quais pessoas e santos se diriam as missas (de acordo com a devoção do testador), pagando para tanto um valor ao padre vigário apenas quando se processava o inventário dos bens do defunto. Indicava, também, missas em intenção de sua alma e das almas do purgatório, de amigos e parentes, e o valor das esmolas a serem distribuídas para os pobres em sufrágio de sua alma. E, mais, solicitava o acompanhamento do corpo por vários padres residentes na paróquia, das cruzes das fábricas (estandarte da administração da igreja) e determinava a quantidade de mementos (música) a serem cantados na rua durante o deslocamento do corpo e qual a mortalha que cobriria o corpo."
Joaquim Roberto Fagundes, no blog www.valedoparaibaarquivoshistoricos.blogspot.com.br
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